O silêncio das sisters (e dos brothers)

Por Fábio Lopes*

Em meu último artigo, relatei e analisei o grotesco espetáculo proporcionado pela Reitoria na sessão de terça-feira do Conselho Universitário. O episódio – eivado de acusações recíprocas e guerras de narrativas – revelou as vísceras de uma gestão que chafurda em seu próprio embotamento e em seus conflitos de egos.

Faltou mencionar os inacreditáveis ataques desferidos pelo representante da Pró-Reitoria de Pesquisa, apoiador do grupo dissidente, à Pró-Reitora de Extensão, que defendera os que permaneceram em seus cargos.

O homem estava fora de si. Aos gritos, ele repetia que não tinha medo da colega, transformada agora – agora? – em inimiga. 

A cena tinha seu quê de ridículo. Afinal, não é todo dia que se vê um marmanjo investido de responsabilidades públicas ameaçar outra pessoa com fraseados que lembram as brigas entre moleques em porta de escola. Que sentido fazia dizer aqueles impropérios à Profa. Olga? Nem vou me referir ao fato de que, embora ela tivesse criticado os adversários, tomara todas as precauções para não ofendê-los pessoalmente.

O fato, contudo, é que não podemos dourar a pílula reduzindo a brutalidade do conselheiro a um esquete de humor. O seu ato foi mais do que derrisório. Tratou-se de um caso de misoginia no sentido pleno da expressão.

Há um motivo para que eu tenha esperado alguns dias para fazer referência a esse momento deplorável da reunião. É que fiquei esperando que feministas e simpatizantes saíssem em defesa da Profa. Olga ou encabeçassem um voto de censura a seu agressor. Nenhuma voz, no entanto, se levantou para proteger a sister.

Parece claro que os interesses políticos preponderaram sobre as convicções a respeito das relações de gênero. Proteger a Profa. Olga significaria enfraquecer um representante das hostes que estão deixando a Reitoria, com quem, regra geral, as lideranças feministas mantêm relações estreitas.

Imaginem se a tentativa de intimidação à Pró-Reitora partisse de outra pessoa – por exemplo, um conselheiro sem vínculo com a esquerda ufisquiana. Podemos estar certos de que ele seria execrado. Desconfio de que até um processo disciplinar seria aberto para apurar sua conduta. Falo de cadeira, como alguém que, mercê das observações faço sobre a vice-reitora qua administradora (bem mais leves, aliás, do que as que endereço ao reitor), tem sido acusado de machismo e racismo até por amigas minhas, que me conhecem há mais de trinta anos e sabem de meu compromisso com valores civilizatórios.

O fato é que o feminismo universitário não passou na prova dos nove. No calor da hora, nenhuma pessoa ligada às lutas pelo direito das mulheres censurou a violência de gênero de que a Profa. Olga foi vítima. Mesmo depois do incidente, quando os ânimos arrefeceram, ninguém disse uma palavra em favor dela. Preferiu-se o cálculo político mesquinho, o interesse eleitoral, as afinidades pessoais aos critérios republicanos, a boa e velha prática de julgar os atos não por sua natureza mas levando em conta as credenciais do agente.

Por coincidência, um representante da direita da cidade esteve no campus no dia seguinte à sessão do CUn. Entrou em choque com membros da comunidade acadêmica e foi, por isso, objeto de notas de repúdio que tornaram o silêncio em torno das ameaças à Profa. Olga ainda mais eloquente e vexatório.

*Fábio Lopes é professor do CCE/UFSC

Artigo recebido às 10h10 do dia 31 de outubro 2025 e publicado às 14h36 do dia 31 de outubro 2025