Por Comissão para Implementação das Recomendações do Relatório da Memória e Verdade da UFSC*
A Reunião do CUn do dia 17 de junho de 2025 decidiu retirar o nome do ex-Reitor João David Ferreira Lima do nome do Campus da UFSC, voltando a ser nomeado Campus Trindade. A decisão foi por 56 votos de conselheiros a favor e 8 contra, o que corresponde a 87,5 % dos presentes a favor e 12,5% contra (e ainda considerando a totalidade dos 69 conselheiros possíveis 81,2% a favor). Num ambiente universitário sociologicamente diversificado não há como duvidar da representatividade desta votação que, alguns dentro e fora da Universidade, em artigos e declarações insistem em qualificar de esquerdista.
Esta decisão ocorreu após 5 reuniões do Conselho nas quais foram disponibilizados documentos históricos de diversos arquivos (entre outros do Arquivo Central da UFSC e dos arquivos do SNI fornecidos pelo Arquivo Nacional) e apresentados os argumentos da Comissão Memória e Verdade e da Comissão para o Encaminhamento das Recomendações da CMV-UFSC e também da família do ex-Reitor e de seus apoiadores. Farta documentação foi fornecida por ambos os lados para os Conselheiros e a Comunidade, sendo provavelmente uma das decisões mais discutidas no Conselho e na Comunidade. Reações epidérmicas e declarações de votos posteriores por via de artigos ofendem os colegas conselheiros, professores, servidores técnicos-administrativos e estudantes quando afirmam sem provas e com má fê que estes não leram os documentos fornecidos e se manifestaram sem conhecimento de causa. Tais manifestações desprezam a capacidade de colegas conselheiros em informar-se e colocam, de forma leviana, dúvidas a respeito da probidade destes. Além disso, tais afirmações semeiam dúvidas sobre decisões passadas e futuras do Conselho, numa ação desestabilizadora não apenas da atual administração da UFSC, mas da própria Universidade.
Não deixa de ser curioso, o ato de última hora, antes da Associação de Professores, tentando consultar os professores filiados, sem debate anterior, através de uma votação que mobilizou apenas 25% dos filiados (da ativa e aposentados). Destaca-se ainda a insistência nesta posição, mesmo após a decisão do CUn em entrevista em coluna de jornal. Causa estranheza a defesa do voto em urna de parte da comunidade de professores, os que são filiados, considerando que parcela significativa do corpo professoral da UFSC não faz parte da referida Associação. Mas causa mais estranheza ainda, o não reconhecimento da representatividade do CUn no processo decisório da Universidade ou será que esta representatividade varia segundo o tema tratado? Cabe perguntar: proponha-se com isso que este procedimento de consulta prévia seja adotado para outros pontos de pauta do Conselho? Pretende-se mudar in fine o Estatuto da UFSC para adotar este novo procedimento de “democracia direta” para todas as decisões da UFSC, ou só para algumas?
Enfim, apesar do contraditório ter sido sempre garantido no âmbito do Conselho, a autodenominada “sociedade florianopolitana”, ou seja a parte mais abastada da população de Florianópolis, orquestrada pela Associação-Movimento Floripa sustentável, por jornalistas tradicionais do periódico ND+, por vários políticos do campo majoritário da Câmara de Vereadores e pela FIESC, exerceu uma forte pressão sobre o Conselho Universitário, usando de discursos e argumentos distorcidos que visavam contestar a realidade dos documentos apresentados pelas duas Comissões. Manifestações ruidosas e desrespeitosas nas várias sessões do Conselho foram o rosto truculento desta “sociedade florianopolitana” pressionando para influenciar a decisão soberana da UFSC e de seu órgão de decisão máximo, que estava exercendo a sua autonomia conforme prevista na Constituição, com o intuito que este se curvasse a visão “branda” do período da ditadura que esta “sociedade” tem.
Passada a sessão do dia 17 de junho, insatisfeitos com a decisão clara do Conselho Universitário, políticos florianopolitanos estão ainda propondo projetos de Lei para a Câmara de Vereadores com vistas de dar o nome de João David Ferreira Lima a uma praça ou a um improvável “bairro universitário” contendo apenas a Universidade, e obviamente dando a maior publicidade nas suas redes sociais propagandistas. Surge também de forma extemporânea o questionamento de uma deputada catarinense ao Ministério da Educação a respeito de uma decisão do CUn da UFSC que para o MEC será provavelmente vista apenas como um cabeçalho diferente nas cartas recebidas da Universidade, enquanto se esperaria desta deputada preocupada com a UFSC que cobrasse mais verbas para ajudar a manter uma das melhores universidades brasileiras. Finalmente as contestações à decisão do CUn por alguns professores em jornais da Associação de Professores e até num jornal de Minas (!?) utilizam argumentos que desprezam os colegas que tomaram a decisão. Ademais, colocam no mesmo nível, numa tentativa confusa de análise sociológica e histórica, políticos “filhotes da ditadura” e estudantes da época que organizaram a resistência a esta em tempos tão difíceis. A Memória se constrói em cima de fatos comprovados e não há como negar o apoio dos primeiros à ditadura e os benefícios que retiraram deste, enquanto os outros estavam sendo, ao mesmo tempo, considerados como párias, terroristas e eram perseguidos e as vezes torturados ou mortos.
Esta Comissão espera que enfim os espíritos se acalmem, que se respeite a decisão soberana da UFSC e de seu Conselho Universitário, como vem ocorrendo com o reconhecimento da lisura do processo decisório apontado nas últimas decisões judiciais das ações impetradas pela família Ferreira Lima e que finalmente possa se dar as condições para a implementação das doze recomendações da Comissão Memória e Verdade da UFSC, aprovadas pelo Conselho, que aprimoram o processo de construção da Memória desta Universidade. Finalmente, nossa esperança é que um dia possa acontecer, em conjunto desta vez, similar esforço e mobilização na Universidade e na cidade, incluindo as camadas mais abastadas e politicamente influentes da sociedade, em prol da UFSC e de sua manutenção, tão importante para o desenvolvimento do Estado e do País e para o bem-estar de toda a sua população.
*Enviado pela Comissão para Implementação das Recomendações do Relatório da Memória e Verdade da UFSC
Artigo recebido às 13h03 do dia 10 de julho 2025 e publicado às 9h12 do dia 11 de julho de 2025
