Com todo o respeito que merecem os professores Fletes e Yunes, permitam-me discordar neste momento

Nestor Roqueiro

25.março , 2019

Continuo pensando como sempre pensei, que um sindicato que não se importa por promover a participação dos seus filiados e tenta representar honestamente a expressão das suas bases é mais um órgão autoritário, comandado por pessoas autoritárias, e este tipo de órgão com estas práticas não é a expressão de uma civilização avançada, ou com membros civilizados de uma sociedade humana. 

Se o coletivo dos professores universitários se enquadra ou não é outra questão. Quero acreditar que sim, mesmo que algumas manifestações me coloquem em dúvida. A melhor organização, que defendi aguerridamente quando a Apufsc se desligou do Andes, sem dúvida é uma federação de sindicatos independentes forte. Fortes pelas bases mobilizadas e não pelos “contatos” de alto nível dos seus dirigentes. Lamentavelmente esta oportunidade foi rifada no inicio. Com isso, deixo clara minha visão do que deveria ser um sindicato.
 
Para completar, creio que devemos verificar a função de um sindicato. Como escrevi há muito tempo, se um sindicato não vai lutar pelos salários da classe não serve para nada, não é um sindicato. Pode-se batalhar por outras questões? Sim, por exemplo contra a violência sobre manifestações populares pacíficas. Um caso histórico é o das reivindicações salariais dos funcionários públicos.  Deveríamos ter uma data base para negociação anual das reposições salariais, e nunca tivemos, em nenhum governo, nem de direita nem de esquerda. 

Se não há estabelecido um espaço de negociação por lei, fica a critério do governo e turno abrir uma mesa de negociação ou não. Se não se instala um mesa de negociação pela boa vontade do governante, a classe tem que se manifestar publicamente para, com a repercussão na população, o governo que não quer perder apoio para questões do seu interesse, sente a negociar. Vejam que até cá não tem ideologia de esquerda ou direita em lugar nenhum. É somente reclamação de classe.
 
O sindicato poderia tratar de questões acadêmicas e/ou de pesquisa? Poder pode, mas isso implica que os canais institucionais dentro da universidade não estão funcionando. Muitos colegiados e órgãos da universidade, a maioria na realidade, estão dedicados a estes temas. A universidade deveria ter uma visão do que pensa ser uma boa política de ensino e pesquisa, e deveria interagir com outras universidades (através da Andifes?) para definir políticas públicas em conjunto com os ministérios correspondentes. Se o sindicato tem que tratar estes temas a universidade, organicamente, vai mal.  
 
Por isto creio que o melhor é que o sindicato se concentre em questões trabalhistas e de direito de expressão.
 
Vista a função do sindicato passemos a discutir a conjuntura atual. Temos um governo que não quer negociar, que pretende diminuir o número de professores das IFEs, para citar dois pontos. Uma mudança na constituição está para ser votada e vai modificar a aposentadoria, uma questão trabalhista, de uma grande quantidade de professores de IFEs. Está-se perfilando uma votação para meados deste ano.  Cá temos uma questão importante, não somente pelo impacto, mas pelo timing. Se a Apufsc que participar de alguma forma do movimento nacional esta adesão tem prazo para acontecer. Senão terá perdido mais um evento importante sem poder participar.
 
Agora a questão tática. Se formos seguir as nossas ideias iniciais de sindicato independente, e verificando que esta opção não é válida neste momento, poderíamos pensar que das outras duas opções a que se denomina federação seria a mais próxima, e é verdade. Mas precisamos levar em consideração o timing. Se pretendemos ter algum grau de sucesso no embate que se dará sobre a reforma da previdência precisamos da opção com maior capacidade de mobilização, de manifestação, uma vez que a negociação como o governo esta fechada e que no congresso a pressão popular é o que mais resultado tem dado ao longo da historia para fazer com que os parlamentares ouçam nossas reivindicações. Agora a pergunta. Quem tem maior capacidade de mobilização, Andes ou Proifes?
 
A questão estratégica, ao meu ver, fica para depois do meio do ano. Depois de ver a capacidade de mobilização da Apufsc, da viabilidade de retornar à ideia inicial ou de definir outra opção. Afinal não fomos capazes de mudar uma vez? Certamente somos capazes de mudar outra.
 
DAS