Estudo baseou-se em um questionário com 908 pesquisadores de oito países
Estudo publicado na revista PLOS Biology por um grupo internacional de pesquisadores mostrou como o gênero, o idioma e a origem econômica dos cientistas afetam, de forma combinada, sua capacidade de publicar trabalhos científicos. Ser mulher está associado a uma redução de até 45% no número de papers publicados em inglês na comparação com os homens. Já o efeito cumulativo de ser mulher, não falante nativa de inglês e de viver em um país de baixa renda leva a uma redução de até 70% na produção científica, em comparação aos homens falantes nativos de inglês de nações de alta renda.
O artigo, divulgado em setembro, baseou-se na aplicação de um questionário a 908 pesquisadores em ciências ambientais com diferentes níveis de proficiência em inglês, provenientes de oito países: Bangladesh (106), Bolívia (100), Reino Unido (112), Japão (294), Nepal (82), Nigéria (40), Espanha (108) e Ucrânia (66).
“As mulheres recebem menos citações, ganham menos bolsas e têm menor probabilidade de se envolver em colaborações do que os homens. Elas também são mais propensas a interromper a carreira para cuidar de crianças”, escreveu o primeiro autor do estudo, o biólogo japonês Tatsuya Amano, pesquisador do Centro de Ciências de Biodiversidade e Conservação da Universidade de Queensland em Brisbane, Austrália, em texto publicado no site The Wire. “A produtividade científica é frequentemente medida pelo número de publicações do pesquisador em inglês. Mas essa métrica ignora os desafios enfrentados por muitos pesquisadores ao redor do mundo”, completou.
Amano é um estudioso do viés linguístico na produção científica. Em 2024, publicou com colaboradores um outro artigo, na revista Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, em que analisou as políticas de publicação de 736 revistas científicas de ciências biológicas e identificou barreiras impostas a autores que não têm o inglês como idioma nativo, como a exigência de que contratem serviços de empresas especializadas em edição ou tradução de textos científicos para assegurar que o conteúdo de seus manuscritos estejam expresso de forma clara e seguindo a norma culta inglesa.
No trabalho da PLOS Biology, ele incorporou à sua análise dimensões de gênero e de renda. Amano observa que os não nativos em inglês (homens e mulheres) dedicam, em geral, mais tempo à escrita de artigos e amargam uma probabilidade maior de ter seus trabalhos rejeitados ou devolvidos para revisão devido a problemas com a língua. Frequentemente, sofrem de ansiedade e da chamada síndrome do impostor, quando a pessoa sente que suas conquistas são resultado de sorte, e não de habilidades e mérito. Nem por isso eles são menos produtivos. Ao analisar as publicações em inglês combinadas com as em outros idiomas, o pesquisador e seus colaboradores constataram que cientistas de países de baixa renda e falantes não nativos de inglês costumam publicar artigos em quantidade maior, em comparação com seus colegas nativos de inglês e de alta renda no mesmo estágio da carreira.
Fonte: Revista Fapesp
