Segundo o relator, a política exigirá “uma mudança cultural” na universidade
O Conselho Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (CUn/UFSC) debateu nesta terça-feira, dia 18, duas resoluções normativas que estabelecem diretrizes institucionais: uma delas sobre internacionalização e outra sobre combate ao assédio e à discriminação.
A proposta destinada a instituir a Política de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio e à Discriminação no âmbito da UFSC foi apresentada pela Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas (Prodegesp), com relatoria do conselheiro Jorge Cordeiro Balster. O parecer foi aprovado por unanimidade.
O relator afirmou que a proposta é “oportuna ao responder uma demanda histórica da comunidade universitária” e que “dá objetividade e procura dar eficiência às ações da instituição”, ao definir procedimentos, responsabilidades e uma rede de acolhimento. Segundo Balster, “o assédio e a discriminação não podem ser ignorados ou tratados como uma questão menor”, e a política exigirá “uma mudança cultural” na universidade.
O parecer destaca o amplo amparo jurídico da proposta, que se fundamenta na Constituição Federal, na Convenção 190 da Organização Internacional do Trabalho, na Lei nº 14.540/2023 sobre prevenção ao assédio sexual no serviço público, e na Portaria Normativa nº 6.719/2024 do MGI, que criou o Plano Federal de Prevenção e Enfrentamento do Assédio e da Discriminação. A minuta também referencia resoluções internas da UFSC sobre Enfrentamento ao Racismo Institucional e Ações Afirmativas para pessoas trans.
Para Balster, trata-se de um marco aguardado há anos. “Com esta minuta, atende-se, enfim, ao acordo firmado nas negociações que encerraram a greve dos TAEs de 2015”, diz o parecer. Ele ressalta que o tema é “caríssimo à categoria dos técnicos administrativos em educação”, sem perder de vista os impactos sobre docentes e estudantes.
Como funcionará
A política organiza-se em torno de princípios como dignidade da pessoa humana, ambiente institucional seguro, sigilo e tratamento humanizado às vítimas, proteção à diversidade e grupos vulnerabilizados. Entre os objetivos, o relator sublinhou “a identificação de situações que possam favorecer comportamentos assediadores e/ou discriminatórios, propondo as intervenções necessárias”. Para ele, é crucial enfrentar “a cultura vigente dentro das universidades e o seu modelo de gestão que estrutura o desequilíbrio de poder entre as diversas categorias”.
O enfrentamento será estruturado em três frentes: acolhimento e acompanhamento biopsicossocial; ações administrativas e práticas restaurativas; e tratamento formal das denúncias. Balster considera a rede de acolhimento “a questão central para a viabilização da política”, que incluirá setores como Prodegesp, Proafe, Prae, Prograd, Ouvidoria, Comissão de Ética, NDI e CA, além da futura Comissão Intersetorial Permanente de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio e à Discriminação.
O relator propôs aperfeiçoamentos na proposta, incluindo a previsão de que cada unidade e setor definam “equipes responsáveis pelas ações de acolhimento” e a garantia de “capacitação específica” aos membros da rede. O parecer também valoriza a inclusão de trabalhadoras e trabalhadores terceirizados entre os públicos da política.
“Manifesto meu parecer favorável à aprovação da minuta, com o acatamento das sugestões de ajuste redacional e técnico-normativo apresentadas”, concluiu o relator. Ele registrou o “mérito e reconhecimento a todas as pessoas” que contribuíram com o texto, “amplamente fundamentado em referências técnicas, legais e institucionais”. “Esta política representa um marco institucional” e reafirma “o compromisso da universidade com a dignidade humana”, afirmou Balster.
Internacionalização
A proposta para instituir e regulamentar a Política de Internacionalização da UFSC foi apresentada pela Secretaria de Relações Internacionais (Sinter), com relatoria de Luiz Gustavo da Cunha de Souza. A secretária de Relações Internacionais, Fernanda Leal, participou da discussão. Houve pedido de vista, e o assunto será retomado em sessão futura.
A nova política busca “promover, de forma contínua e articulada, a permanente inserção da Universidade em redes e cooperações internacionais”. O documento define internacionalização como “um processo institucional e intencional”, composto por “um amplo conjunto de interações com a comunidade internacional de indivíduos, redes e instituições”, tendo como foco a qualidade e relevância da UFSC no ensino, pesquisa, extensão e gestão.
A proposta ancora-se em princípios de multilateralismo, multilinguismo e solidariedade internacional, com compromisso explícito com a justiça social e epistêmica. O texto enfatiza que a UFSC “valoriza a cooperação com o Sul Global” e defende acordos “horizontais, recíprocos e não colonizadores”.
Eixos estratégicos
A política organiza-se em nove eixos estratégicos: linguagem e multilinguismo, com valorização da língua portuguesa e ampliação do acesso a outros idiomas; mobilidade de estudantes e servidores; internacionalização do currículo, com práticas pedagógicas voltadas à “descolonização do saber”; pesquisa, inovação e transferência de tecnologia; extensão internacional; acolhimento e integração da comunidade internacional; estabelecimento de parcerias e redes com “diversidade geográfica e valorização do Sul Global”; e partilha de experiências internacionais.
A execução ficará sob coordenação da Sinter, em articulação com a Comissão Permanente de Internacionalização (CPInter) e com agentes de internacionalização nas unidades acadêmicas e administrativas.
Na ausência justificada do relator, o conselheiro Alex Degan fez a leitura do parecer. Para o relator, a política é “tema primordial para a tentativa de estabelecimento da UFSC como instituição líder de rede”. Ele sustenta que o texto deve ressaltar valores e objetivos estratégicos vinculados à “produção e circulação de excelência nos âmbitos da pesquisa, ensino e democratização de saberes”, propondo apenas ajustes de organização e linguagem para “maior precisão da redação”. “Sou de parecer favorável à sua aprovação”, finalizou.
Fonte: Notícias UFSC
