Porque a Unimed nos divide

O objetivo central dos artigos que tenho escrito para o boletim, sobre a questão Unimed, é contribuir com as discussões sobre esse tema, para que o sindicalizado tenha como fazer a sua opção, certo de que essa é uma decisão a ser tomada coletivamente, em assembléia. Assim, escrevi o artigo “Unimed: vamos para o Uniflex?”, no qual a principal grande certeza colocada foi a de que temos decisão de assembléia sobre essa questão. Decisão que pode ser reavaliada e modificada, ou não. Discordei, portanto, do encaminhamento que havia sido dado pelo presidente da Apufsc, à revelia inclusive da própria diretoria. Portanto, não se tratava simplesmente de “criticar iniciativas do presidente da Apufsc”, mas sim uma questão de princípio. Esta é uma questão que se tornou polêmica e, portanto, exige debate amplo. Como retratado no boletim da Apufsc nº 609, a diretoria, após reunião bastante produtiva, pública e divulgada com antecedência, tomou a decisão de reconduzir essa questão para o caminho correto, respeitando não apenas o regimento da Apufsc, como também o bom senso – teremos mais debates. Parabéns à diretoria pelo encaminhamento correto da questão. 

Eu e grande parte dos sindicalizados teríamos bons motivos para nos envergonharmos se fosse ao contrário, embora esteja claro que esse entendimento não é de todos. Faço esse esclarecimento em função das acusações contidas em artigo publicado no boletim da semana que passou, de autoria do Prof. Clóvis Montenegro de Lima, o “assessor para assuntos da Unimed” e nosso negociador com a Unimed. Aliás, historicamente, nós sindicalizados indicamos ou elegemos coletivamente, de preferência em assembléia, os nossos representantes para qualquer tipo de negociação – quem atribuiu ao referido professor esta condição? As referências éticas e de conduta política são bem diferentes. Evidência dessa diferença também é a contratação de um funcionário para a Apufsc, com carteira assinada (o termo bolsista é meia verdade), por decisão exclusiva do presidente, e que está exclusivamente à disposição da execução de um projeto de extensão do professor Clóvis, o qual também recebeu ajuda material. Ressalte-se aqui que a diretoria vem tentando, sem êxito, resolver essa questão. Este sim que é fato inédito na história da Apufsc e merece a indignação de todos.  

No mesmo contexto, discussão de princípios, não tenho nenhum problema em fazer a crítica pública a alguém que foi eleito com a condição de ser coordenador político e administrativo e ao ver a sua posição pessoal não aceita por um coletivo (no caso, a diretoria também eleita), pede afastamento e deixa correr solto pelo campus o boato de que foi afastado e de que existe uma trama para tirá-lo da presidência, com todas as implicações que este fato teve. Por exemplo, levou a diretoria a publicar no boletim nota de esclarecimento que não era disso que se tratava. Ridículo para o sindicato.  

Reafirmo ainda, o momento político em que nos encontramos é grave. O governo federal vem promovendo, por meio de portarias e decretos, mudanças significativas nas regras de funcionamento das Universidades e do trabalho docente. Um momento em que, inclusive, o nosso regime de dedicação exclusiva está por um fio, fato esse que associado à discussão da relação número de alunos/professor e aumento de vagas discentes (Reuni) indica claramente qual o projeto governamental para o nosso futuro bem próximo. Não existe nenhuma garantia para a manutenção da nossa capacidade de realizar pesquisa e extensão, isso é algo apenas para os grandes Centros de Excelência. Este projeto é antigo. Esta é a questão central! Por conta destas querelas internas o foco da nossa luta tem sido desviado, despolitizado, no pior momento possível. Esta discussão eu não tenho visto o nosso presidente fazer, aliás, ao contrário, ele parece indicar que estas “questões nacionais” são apenas tramas diabólicas do Andes, “aquele sindicato nacional”. Assim, reforçando apenas velhos chavões de setores historicamente conservadores, que nunca conseguiram enxergar que foi apenas a nossa luta política – docentes, estudantes e funcionários – que garantiu, ao longo das últimas duas décadas, a nossa condição de docentes de uma Universidade Pública e quase totalmente gratuita, condição essa essencial para a dignidade do trabalho docente, os docentes das Instituições privadas que o digam. Se dependesse destes mesmos setores conservadores, o ensino pago seria majoritário na nossa Instituição, pois assim se ganha mais dinheiro. Aliás, na verdade, “complementação salarial” tem sido o grande fator de mobilização.

Na minha avaliação, além de depressão, síndrome do pânico, câncer, esgotamento físico e mental, etc. agora existe a proposta de suicídio político, sim porque a proposta de “sindicato livre de ideologias políticas”, além de aberração conceitual, é disto que se trata. E mais, colocar a diretoria do Sindicato sob fogo cruzado também é suicídio político, atende apenas a interesses pessoais ou de grupo. O momento político nacional exige de TODOS nós uma resposta à altura e principalmente UNIDADE na luta. Devemos deixar para o governo federal o papel de tentar nos dividir.