Número de estudantes indígenas no ensino superior cresce, mas grupo enfrenta desafios para se formar

Alunos lidam com barreiras culturais, preconceito e podem precisar de mais tempo para concluir os estudos

As universidades brasileiras nunca receberam tantos estudantes indígenas quanto atualmente. Dados do Censo de Educação Superior do Ministério da Educação mostram que, em 2022, havia cerca de 70 mil alunos de centenas de etnias matriculados em instituições de ensino superior (29% em públicas e 71% em privadas) – em 2009, eram 11,4 mil. A expansão obrigou as instituições a se organizar para promover a inclusão e responder às demandas desse novo público, mas também gerou tensões e atritos. Entre as barreiras enfrentadas pelos alunos indígenas, algumas são bem conhecidas pelos demais estudantes, como os problemas para se sustentar financeiramente ou dificuldades para acompanhar os estudos, assim como situações de isolamento. Mas também há entraves de caráter cultural, relacionados, por exemplo, a lacunas na proficiência em língua portuguesa ou à pouca familiaridade com a vida urbana e questões do ambiente acadêmico relativas a prazos. Os estudantes relatam, ainda, episódios de preconceito e afirmam que não se sentem culturalmente representados nos currículos dos cursos e na composição do corpo docente.

“Os indígenas são o grupo cuja presença, em termos relativos, mais cresceu no ensino superior neste século, o que demonstra que eles têm um grande interesse em dar continuidade aos estudos”, avalia a pedagoga e antropóloga Chantal Medaets, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ela coordena o Observatório Indígenas e Quilombolas no Ensino Superior (Obiques), que mapeia ações afirmativas nas universidades públicas do país.

Uma dificuldade de atender às demandas, segundo ela, é que se trata de um público muito diverso. “Há desde estudantes que vieram de comunidades distantes, dentro de terras indígenas, até jovens que moravam e trabalhavam em grandes cidades. Alguns já cursaram outras universidades. Cada trajetória é única”, destaca Medaets. A Unicamp tem cerca de 500 alunos indígenas e, desde 2018, promove um vestibular específico para eles, com uma oferta anual de 130 vagas. Desde 2022, o processo é realizado em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Nas provas, a redação versa sobre temas do cotidiano dos candidatos e as questões discursivas buscam utilizar textos de autores de povos originários.

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