Eleições na UFSC: o engodo da consulta informal

*Por Helton Ricardo Ouriques

Na página da Apufsc está a informação de que o tema Eleição para Reitoria está na pauta do Conselho Universitário da UFSC, na reunião de terça-feira, dia 25. A chamada do processo, cujo requerente é o Gabinete da Reitoria, é a seguinte: “apreciação da solicitação de constituição de comissão a fim de organizar e coordenar o processo de consulta prévia informal (destaques meus) à comunidade quanto à escolha dos ocupantes da Reitoria para o período de 2026-2030”. 

Dois artigos recentes, publicados na própria página da Apufsc, tocaram no assunto, a saber: 1) O voto direto é democrático e legítimo?, do professor Antonio Carlos Mariani; 2) O pequeno jogo da UFSC, do professor Ubirajara F. Moreno. Registro minha concordância com o teor dos dois artigos, que fazem boas e fundamentadas críticas aos vícios dos processos eleitorais aos quais se referem.

Não tenho nenhum problema em dizer que, particularmente, sempre fui favorável ao critério de escolha definido pela legislação, isto é, a ponderação com base no 70% para os docentes, 20% para estudantes e 10% para os técnico-administrativos. O fato é que foram sendo inventados artifícios tanto aqui quanto em outras universidades para simplesmente burlar o que está dito em lei, usando o termo “consulta informal” como mantra para uma suposta democracia nos processos de escolha. Mas vamos lá: desde quando o voto paritário é democrático? Ou mesmo mais democrático do que outra ponderação qualquer? 

Todo mundo sabe que se trata de acordos e promessas de certos benefícios, com fatias segmentadas do eleitorado, com pautas pouco ou nada “republicanas” (digamos assim). E isso elegeu muitos reitores na UFSC, aliás. Tudo isso em nome da “democracia”, ou da “igualdade”. Ora, nenhum tipo de voto ponderado é mais democrático do que outro tipo qualquer. Se o critério for ser democrático, a tal consulta informal deveria ser baseada no princípio uma pessoa, um voto, universalmente considerado, sem ponderação. Simples assim. 

Ora, todos também sabemos que no “pequeno jogo da UFSC”, para usar a expressão do professor Ubirajara Moreno, o que conta são os acordos de diretores, reitores e candidatos a reitor com um segmento específico do eleitorado, que lhes garante votos nos seus locais de votação, em troca de algumas pautas corporativas, completamente distanciadas das necessidades acadêmicas da instituição. Mas fica o registro: se querem falar em democracia, que façam uma consulta informal baseada no voto universal. A opção tradicional não passa de um engodo,  historicamente chancelado pelo conselho universitário, refém de suas próprias contradições. 

Helton Ricardo Ouriques é professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSC

Artigo recebido às 16h50 do dia 24 de novembro de 2025 e publicado às 17h07 do dia 24 de novembro de 2025