Cientistas que integraram o Pavilhão da Ciência Planetária da COP publicaram uma carta repudiando as decisões globais
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), encerrou no último sábado, dia 22, com acordos e proposições. Para a comunidade científica, o evento foi positivo ao transformar a Amazônia em sede dos debates sobre políticas ambientais. Entretanto, a exclusão de temas importantes, como o uso de combustíveis fósseis, mostra que os diagnósticos científicos seguem sendo excluídos pelas nações.
Como principal resultado, a presidência da COP30 aprovou 29 documentos de forma unânime pelos 195 países que participaram das discussões. Esse conjunto de documentos ficou conhecido como “Pacote de Belém”.
Entretanto, um dos temas mais defendidos pela Presidência brasileira da COP30 e pelo Governo Federal, o “Mapa do Caminho para a Transição dos Combustíveis Fósseis de maneira justa, ordenada e equitativa”, não foi aprovado – apenas 80 países se mostraram a favor desse caminho político.
Cientistas que integraram o Pavilhão da Ciência Planetária da COP publicaram, no início da semana, uma carta repudiando as decisões globais.
“Apesar dos melhores esforços do Brasil e de muitos países que trabalharam para unir o mundo em torno de um roteiro para acabar com nossa dependência de combustíveis fósseis, forças contrárias bloquearam o acordo. Elas parecem ignorar que, ao contrário dos pavilhões da COP, não podemos evacuar o planeta Terra quando desastres acontecem”, diz o documento, que foi endossado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Em entrevista ao canal CNN Brasil, o ex-vice-presidente da SBPC, Paulo Artaxo afirmou que a ausência de políticas para redução dos combustíveis fósseis é desconsiderar um dos principais problemas ambientais. Artaxo também lamentou que as decisões na COP30 só sejam efetivadas em cenários de unanimidade:
“O processo decisório da ONU obriga que qualquer acordo internacional seja aprovado por consenso. Mas como é que você vai obter consenso hoje entre Ucrânia e Rússia, entre Israel e países árabes e entre produtores de petróleo e nações que vão desaparecer do mapa com o aumento do nível do mar? Isso é praticamente impossível.”
A presidente da SBPC, Francilene Garcia, destaca que, apesar deste cenário, a ciência segue apresentando soluções, que precisam ser consideradas pelos negociadores políticos. “Em Belém, os cientistas lembraram ao mundo que não existe rota de fuga para um planeta em colapso. Mesmo com forças contrárias bloqueando um acordo mais ousado, o que emergiu foi um realinhamento moral: países dispostos a liderar, sociedades mobilizadas, juventudes vigilantes e uma Ciência que oferece, com firmeza, um caminho de coragem e coerência.”
Garcia ressalta que os demais atores seguirão cobrando maiores ações. “A COP30 revelou um verdadeiro mutirão dos que não desistem, povos tradicionais, pesquisadores, governos, movimentos sociais e instituições científicas, convergindo para a criação de um Painel Científico Global para a Transição Justa. A mensagem é inequívoca: a política pode hesitar, mas a ciência seguirá ao lado da humanidade.”
Para a especialista, a Conferência não encerrou um ciclo, mas iniciou um novo caminho que reposiciona o Brasil. “A COP30 abre uma nova etapa em que o Brasil, a Amazônia e a comunidade científica afirmam, com serenidade e responsabilidade: ainda há futuro, mas ele exige escolhas agora, e estamos prontos para sustentá-las”, conclui.
Fonte: Jornal da Ciência
