A escolha do próximo reitor(a) da UFSC: a necessidade de reconstrução institucional

*Por Edson R. De Pieri

A Universidade Federal de Santa Catarina tem uma missão institucional clara: formar pessoas e produzir conhecimento de qualidade em uma universidade moderna, atuante, progressista e em sintonia com a sociedade. Para que essa missão se realize plenamente, a escolha do próximo reitor(a) não pode se reduzir a disputas corporativas ou a promessas vazias de inclusão.

O reitor(a) precisa ter capacidade política e acadêmica para liderar institucionalmente processos que assegurem essa missão, preservando princípios fundamentais como a pluralidade de ideias e opiniões, a liberdade de cátedra, a responsabilidade social e o compromisso da UFSC com o Brasil, com Santa Catarina e com um desenvolvimento socioambiental sustentável, inclusivo e soberano.

Diretrizes para o futuro da UFSC

UFSC voltada ao conhecimento – O reitor(a) deve garantir que ensino, pesquisa e extensão permaneçam como eixos indissociáveis do fazer acadêmico. Isso significa fortalecer a autonomia estudantil, a inovação pedagógica e o pensamento crítico, mas também enfrentar de forma séria o problema da ociosidade das vagas. É inadmissível que cerca de 40% das vagas nas universidades públicas estejam desocupadas, sem que haja uma política institucional robusta para reduzir esse índice. A UFSC tem um compromisso inegociável com aqueles que a financiam: o povo brasileiro. É dever da instituição honrar esse investimento, assegurando que cada vaga seja ocupada e oferecendo ensino público, gratuito e de qualidade, em sintonia com as demandas da sociedade.

Eficiência na gestão – É necessário assegurar uma administração transparente, descentralizada e colaborativa, com valorização dos técnicos-administrativos, revisão de estruturas e normas e maior agilidade nos processos, especialmente por meio da digitalização e da melhoria dos atendimentos.

Diversidade e inovação socioambiental – A universidade deve cultivar a pluralidade política e acadêmica, enfrentando os desafios contemporâneos com responsabilidade socioambiental, sustentável e inclusiva, sem ceder a polarizações que enfraquecem a comunidade.

Estatuinte universitária – É urgente reconstruir o tecido institucional e político da UFSC, com pactuações que reforcem a institucionalidade, democratizem as decisões e fortaleçam a autonomia.

Modernização pedagógica – As reformas curriculares devem atualizar conteúdos, metodologias e práticas, incorporando tecnologias, interdisciplinaridade e maior conexão com a realidade social, cultural e produtiva.

Diálogo com a sociedade – A UFSC deve aprofundar sua inserção social, valorizando a extensão, a cultura, o esporte e a interação com a educação básica, consolidando-se como referência em compromisso público.

Compromisso com a juventude – A formação estudantil deve ocupar o centro do projeto institucional, assegurando acolhimento, responsabilidade e protagonismo juvenil.

Compromisso com a inclusão social – A verdadeira inclusão só se concretiza quando todos os segmentos da comunidade universitária são respeitados e ouvidos. O próximo reitor(a) deve promover uma UFSC plural, democrática e participativa, rejeitando modelos de gestão que concentram poder ou criam divisões artificiais em nome de uma suposta inclusão. É inaceitável que promessas de inclusão sejam usadas como retórica para contemplar, de modo precário e insuficiente, grupos específicos, enquanto a infraestrutura permanece negligenciada, em prejuízo de toda a comunidade.

Conclusão

A escolha do próximo reitor(a) deve ser um momento de reflexão sobre os grandes desafios da universidade e da sociedade: a crise climática, as transformações no mundo do trabalho, os impactos da inteligência artificial, a evasão estudantil e o financiamento das universidades. O processo eleitoral deve se pautar pelo debate de ideias e pela busca de soluções que renovem o compromisso social da UFSC, promovam a gestão eficiente, combatam o corporativismo e fortaleçam a democracia interna, a diversidade sem exclusão e a centralidade da juventude.

Renovar a UFSC nesses termos é o caminho para consolidá-la como centro de excelência acadêmica, inovação e inclusão social, honrando seu papel histórico no desenvolvimento de Santa Catarina e do Brasil, em respeito a quem a mantém: o povo brasileiro.

Fazemos aqui um chamado a todas e todos comprometidos com nossa instituição para que se unam em um esforço coletivo de reconstrução institucional, capaz de romper com corporativismos e dogmatismos de qualquer natureza e de recuperar o orgulho de ser UFSC.

*Edson R. De Pieri é professor do CTC/UFSC

Artigo recebido às 16h20 do dia 15 de setembro de 2025 e publicado às 10h do dia 16 de setembro de 2025