Em memória do Prof. Rodolfo

Por Fábio Lopes*

Na semana passada, escrevi neste espaço que ficaria um tempo sem publicar artigos. Ocorre que a vida – e ainda mais a morte – não dá trégua, e por vezes somos obrigados a trair o que acabamos de prometer. 

Cá estou aqui novamente. O que me move é o falecimento do Prof. Rodolfo Pinto da Luz, três vezes reitor da UFSC, secretário municipal de Educação, presidente da Fundação Catarinense de Cultura e titular da SESu/MEC.

Fui seu adversário ao tempo em que formava uma corrente política sob a liderança do Prof. Nildo Ouriques. Isso, contudo, jamais me impediu de reconhecer a grandeza de sua biografia, muito menos a sua sabedoria e elegância.

Foi ele o maior quadro que esta universidade produziu em 65 anos de história.

Na recente sessão do CUn que achincalhou a reputação do Prof. Ferreira Lima, falou em defesa do fundador da Universidade outro grande ex-reitor, o Prof. Antônio Diomário Queirós. Foram-lhe dados exatos cinco minutos, ao fim dos quais a turba que ocupava a plateia – a quem os algozes terceirizam o trabalho sujo – interrompeu-o aos gritos. Premido pelos achaques da velhice, o Prof. Diomário perdeu o fio da meada. Com expressão melancólica, procurava inutilmente palavras nos abismos da memória. 

O homem velho é o rei dos animais, diz uma canção de Caetano Veloso. Não na UFSC hoje, onde quem manda é quem fala mais alto. 

O que vi no semblante do ex-reitor abruptamente silenciado foi a metáfora que faltava para sacramentar que a Universidade que conheci e à qual dediquei trinta e um anos de minha vida chegou ao fim.

A morte do Prof. Rodolfo é a reiteração de que toda uma era terminou. Não me reconheço minimamente nesta Casa que agora surge. 

Sigo apaixonado pela vida intelectual e pela docência. Mas a verdade é que já conto os dias para me aposentar. Nunca imaginei que fosse desejar o retirement. Tenho ainda seis anos pela frente. Vou suportá-los por puro estoicismo, como quem cumpre o dever triste.

É provável que os perpetradores do caos e da barbárie se dediquem agora ao que tem sido ultimamente a especialidade da UFSC: falsificar a própria história.

Foi assim depois do suicídio do Prof. Cancelier. Homenagens sem fim visam apagar o comportamento indizivelmente covarde que tivemos enquanto ele esteve preso (compare-se a nossa reação à da comunidade da UFMG quando, mais ou menos na mesma época, a reitora de lá foi injustamente detida).

Foi assim no recente julgamento do Prof. Ferreira Lima, durante o qual todos os argumentos contrários às teses dos acusadores foram ignorados, e o clamor por um exame mais cuidadoso e gentil do caso passou em brancas nuvens, em que pese o fato de que, com raríssimas exceções, ninguém leu o processo.

Será possivelmente assim nos dias seguintes  à morte do Prof. Rodolfo. Quem não o defendeu quando o CUn negou-lhe o título de professor emérito comparecerá ao seu velório com os olhos marejados. Já os que atacaram a sua biografia permanecerão em silêncio, à espera da hora em que a memória seletiva da instituição tratará de esquecer as iniquidades contra ele cometidas.

A velha UFSC está morta. Será enterrada com o Prof. Rodolfo. Uma nova UFSC nasceu. Espero que os parteiros saibam o que estão fazendo.     

*Fábio Lopes é diretor do CCE/UFSC

Artigo recebido às 11h36 do dia 3 de julho de 2025 e publicado às 11h55 do dia 3 de julho de 2025