COP30: “O protagonismo das universidades tardou, mas chegou”, afirma cientista

Em entrevista ao RealTime1, professora Marilene Corrêa destaca que 70 universidades da Amazônia se uniram para apresentar à COP30 uma agenda de soluções que funde ciência e conhecimento tradicional

A professora Marilene Corrêa da Silva Freitas, uma das mais proeminentes cientistas sociais da Amazônia, tem participado ativamente das atividades preparatórias à COP30 — conferência do clima da ONU que será realizada em novembro, em Belém (PA).

Sua atuação inclui debates, palestras, mesas-redondas, workshops e a elaboração do documento entregue à presidência da COP30, representando 70 instituições de pesquisa, universidades e lideranças sociais e étnicas da região.

Professora titular do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), doutora pela Unicamp e pós-doutora em Sociologia pelas universidades Sorbonne, Gustave Eiffel e Caen, na França, Marilene Corrêa é referência nacional nos estudos sobre desenvolvimento, epistemologia amazônica e políticas públicas.

Ela concedeu entrevista ao RealTime1, analisando o papel da Amazônia nas negociações internacionais e os riscos de exclusão social e política na governança climática global.

RealTime1: A Amazônia é frequentemente tratada como objeto das políticas globais. A senhora acredita que a COP30 pode realmente inverter essa lógica e fazer da região um sujeito do debate?

Marilene Corrêa: A inversão já está acontecendo através de distintos instrumentos, reuniões, documentos, debates, interações entre distintos sujeitos, grupos humanos, etnias, grupos urbanos e populações da floresta. Ela se deu também através do documento que foi apresentado ao presidente da COP, André Corrêa do Lago, no dia 5 de agosto, aqui em Manaus, onde 70 instituições universitárias, centros de pesquisa e organismos de desenvolvimento, junto com lideranças da sociedade civil, lideranças étnicas, ambientais e de governança dos lugares mais isolados da Amazônia, apresentaram um documento em que os seis grandes eixos que serão debatidos na COP foram discutidos com soluções inovadoras. Essas propostas trazem convergências entre conhecimento científico e conhecimento tradicional, assumindo um ponto de vista epistêmico da diversidade de abordagens cosmológicas. Incluímos os saberes, as formas de adaptabilidade e as soluções milenares que os povos originários já trouxeram para a Amazônia e criaram esse ambiente natural e histórico que é a Amazônia de hoje. Então, essa inversão eu creio que já aconteceu — e ela vai se tornar mais visível ainda na realização da COP.

Leia na íntegra: RealTime1