O discurso de Eva Vlaardingerbroek: o que deixa de dizer

*Por Edmundo Lima de Arruda Jr.

O discurso de Eva Vlaardingerbroek diz muito sobre uma realidade preocupante e o fato de ser uma Doutora em Direito vinculada aos ultraconservadoras na Holanda (e na Europa) não a deslegitima ao direito de se expressar. Deve ser ouvida atentamente. Erra a esquerda em lacra-lá apressadamente como “princesa ariana”, “serva da direita radical”, “nacionalista branca” e até mesmo foi chamada de “fascista”. Sua fala deve ser contextualizada no dito e não dito.

A imigração desordenada é um problema para qualquer país. Ela tem constrangido europeus e não europeus na medida de recrudescimento nas políticas migratórias, decorrentes dos convulsos ambientes de crises múltiplas que se acumulam há um século. Entretanto, estudos mostram que a vinda de estrangeiros para outros países foi parte da construção de nações poderosas como os EUA dentre outras após o horror do escravismo.

Receber imigrantes foi e ainda é algo salutar para a ordem econômica em sua história, malgrado os colonialismosce imperialismo. Pois é disso que se trata, basicamente de um passado que se vincula às desordens políticas, sociais e agora pipocam mundo afora. Trump é a caricatura desse estertor de impérios em declínio.

Nos eventos pós-guerras a mão de obra de imigrantes foi fundamental na reconstrução de uma Europa destruída. Depois disso os trabalhadores africanos, asiáticos, sul-americanos, do leste após a queda do muro de Berlim, foram sendo aproveitados nos trabalhos mais penosos e menos remunerados, se comparados aos bons tempos do WELLFARE STATE. Este chegou ao ao seu limite distributivista ainda nos anos oitenta do século XX.

As sociaisdemocracias vêm decaindo, não obstante certa cegueira de liberais sobre esse desencanto (o fim do casamento Romantizado do seu modelo político com o mercado). Hoje a necessidade imediata de trabalhos “sujos” aproveita em boa parte a mão de obra dos nacionais. Os imigrantes agora fogem ou são expulsos de seus países por um conjunto de fatores (guerras, conflitos étnicos e religiosos, ideológicos. Pior, há mais de vinte anos os imigrantes de segunda e terceira geração vão sendo deportados ou convidados a sair dos países onde nasceram…

Eva é holandesa branca, loira, olhos azuis e sonha com um retorno ao Éden no qual encontrará uma serpente albina para celebrar com honras da supremacia racial o estupro original.
Ora bolas, o que Eva esquece (ato fálico), além da cruel história de violência dos europeus nas suas colônias e das suas consequência, é o fato da progressão geométrica de estrangeiros em solo europeu dever-se menos a números da “invasão externa” no tempo imediato que dá imediata conjugação de dois fatores históricos ao longo do tempo: os nacionais da Bélgica, Holanda, Alemanha e tantos países vêm tendo menos filhos. A queda da natalidade é fato desde o entreguerras. A cresça-se a isso o interesse crescente das mulheres e dos homens europeus por parceiros oriundos da África e de outras regiões, inclusive daqueles vindos do leste europeu.

A retomada acelerada da reprodução humana na Europa deve ser estudada, mas também há pesquisas indicando que nacionais perdem para estrangeiros nas taxas de fecundidade. Muçulmanos por exemplo têm muitos filhos e muitos deles com europeias. Isso assusta aos nacionais. Não provoca somente preconceitos mas ódio crescente à miscigenação, por eles subsumida a um purismo étnico. Essa mistura já está no DNA dos europeus e é irreversível.

Engana-se a ditadura húngara com o fechamento de suas fronteiras. Os indivíduos se selecionam ainda mais em temos regressivos, via atração incontrolável pelas faltas e diferenças.
Gilberto Freire não tinha dúvidas no caso brasileiro das nossas origens por misturas várias (mestiços, mamelucos, cafuzos, etc): estamos a constituir uma metarraça. Oxalá os europeus nos acompanhem, mas ainda que relativamente tarde.

Da minha parte, eu, mas com sangue português e índio, fui casado com uma Arguello, com uma Paludo, e agora com uma Kalfeltz, dando minha contribuição ao aperfeiçoamento genético.

O amor é seletivamente belo, perfeito, divino. O avesso do amor é frio, imperfeito, satânico.

*Edmundo Lima de Arruda Jr. é professor aposentado do CCJ/UFSC e ex-presidente da Apufsc-Sindical

Artigo recebido às 7h32 do dia 13 de novembro de 2025 e publicado às 08h50 do dia 14 de novembro de 2025