Novos tempos: o absolutismo chega à Apufsc

O artigo do presidente da Apufsc no Boletim Especial da entidade que circulou a semana que passou começa a revelar alguns detalhes de um conflito que está posto desde o início da atual gestão do sindicato. Como não apenas sou citado, mas responsabilizado pela tal situação, novamente vejo-me obrigado a continuar como parte desta novela, porém determinado que seja a última, na perspectiva indicada. Fosse eu responder à altura os artigos do presidente e seu assessor para assuntos da Unimed, eu teria que descer demais o nível do debate. Também não quero fazer uma discussão do ponto de vista pessoal, quero sim fazer a discussão política, por este motivo resistirei à discussão de detalhes que deixam claro o tipo de personalidade e caráter de quem me acusa. 

Neste sentido, alguns esclarecimentos devem ser feitos:

Em primeiro lugar, não iniciei esta série de “artigos Unimed”. Em todos eles me defendi, como membro da diretoria anterior, de acusações e desqualificações do tipo “trabalho irresponsável e amador, responsável pelo rompimento unilateral da Unimed que suspendeu atendimento médico em 2005”, “responsável pelo déficit operacional e pelo reajuste semestral ilegal”, e vai por aí afora. Esclareço: a diretoria anterior nunca pediu ou defendeu reajuste semestral com base no desequilíbrio financeiro, ao contrário, se posicionou totalmente contra. A semestralidade foi imposta pela ameaça de encerramento do atendimento médico em 30 dias, feita pela Unimed em 2005, fato este amplamente noticiado nos boletins da época. Se hoje a Unimed diz que pode abrir mão da semestralidade, isso somente indica que a intransigência nas negociações não era da diretoria anterior. Aliás, eu não li ainda nenhum documento da Unimed dizendo isso, apenas as colocações do presidente da Apufsc e assessor.  A suspensão do atendimento médico em 2005 foi por conta, risco e irresponsabilidade exclusiva da Unimed. Prova deste argumento é que a justiça foi quem mandou restabelecer o atendimento, a suspensão de atendimento é que foi ilegal.

Em segundo lugar, tenho participado esporadicamente das reuniões de diretoria da Apufsc, em especial tenho participado quando o assunto é plano de saúde. Nunca fui a nenhuma reunião da diretoria propor a renúncia do presidente. Sequer participei da reunião do dia 4 de abril, como citado no artigo do presidente, basta conferir a ata na secretaria do sindicato. Portanto, é uma acusação mentirosa, faz parte da farsa montada.

 Seria até infantil, se não fosse sórdida, oportunista e mentirosa a estratégia de atribuir a uma pessoa o esgotamento ou inviabilidade de diálogo entre o presidente e sua diretoria, fato este que finalmente é exposto ao conjunto dos sindicalizados. Existe uma diferença de método e de princípios políticos entre diretoria e o presidente da Apufsc. Isso fica evidente na afirmação do presidente de que “a diretoria é um ajuntamento de professores que não se entendem e não conseguem decidir nada”. 

Ou seja, há muito tempo o presidente vem desqualificando as assembléias e suas decisões e agora desqualifica também as decisões de diretoria, e, estrategicamente, elege o seu bode expiatório: professor Carlos Soares (obviamente, não por acaso). Ora, desde o início desta novela, venho chamando a atenção de todos para tal incoerência: como é que um presidente chama e coordena uma assembléia ou reunião de diretoria e sai das mesmas fazendo críticas à falta de objetividade, demora, entre outras anomalias, e termina desqualificando as suas decisões? A responsabilidade é de quem? Só dá para concluir que faltou coordenação. Que sentido tem isso e em que isso fortalece o sindicato? Tem algo de muito errado nesta versão.

Porém, tranqüiliza-nos o presidente no seu artigo, fazendo uma verdadeira apologia aos poderes do presidente e conclui:

“Estou absolutamente tranqüilo que o que foi negociado (leia-se aquilo que eu decidi) é o melhor para o conjunto e para cada um em particular…”. Portanto, ao conjunto dos sindicalizados cabe “louvar e agradecer a verdadeira benção que é a chegada”, pelas mãos do messias, de um assessor que nos ajude a entender como fomos tão “burros e amadores” até agora. Os opositores são golpistas. 

Coerente com a decisão de não fazer a discussão pessoal, não vou me aprofundar neste ponto, quero apenas marcar que o que movia a diretoria anterior, com todas as críticas que possam ser feitas, era o respeito à decisão de assembléias e, portanto, aos sindicalizados. O presidente da Apufsc representava o sindicato tendo como referência a decisão dos sindicalizados em assembléia. Reforço a opinião de que messianismo e moralismo não são boas estratégias políticas para um sindicato.  

Não usei a Unimed como instrumento político, volto a dizer, não fui eu quem espalhou a chamada na rede para responder o controverso questionário sobre plano de saúde para “dar força política” ao presidente da Apufsc.  

Entre os sindicalizados, existe uma aspiração legítima e oportuna por mudanças na nossa entidade, a Apufsc. Não sou contra a discussão de mudanças e a efetivação destasd+ apenas tenho sido voz dissonante em levantar a discussão de quem realmente está se apoderando desta aspiração e deste processo. Não consigo me calar (um direito que me assiste como sindicalizado!) ao ver entrar no sindicato, por debaixo do manto do messias, e ganhar força, a concepção de que a Apufsc é uma prestadora de serviço, os filiados pagam muito bem e devem ter “um serviço à altura do pagamento”. Portanto, o papel do sindicato não é fazer a discussão da reforma universitária, Reuni, etc., muito menos deve atrapalhar “os negócios” dos sindicalizados. Observem que essa concepção casa ou complementa perfeitamente a concepção de “sindicato livre de ideologias políticas”. Adicionalmente, prestadora de serviços ainda tem a vantagem de não taxar o filiado de “trabalhador”. Essa é a modernidade que se coloca. 

É por este motivo, entre outros, que eu tenho sérias dúvidas quanto à eficácia das soluções que estão sendo propostas. Volto a insistir, nossas dificuldades não se encerram na discussão de onde e/ou quantos decidem, mas sim, também em como vamos coletivamente carregar o piano. Neste ponto, não consigo entender uma questão que me parece simples: como é que alguém que não dispõe de trinta minutos para participar de uma assembléia (a falta de tempo é real e justificável!) terá muito mais tempo do que isso para se dedicar a carregar o piano? Não será que estão é tentando estabelecer a tirania do “todos decidem e meia dúzia de profissionais carrega o piano”? Esta concepção também é muito coerente com a da prestadora de serviços.  

Eu, provavelmente, por não ter sido agraciado com a bênção deste tipo de modernidade, só consigo enxergar um sindicato como uma instância política, ferramenta fundamental na organização de trabalhadores. Sindicato de trabalhadores, para mim, é redundância. Entidade que não congrega trabalhadores é outra questão, outra discussão. Nunca achei que a quantia que destino à Apufsc, todo mês, fosse um pagamento, sempre entendi como sendo a minha contribuição, necessária para o enfrentamento político que garanta a dignidade do trabalho docente, do meu em particular e de todos nesta Universidade. Necessária para que eu não seja transformado num “empresário da ciência”, para que eu possa desenvolver, através do meu trabalho, aquilo que eu acredito ser uma contribuição científica importante, fruto de um longo processo de capacitação e amadurecimento científico, e não simplesmente uma demanda de mercado, a da hora. Tal condição deveria ser garantida pela Instituição, porém esta não tem sequer um projeto institucional que me acolha como docente/pesquisador. Assim, sempre vislumbrei no sindicato o meu representante nesta luta. Obviamente, em se tratando da defesa de uma Instituição Federal, a dimensão da luta não é apenas local. Esta tem sido uma das grandes tarefas e dificuldade do sindicato: fazer a ponte ou o elo entre as grandes questões nacionais e suas repercussões no dia-a-dia dos docentes. As falhas ou limitações neste processo de tradução não podem e não devem ser atribuídas apenas a uma das partes, as diretorias do sindicato. O desafio é de todos: como tirar o docente de sua rotina que exige muita competição, coloca-o como profissional liberal obrigado a produzir a sua própria condição de trabalho – espaço físico, verba, entre outros fatores – portanto, exige individualismo, para então inseri-lo num processo coletivo? 

Por outro lado, se existe uma argumentação de que os métodos que vinham sendo utilizados nesta luta não cumprem mais a suas funções, acho fundamental que seja feita a discussão. Porém, tenho convicção de que tentar fazer a rediscussão dos caminhos a serem trilhados pelo sindicato apenas dentro de uma visão tecnicista e à luz da modernidade apontada acima não é o caminho a ser seguido. Sindicato prestador de serviço apenas reforçará a lógica do individualismo.

Assim, neste momento importante da vida do nosso sindicato, acho que a diretoria deve cumprir um papel fundamental, deve conduzir o processo, com transparência, sem incoerências e sinalizando corretamente qual a racionalidade do momento que vivemos. Não é bom para a saúde do sindicato, presidente que ao não aceitar a puluralidade de idéias atropela a diretoria e os sindicalizados ao não respeitar decisões de assembléia e que investe na desqualificação das suas instâncias de deliberação. Para isso não tem plano de saúde que salve.