Fim de caso

Na UFSC, infelizmente, ainda prevalece uma perversa divisão do trabalho: administradores administramd+ professores dão aulas e pesquisamd+ sindicalistas cuidam da campanha salariald+ e técnicos-administrativos carregam o piano da burocracia. Ora, não haveria nenhum problema nessa distribuição de tarefas se a Universidade fosse uma corporação como outra qualquer. Mas não é esse o caso: fazemos parte de uma instituição eminentemente pedagógica – e esse dado é crucial para pôr em xeque o modelo de gestão em vigor.

É preciso compreender que, antes de ser burocrático ou técnico ou de qualquer outra natureza, cada mínimo ato desempenhado por profissionais filiados à UFSC é incontornavelmente educativo, e assim será tomado pelos alunos e pela sociedade em geral, queiramos ou não. A responsabilidade de inscrever-se na cena pedagógica não é só do professor, e muito menos se restringe à sala de aula. Ela tem que estar presente em todos os outros lugares, em cada ofício ou portaria assinados e nos corações e mentes dos mais humildes servidores.

Sonho com o dia em que, por exemplo, pararemos de nos distinguir dos técnicos-administrativos sob a alegação de que nós, professores, desempenhamos atividades-fim, enquanto a eles cabem as atividades-meio. É um erro fomentar essa diferença. Em uma Universidade digna deste nome, não há atividade-meio que não seja, antes e sobretudo, uma atividade-fim, quer dizer, um ato pedagógico.

O mesmo deve ser dito aos administradores, seres que em geral detestam a sala de aula e se comprazem em trancar-se no sepulcro de vidro de seus gabinetes, para viver o seu alegre exílio.

Talvez esteja longe o dia em que a Universidade se transformará em uma imensa sala de aula. Mas uma coisa é certa: a falência da atual divisão do trabalho está clara para a maioria de nós. Em particular, a modorra institucional dos últimos quatro anos – uma espécie de orgia da mediocridade – emparedou-nos e obriga-nos a reconhecer que um ciclo da história da UFSC chegou ao fim. Só se prolongará –  como farsa –  se nos acovardarmos.

As eleições para o cargo de reitor, neste ano, oferecem uma excelente oportunidade para que as coisas comecem a mudar. Basta eleger alguém que, acima de tudo, traga no corpo, como uma segunda pele, as manchas sublimes do bom e velho pó de giz.