A professora Marina Hirota explicou o termo tipping point
A ciência brasileira precisa entrar de maneira mais incisiva em pesquisas relacionadas ao tipping point – o ponto de não retorno – da Amazônia, não só para entender os diversos fatores envolvidos no processo como para ampliar as evidências disponíveis. A afirmação é do coordenador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), David Lapola.
Lapola mediou o painel “Hipóteses extraordinárias exigem evidências extraordinárias: Perspectivas em pesquisa, educação e ações sobre o tipping point da Amazônia”, na Zona Azul da COP30 na última quinta-feira, dia 13.
A sessão teve o objetivo de discutir o conhecimento atual sobre a possibilidade de ultrapassar um ponto de não retorno na floresta, abordando ações institucionais e coletivas de adaptação e o papel do ensino superior na redução de incertezas e na implementação de soluções.
Vindo das ciências exatas, o termo designa um momento crucial a partir do qual um ecossistema não consegue mais se regenerar, entrando em um outro estado de retroalimentação. A professora Marina Hirota, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), destacou que o termo tipping point tem variação ao ser usado, dependendo da especialidade do cientista.
“É importante, por exemplo, promover interação entre quem faz os modelos e quem está no campo. Como treinamos para que as pessoas queiram juntar modelo e ecologia? Mais do que nunca precisamos de mais gente conversando, inclusive fora da academia, porque senão daqui a pouco tudo pode começar a ser atribuído como ponto de não retorno”, afirma Hirota, que desenvolve estudo com representações algorítmicas da Amazônia para compreender por que certas porções da floresta são mais vulneráveis que outras, interligando diferentes disciplinas, como ecologia e antropologia.
Ao falar no painel sobre o conhecimento dos povos tradicionais, a indígena Kaiana Kamaiurá, do Xingu, disse que as comunidades indígenas não sabem o que é tipping point, “mas sentem na pele as mudanças climáticas”.
“Antes nosso povo contava o calendário para programar o plantio com a mudança das estrelas. Hoje, se usamos as estrelas perdemos o plantio por seca ou por chuva. Temos tentado adaptar, plantando em diferentes períodos para não perder a plantação. Pode parecer irrelevante em espaços de discussão maiores, mas essa é nossa forma de vida. As mudanças climáticas já estão em nossos territórios com os rios secando, os peixes desaparecendo e indo para outros lugares. Temos procurado nos adaptar para conseguir sobreviver.”
Já a pesquisadora Taís Gonzales destacou, entre outros pontos, a questão do racismo ambiental e como as mudanças climáticas têm impactos diversos para diferentes populações.
Fonte: Agência Fapesp
