UFSC Presente (de grego)

*Por Fábio Lopes

Na sessão do Conselho Universitário da última terça-feira, a vice-reitora decidiu ler a carta em que seu grupo político rompe com o reitor. O documento é quase inacreditável em sua desfaçatez.

Nas primeiras linhas, como se não tivessem nada a ver com o peixe, os signatários descem a lenha na gestão de que participaram. Ato contínuo, em conduta que beira o delírio, elogiam os próprios feitos. Sem mais, despedem-se, atenciosamente.

Fiel ao chefe, a pró-reitora de Extensão não deixou a inconfidência por menos. Ao cabo da apresentação pública da missiva, acusou a professora Joana e seus protegés de deslealdade. Acrescentou ela que, ao contrário do que afirmam, estes haviam sido demitidos por iniciativa própria, não por vontade do professor Irineu.

No chat do canal do CUn no Youtube, até o fleugmático ex-diretor de gabinete – que por três anos e meio despachou em sala anexa à do reitor – perdeu as estribeiras com a professora Olga: “Fake”, disparou ele.

Não era difícil prever que terminaria exatamente assim – inter faeces et urinam – o mais melancólico quadriênio na história da UFSC. Eu bem que mil vezes avisei que aquelas pessoas dançavam – por vezes literalmente – à beira de um precipício e iam acabar levando a instituição junto com elas para o buraco.

A chapa Irineu/Joana nasceu torta. Os dois, afinal, nunca tinham trocado duas palavras antes de se lançarem à aventura de dirigir a universidade. O pacto que celebraram nada tinha a ver com afinidades ideológicas ou de qualquer outra natureza. Na verdade, um viu no outro a chance de atalhar a própria ascensão ao poder, e nada mais.

Logo ficou claro que a precipitada aliança – movida, repita-se, por puro interesse eleitoral – reunia dois personagens radicalmente incompatíveis tanto em termos políticos quanto em personalidade. Ambos são extremamente vaidosos. Ocorre, no entanto, que, ao passo que a professora Joana se mostra publicamente como de fato é, o professor Irineu vive se escondendo sob a pele de uma suposta modéstia. O resultado desse choque de egos foi explosivo.

Com aquele seu jeito de quem não quer nada, o reitor cortava as asas de sua vice toda vez que ela ameaçava roubar a cena. A vice, por seu lado, tentava abrir caminho a cotoveladas, sem jamais se conformar com o fato de ter que beijar a mão de alguém que julgava muito menor do que ela.

Do ponto de vista intelectual, a falta de sintonia do casal era ainda mais evidente. O professor Irineu é um burocrata sem nenhuma ideia digna desse nome. Já a professora Joana gasta seus dias remoendo uma única ideia: a de que o combate ao racismo é a única coisa que realmente importa. Em suma, enquanto ele vive em um mundo completamente vazio, ela habita um universo totalmente preenchido por suas obsessões e certezas (o que a conduziu a atitudes tão disparatadas quanto faltar seguidamente a reuniões com os diretores de centro ou sair do grupo de Whatsapp em que estes discutiam com a Reitoria temas relacionados ao tedioso mas inevitável dia a dia da administração).

Irineu e Joana são como água e óleo. Um não tinha como entrar minimamente na onda do outro. Na universidade mesmo e nos grandes temas que a desafiam, nenhum deles perdia tempo pensando. Para que não se matassem, só havia um jeito: matar a oposição, exercer sobre ela toda a violência de que a relação entre os dois esteve desde sempre prenhe. Missão cumprida.

A UFSC hoje é um ambiente apequenado, silencioso, acovardado. O problema é que, depois que esvaziaram a sala, só eles sobraram no recinto. E aconteceu então o inevitável: a brutalidade da dupla, antes dirigida aos adversários reais ou imaginados, finalmente encontrou o seu verdadeiro alvo: um ao outro.

Vai piorar. Muito. Podem escrever.

Não por acaso, imediatamente depois da reunião do CUn, o reitor dividia a mesa de um bar com sindicalistas do Sintufsc – que, a meu juízo, deveriam preservar a independência da entidade em vez de confraternizar com o patrão – e o substituto da professora Joana, uma pessoa que o reitor tampouco conhece e que, a par de ter fingido estar na oposição até uns meses atrás, tem tudo para ser uma versão piorada da professora Joana.

Faz tempo que na UFSC a gente tem a sensação de que chegou ao fundo do poço. Mas o fato é que a marcha dos acontecimentos vai mostrando que é sempre possível descer um pouco mais. A degradação não tem limites. Ela não gera outra coisa que não seja mais degradação. É uma espiral em abismo que só pode ser contida se um terceiro – nós! – der um basta no vanerão.

Chega. Acabou. Que se vayan todos.

*Fábio Lopes é professor do CCE/UFSC

Artigo recebido às 11h25 do dia 29 de outubro 2025 e publicado às 12h20 do dia 29 de outubro 2025