Os países que investiram pesadamente no mercado interno sofreram menos com a crise e estão saindo mais facilmente dela. Esse fato não é mais negado nem mesmo pelos economistas ultraortodoxos, que ainda criticam e se opõem aos incentivos fiscais e monetários. Não só economistas isolados, não. O Banco Central Europeu e, de certa forma, o japonês também. Ainda na semana passada esse foi o tema principal da reunião dos G-8, que não decidiu nada que se possa levar a sério.
Mas os últimos indicadores econômicos do Brasil, da China e dos países asiáticos mostram que sem estímulos fiscais, sem redução de juros e financiamento generoso ao consumo, eles não estariam na relativamente boa situação em que se encontram. Enquanto EUA, Europa, Japão patinam na recessão, o Brasil está saindo dela e a China nem foi atingida.
Como se trata de um tema ainda polêmico, achamos importante apresentar esses indicadores para mostrar que quem não se perdeu em discussões acadêmicas e ousou, acertou. A propósito, em sua edição de 27 de julho, a revista britânica The Economist, faz uma analise dessa política fiscal e financeira, mostrando que o grande dilema dos países asiáticos – e nosso também – não é sair da recessão mas achar mais compradores em seus mercados. Sim, gente que não tenha tanto medo do futuro, que confie mais, que compre mais, que gaste mais. Essa é a saída mais eficiente da recessão ou, no caso da China, de voltar a crescer nos níveis anteriores à crise.
BRASIL, MAIS CONSUMO
Antes de apresentar os indicadores da Ásia, convém destacar o índice que mede o consumo interno no Brasil. Após meses de retração, as vendas do comércio varejista em maio cresceram 0,8% ante abril e 4% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Vinte instituições financeira estimavam aumento de apenas 0,2% em maio e de 2,6% em relação a 2008. Mais representativo como a expansão do consumo, as vendas no segmento de supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo cresceram 6,7% em maio em relação a abril. São dados do IBGE, sempre atrasados de dois meses, porém mais confiáveis. Para o instituto, isso é consequência do aumento da massa salarial proporcionado pelo salário mínimo, a renda família e o comportamento dos preços. Há também o recuo das demissões e um retorno, ainda lento, das contratações.
É talvez por isso que todos os institutos internacionais têm sido unânimes em prever que a economia brasileira deve sair da recessão neste ano e crescer. Para a OCDE, cito apenas um, recuar apenas 0,8% neste ano e crescer 4% em 2010, ao contrario dos países classificados como “mais desenvolvidos”.
ÁSIA BUSCA CONSUMIDORES
Então, somos os “bacanas” do mundo? Não. A Ásia tem feito um papel ainda mais bonito. E não falo só da China. De acordo com análise do JPMorgan, o PIB médio asiático deve ter crescido 7% no segundo trimestre. A produção industrial em maio, anualizada, de Taiwan aumentou 80%. Os asiáticos, como nós, foram bem menos atingidos pela crise. Sentiram mais a retração do consumo.
Mas, nos últimos seis meses, estão revertendo essa situação, investindo pesadamente no aumento da demanda interna, com politicas de incentivo. Na China, India e Indonésia, os gastos dos consumidores cresceram em média 5%. Na China, em maio, as vendas ao varejo cresceram 15% em relação ao passado. Eletrônicos, mais 12%, roupas, 22%. Carros: 47%! O governo chinês acredita que, com essa política agressiva, o PIB deve crescer um pouco mais de 7% bem acima da estimativa oficial de apenas 5% feita no início do ano.
O DESAFIO DELES…
Mas eles enfrentam o desafio de aumentar a demanda interna. No últimos cinco anos, o consumo dos asiáticos aumentou 6,5% em média, mas isso não representa muito, pois se relaciona com um consumo anterior baixo. De fato, ele representa entre 50% e 60% do PIB.
NÃO É TANTO O NOSSO
Esse é um desafio que o Brasil já vinha enfrentado com êxito bem antes da crise. Há pelo menos quatro anos, a demanda interna passa a sustentar o crescimento econômico, que foi surpreendente, passando de 5%.
Hoje, ela responde por pouco mais de 60% do PIB. Também muito antes deles, inclusive da China, começamos a adotar medidas anticíclicas mesmo antes de a crise nos atingir.
Eles, os asiáticos, iniciaram agora o que se poderia chamar de “a caça aos consumidores”. Os nossos já tinham sido caçados, já estavam presos na rede do consumo. Com a recessão, alguns fugiram, mas, dizem os indicadores, já estão voltando atraídos pela redução de impostos – só nós fizemos isso, de verdade – crédito, prazos, maior renda.
Então, somos os bacanas do mundo? Não. Só acordamos mais cedo e fomos ajudados pela imensa vantagem de um mercado financeiro sólido, limpo, um mercado imobiliário pequeno, mas saudável, e um endividamento interno das famílias equilibrado. Nada disso existia nos países desenvolvidos e ainda não existe.
Então, somos os “bacanas”do mercado? Não. Apenas os mais prudentes numa economia menor e mais fácil de ser administrada.