Ato no varandão do CCE da UFSC homenageia Catarina Kasten e cobra justiça

Em carta, orientadora de Catarina destacou que a jovem “defendia com fervor” a docência emancipatória

Um grande ato no varandão do Centro de Comunicação e Expressão (CCE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi realizado na manhã desta segunda-feira, dia 24, em homenagem a Catarina Kasten, de 31 anos, estudante do Programa de Pós-Graduação em Inglês (PPGI). Ela foi estuprada e assassinada na trilha do Matadeiro, em Florianópolis, na última sexta-feira, dia 21. O feminicídio mobilizou a comunidade acadêmica da UFSC, que cobra justiça.

A vice-presidente da Apufsc-Sindical e professora do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução (PPGET), Karine Simoni, esteve presente.

Professora Alinne lembrou a trajetória acadêmica de Catarina (Fotos: Stefani Ceolla/Apufsc)

Docentes, estudantes, amigos e familiares de Catarina estiveram no ato. Alinne Balduino Pires Fernandes, coordenadora do PPGI, foi professora da Catarina desde a graduação e falou da dedicação da estudante à vida acadêmica. Aline contou que releu um trabalho feito por Catarina sobre feminismo no Afeganistão, em que relatava histórias de mulheres que não podiam andar pelas ruas pelo risco de serem mortas.

“Ela dizia que sentia sorte por ter nascido onde nasceu, porque ela nunca teve medo”, contou a professora.

Bastante emocionada, Alinne disse ainda que a sala de estudos do PPGI, que está sendo reformada, receberá o nome de Catarina Kasten. Flores também foram plantados no jardim do CCE em homenagem à estudante.

::: Nota da Diretoria: Apufsc-Sindical manifesta profundo pesar diante da morte de Catarina Kasten

Defendia a docência emancipatória “com fervor”

Alinne leu também uma carta escrita por Priscila Fabiane Farias, professora do PPGI e orientadora de Catarina, que está no exterior. “Você foi minha primeira orientanda, foi contigo que aprendia a orientar”, inicia a carta. Priscila destacou que a jovem “defendia com fervor” a docência emancipatória, e que acreditava na educação para uma sociedade mais igual.

“Saibam todos que Catarina Kasten era vida pulsante”, diz a carta da orientadora.

Na UFSC, Catarina entrou em contato com a pedagogia crítica, linha a qual se dedicava no mestrado.

Colega do mestrado leu texto sobre Catarina

O CCE decretou três dias de luto – de 24 a 26 de novembro – e a suspensão das atividades acadêmicas do Programa de Pós-Graduação em Inglês em respeito a colegas e às professoras e aos professores de Catarina.

Ela era natural de Joinville e morava em Florianópolis com o companheiro, Roger Gusmão, que esteve presente no ato desta segunda-feira.

“Eu achava que Florianópolis era a cidade mais segura do mundo”

Em um discurso comovente, Roger emocionou os presentes no varandão do CCE ao relatar a vida que levava com Catarina. “Do tanto que a gente é saudável, eu imaginava que ia morrer depois dos 90”, iniciou o companheiro da vítima de feminicídio.

Roger Gusmão, companheiro de Catarina

Ele falou da dedicação de Catarina aos estudos e à pesquisa, do plano de emendar o doutorado e do sonho de dar aula em uma escola municipal.

“Pensa no que a sociedade perdeu com Catarina”, lamentou.

Nascido em Minas Gerais, Roger conheceu Catarina em Florianópolis, onde decidiram morar depois de um tempo viajando pelo mundo. “Eu achava que Florianópolis era a cidade mais segura do mundo”, disse, e completou: “Para mim esse paraíso virou um inferno”.

Roger relatou a vontade de ir embora da capital catarinense, mas afirmou que pretende esperar o desfecho do processo de feminicídio. Giovane Correa Mayer, de 21 anos, foi preso na sexta-feira e confessou o crime.

O companheiro de Catarina cobrou ainda “políticas mais eficientes de prevenção” a crimes como este.

Stefani Ceolla
Imprensa Apufsc