*Por Rafael Ary
Não foi um opositor, não foi um professor descontente, não foi um colunista de direita quem disse isso. Foi o ministro da Educação do governo Lula. Camilo Santana esteve na UFSC, visitou oficialmente os campi de Florianópolis e Blumenau, e afirmou, com todas as letras, que o dinheiro está chegando. Disse que não houve cortes, que os repasses estão regularmente em dia e que, corrigidos, os valores enviados hoje são maiores do que os de 2014. Arrematou com um dado sólido: o orçamento das universidades federais cresceu 63% nos últimos quatro anos.
Se alguém ainda tinha dúvidas sobre onde está o problema, o próprio ministro tratou de dissipá-las. Segundo ele, as dificuldades orçamentárias da UFSC devem ser explicadas pelo reitor Irineu Manoel de Souza e por sua equipe, não pelo MEC. Brasília enviou os recursos. A UFSC não conseguiu transformá-los em solução.
Não é falta de orçamento, é falta de gestão. A frase incomoda porque desmonta a desculpa confortável do reitor de que todo problema está em Brasília. Anos de decisões ruins, prioridades invertidas e disputas internas corroeram a capacidade administrativa da instituição.
A UFSC se acostumou a terceirizar a culpa, a romantizar sua própria desordem e a tratar qualquer crítica como ataque político. Só que desta vez quem aponta o problema não é a oposição. É o ministro da Educação do governo que muitos aqui defendem com fervor religioso.
Quando uma universidade pública entra em colapso, ela não leva consigo apenas seus gestores. Ela puxa para baixo toda a comunidade. A pesquisa perde qualidade. A extensão perde alcance. Os estudantes perdem oportunidades. Os servidores perdem condições de trabalho. A sociedade, que financia tudo isso, para de confiar na instituição.
O diagnóstico do ministro não deveria provocar um silêncio constrangido. Deveria provocar responsabilização. Mas, para isso, é preciso abandonar o vício da autocomplacência. É preciso admitir que a UFSC não está sofrendo por falta de dinheiro, mas por falta de direção. Nenhuma universidade afunda por causa de críticas, ela afunda quando não consegue mais reconhecer seus próprios erros.
*Rafael Ary é professor do CCE/UFSC
Artigo recebido às 9h21 de 11 de dezembro de 2025 e publicado às 10h18 do mesmo dia.
