Prática de assédio moral no interior do sindicato

Estamos às vésperas de uma importante Assembléia que deverá decidir sobre modificações no regimento da Apufsc. Apresentei à Diretoria e ao Conselho de Representantes uma contribuição com um bom número de propostas. O meu gesto foi acolhido com respeito pelas duas instâncias, a despeito de haver pontos polêmicos que a assembléia poderá democraticamente resolver. Mas, nem todos acham que eu seja merecedor de respeito e esta foi a motivação do professor José Espíndola em seu artigo “sobre sindicalismo, aparelhamento sindical e cara-de-pau” publicado no Boletim 643, de 30 de junho de 2008, no qual o autor assim conclui: “Pior, só mesmo a hipocrisia daquele que presidiu este golpe baixo e agora, posando de bom moço, nos oferece o receituário para uma Apufsc democrática” e fecha em latim “Hic jacet lepus!” (Aqui se esconde a lebre). Refere-se àquele que esteve presidente do Andes na última gestão: eu.

Segundo o autor, a decisão congressual de filiação à Conlutas não foi democrática e teria se dado “na calada da noite”. “Gente que faz ou patrocina safadezas como estas, executadas dessa forma, não é honesta e, portanto, não é confiável”. Acrescentando, ainda: “Não merece respeito!”.

O professor Espíndola, como qualquer outro sindicalizado, tem o direito de discordar e de criticar decisões tomadas pelas instâncias deliberativas do sindicato, mas não tem o direito de desqualificar propostas por meio da desqualificação do proponente. Para ele, tais propostas não deveriam sequer ser consideradas, pois são de autoria de quem teria patrocinado golpes no passado recente e que, agora, posa de bom moço. Ao escrever tais coisas no boletim da Apufsc, o autor está, às vésperas de uma assembléia, alertando seus colegas para que fiquem atentos e desconfiem do que escreve ou fala o professor Paulo Rizzo, pois ele não é confiável e sequer é digno de respeito.

A prática do professor Espíndola neste caso tem, atualmente, o nome de assédio moral. É um termo novo, embora a prática seja antiqüíssima, que começou a ser usado com maior freqüência a partir de 2000 e que hoje está na agenda da maioria dos sindicatos (veja cartilha sobre o assunto na página do Andes: www.andes.org.br, com algumas cópias impressas disponíveis na Apufsc). 

O interesse dos sindicatos pelo assunto deve-se ao fato de o assédio moral ser praticado nos ambientes de trabalho e combatê-lo faz parte da luta em defesa dos direitos dos trabalhadores. Na maioria das vezes, o assédio é praticado de cima para baixo na hierarquia dos ambientes de trabalho, mas ele também pode ocorrer horizontalmente, entre pessoas de posicionamento equivalente e, até mesmo, de baixo para cima. Sinteticamente, por assédio moral entendemos toda e qualquer tentativa de intimidação, de chantagem e, principalmente, de desmoralização do indivíduo perante os demais colegas de trabalho. Os efeitos para o assediado, se ele não tiver capacidade de enfrentar o problema podem ser devastadores para sua saúde mental e física. Em muitos casos, o assediado vai assumindo que ele é, de fato, incompetente, incapaz – sua auto-estima vai para o subsolo.

A Universidade não está imune às práticas de assédio moral. Pelo contrário, tais práticas são freqüentes nas mais diversas relações: entre chefias e subordinadosd+ entre professor e servidord+ entre professor e alunod+ entre estudante e estudanted+ entre servidor e servidor ed+ entre professor e professor. E, no momento em que, no sindicato, estamos buscando instaurar o novo, temos que nos preocupar seriamente com a prática do assédio moral no interior do próprio sindicato. Pois, como o sindicato vai poder ser atuante na defesa de seus sindicalizados contra atos de assédio moral nos ambientes de trabalho, se, no seu próprio interior, isso ocorre. É freqüente, por exemplo, na lista de discussão da Apufsc, mas ocorre também no Boletim, nos corredores e, até mesmo, em Assembléia Geral. Por mais incrível que possa parecer, nem mesmo os funcionários do sindicato estão livres de serem vítimas de assédio moral.

Ocorre que vem se generalizando a prática de, para além das polêmicas em torno de assuntos que constam da agenda do sindicato, desqualificar oponentes e de tentar desmoralizá-los. Isto foi feito em relação ao ex-presidente, Carlos Soares, neste boletim, no caso da Unimed. Mas, foi na história recente da URP que a coisa ficou realmente feia. Digo mais, ficou escandalosamente vergonhosa em termos de prática de assédio moral. Qualquer manifestação um pouco mais pessimista em relação às possibilidades de se reaver a URP, foi tratada, por alguns colegas, não apenas como posicionamento pessimista, derrotista, mas como posição contrária ao seu restabelecimento. Fala-se, até mesmo, que a diretoria da Apufsc é contra a URP. Mas, o grande alvo foi o assessor jurídico, que foi desqualificado em listas de discussão e em Assembléia, para além de polêmicas sobre teses jurídicas. Eu, aqui, não estou defendendo as pessoas que mencionei e suas posições sobre qualquer assunto. Estou defendendo que elas não podem ser desrespeitadas, desqualificadas publicamente.

Para o professor Espíndola, eu agora poso de bom moço. Ache de mim o que quiser, mas me é importante registrar que, como presidente da Apufsc, participei da dispensa de advogado e contratação de outro por duas vezes. Nunca falei ou escrevi qualquer linha que os desqualificasse. Mesmo porque não sou besta para fazer coisas com os outros que possam ter como conseqüência tornar-me réu num processo na justiça, por difamação, ou qualquer outra coisa do gênero.

No dia 9 poderemos estar dando um salto para frente e não para trás. Respeitar-nos é um bom começo. Temo que o professor Espíndola não saiba o que é respeitar o outro. Mas, só existe uma condição para se conseguir respeitar o outro: respeitar a si próprio.