A morte lenta da democracia na UFSC

*Por Fábio Lopes

Na semana passada, circulou uma entrevista do Reitor em que, perguntado sobre a mudança do nome do campus, ele afirma que houve “apenas três ou quatro votos contrários à proposta, todos pela via virtual”.

Pelo que é dito mas também pelo que é ocultado, tudo é tão errado em sua manifestação que é até difícil decidir por onde começar a criticá-la. Vamos por partes.

  1. Na verdade, os votos contrários foram oito.
  2. Um dos que votaram pela rejeição da matéria – o relator do pedido de vistas – estava presente no Auditório Garapuvu.
  3. Os que votaram virtualmente – eu, inclusive – assim o fizeram por temerem represálias dos apoiadores da mudança do nome do campus. O reitor espertamente não se refere ao fato de que, mercê de sua incapacidade (e/ou desinteresse) de colocar ordem no galinheiro, o CUn – não pela primeira vez – fora transformado em um circo de horrores. Gritos, vaias, palavrões e coação física viraram o novo normal nas sessões em que assuntos mais sensíveis são apreciados.
  4. Qual o problema de os votos serem virtuais? Acaso eles valem menos por isso? Estaria o reitor acrescentando mais uma regra arbitrária ao funcionamento do Conselho – a de que só os votos presenciais merecem verdadeira consideração?
  5. Nesse caso, o que dizer da sessão em que vergonhosamente se rejeitou o título de professor emérito a Rodolfo Pinto da Luz às vésperas de sua morte? Se bem me lembro, o reitor teve a sua sala invadida por manifestantes e, em ato de suprema capitulação, foi presidir os trabalhos virtualmente de sua residência. Isso, sim, é vergonhoso.
  6. De resto, confronte-se a sua clara tentativa de desmerecer os conselheiros que votaram virtualmente com outro fato: o de que ele e vários outros membros de sua gestão receberam da Câmara Municipal a Medalha João David Ferreira Lima nos últimos dois anos, quando já tinham pleno conhecimento das razões que supostamente os levaram a apoiar a mudança do nome do campus. Não me consta que tenham devolvido a homenagem.

A manifestação de nossa liderança máxima – com seu mal disfarçado desprezo pelos conselheiros dissidentes, pelos fatos e pela verdade – é uma boa medida da deterioração da democracia na UFSC. Democracia certamente é sobre a vontade da maioria mas também, e principalmente, sobre respeito e proteção às minorias. Democracia é sobre ser transparente sempre, tanto mais quando um tema delicado está em tela. Democracia é sobre preservar regras, não sobre comemorar vitórias obtidas à custa do sacrifício de regimentos e estatutos.

Também na semana passada, veio à baila outro sintoma claro de que a democracia na UFSC vale cada vez menos. Ofício assinado por burocrata de segundo escalão informa a um diretor de centro eleito que meia hora das aulas em sua unidade de ensino será prejudicada por um show que fará parte da programação da SEPEX. A decisão, diz ainda o documento, foi tomada pela comissão organizadora do evento. 

Assim é que agentes públicos menores avocam para si poderes obviamente abusivos e simplesmente comunicam o que decidiram ao arrepio dos parâmetros hierárquicos que organizam a instituição. O diretor do centro, por sua vez, limitou-se a passar a informação adiante, como se suas atribuições não estivessem sendo vilipendiadas.

E já que estou tratando dos abusos cometidos na UFSC só nos últimos dias, vale mencionar outra pérola da burocracia local recentemente veiculada: uma circular também assinada por membro de baixa patente da gestão dá conta de que docentes e TAEs terão que decidir abruptamente entre três planos de saúde, um dos quais nem mesmo sabíamos que existia como alternativa até a publicação do referido documento. Mais importante ainda: na esteira da entrevista do reitor – que esconde o que não interessa –, a tal circular escamoteia a informação de que as tais opções (todas ruins, por sinal) decorrem do fato de que a Reitoria não conseguiu licitar um novo plano de saúde, deixando-nos à mercê do que os humores do mercado oferecem. 

Falamos muito sobre a crise das democracias no plano federal e no mundo. Não tratamos, no entanto, da crise da democracia que acontece na UFSC, bem debaixo de nossos narizes e ao alcance de nossas mãos. 

Nesta semana, a destruição da democracia na Universidade terá novos capítulos, podem esperar.

*Fábio Lopes é professor do CCE/UFSC

Artigo recebido às 12h32 do dia 13 de outubro 2025 e publicado às 13h10 do dia 13 de outubro 2025