*Por Ubirajara F. Moreno
No século XIX, o mundo assistiu ao chamado “Grande Jogo”, a disputa entre o Império Britânico e o Império Russo pela influência na Ásia Central. Na UFSC, há anos vivemos o “Pequeno Jogo”, a disputa permanente entre grupos pelo controle da Reitoria.
Embora se apresente como um processo democrático, a dinâmica da escolha de reitor pela consulta informal tem provocado paralisia institucional e esvaziamento do debate acadêmico. As gestões recentes passaram a agir com foco em garantir votos e alianças, e não em formular políticas de longo prazo. As últimas eleições revelam isso com clareza: portarias de jornada reduzida e promessas de trabalho remoto
substituíram a discussão sobre o futuro da Universidade, seu papel na sociedade e a formação dos estudantes.
Essa falta de propostas claras e mobilizadoras tem dificultado o engajamento de docentes e estudantes nos temas realmente importantes da Universidade. O ambiente político se empobrece, e a comunidade acadêmica se distancia das grandes questões institucionais.
O reflexo disso é visível também no Conselho Universitário, onde cresce uma sensação de apatia e, ao mesmo tempo, um comportamento tático: muitos conselheiros, em vez de pensar estratégias para o desenvolvimento da Universidade, passam a calcular os efeitos eleitorais de seus posicionamentos.
Essa lógica contaminou a atual gestão desde o início do mandato. As decisões da Reitoria têm sido marcadas por um raciocínio essencialmente eleitoral, voltado a agradar segmentos específicos em vez de fortalecer o projeto institucional da UFSC.
O recente rompimento oportunista de parte dos gestores, ocorrido às vésperas do maior evento de integração da Universidade com a comunidade — a Sepex, é apenas o reflexo mais visível desse mesmo pensamento: uma expressão direta do cálculo eleitoral que passou a dominar as ações da Reitoria.
O resultado é uma anomalia política que bloqueia o avanço da UFSC e distancia a instituição de sua missão pública. A única saída, a meu ver, é mudar as regras do jogo. Precisamos de um recomeço: adotar, na consulta informal, o voto universal, dando o mesmo peso a cada voto. Isso obrigaria as chapas a dialogar com todas as categorias — sobretudo com os estudantes — e a disputar o apoio da comunidade por meio de propostas acadêmicas consistentes e inspiradoras.
Com o voto universal, teríamos a oportunidade de recentrar o debate e as propostas das campanhas no que realmente importa: o Projeto de Universidade.
*Ubirajara F. Moreno é professor do Departamento de Engenharia de Automação e Sistemas da UFSC
Artigo recebido às 10h50 do dia 23 de outubro de 2025 e publicado às 11h30 do dia 23 de outubro de 2025
