Amadorismo e complacência

Um mês depois de assumir a reitoria, o professor Álvaro Prata se vê confrontado com duas renúncias em sua equipe. O primeiro a pedir o chapéu foi o Pró-Reitor de Pós-Graduação, sob a alegação de que o cargo estava interferindo em sua rotina de trabalho como pesquisador e tradutor. Pouco depois, foi a vez do Secretário de Planejamento e Finanças.

Informa o sítio eletrônico da UFSC que a demissão, nesse segundo caso, se deu “por motivos de saúde”. A verdade, contudo, é que a história é um pouco mais complicada, a começar pelo fato de que o então Secretário de Planejamento e Finanças desempenhava as suas funções na reitoria ao mesmo tempo em que ocupava a presidência da Fepese. Ora, essa acumulação de cargos, além de constituir fato inédito na história da UFSC, é inequivocamente irregular, uma vez que (a) para que se ocupe a Secretaria, deve-se pertencer ao quadro efetivo de servidores da UFSCd+ e (b) o presidente de uma Fundação de Apoio não pode pertencer ao quadro efetivo da UFSC. 

Ao que tudo indica, foi no âmbito das próprias disputas intestinas da Fepese que a denúncia da irregularidade foi feita. O Secretário de Planejamento e Finanças, por sua vez, não titubeou: encaminhou ao Prof. Prata seu pedido de desligamento e, ato contínuo, solicitou sua aposentadoria como professor, podendo agora cuidar de sua saúde – e das contas da Fepese, da qual ele continua presidente.

Convenhamos: o desgaste que as demissões obviamente implicam era perfeitamente evitável. O professor Prata teve tempo de sobra para escolher as pessoas certas para os cargos. Espero que os problemas da nova reitoria parem por aí. Em todo caso, a crise tão prematuramente vivida pela Administração Central é um péssimo cartão de visitas e deixa dúvidas severas no ar.

Em tempo: a nota cômica foi dada pelo Chefe de Gabinete, que declarou que, com remontagem da equipe, “não haverá qualquer processo de descontinuidade”. É o caso de se perguntar: descontinuidade em relação a que, se a nova gestão, na prática, nem começou? A não ser que ele estivesse se referindo ao clima de amadorismo e complacência da gestão Lúcio Botelho…