Movimento Docente e “aparelhismo”

Acredito que exista uma grande afinidade entre o Paulo Rizzo e eu, não só entre os nomes, ambos “Paulo” de confissão cristã, mas também no amor à arte de escrever e em nossas preocupações com “doenças sociais”. Desse modo parabenizo e estimulo o colega Rizzo a produzir textos como os de nossos últimos boletins. Isso faz parte de nossos íntimos. O meu  e o dele. Mas  isso, também, faz parte de uma disputa de idéias sobre o que achamos que deva ser o Movimento Docente aqui na UFSC e em todo o Brasil.

E a afinidade termina aí.

De fato, o “Movimento Docente” da era Rizzo virou palavrão….Chamo assim de “era Rizzo”, considerando que o Rizzo está sendo uma das  principais lideranças em nosso sindicato nacional, nos últimos anos. E acredito que o Movimento Docente tenha virado palavrão, talvez não por culpa do Rizzo “indivíduo”, mas por culpa do Rizzo “circunstância”. Ainda que oposto a mim, o Rizzo indivíduo pode ter o meu respeito, enquanto que o Rizzo “circunstância” em seu papel, ainda que de liderança, mas anônimo e resultado de um processo coletivo, significou uma Andes que muito pouco tem a ver com a  “Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior”.  Como ela tinha sido concebida em tempos idos. Uma coisa feita para resgatar ao Brasileiro o orgulho de ser Brasileiro. Para dizer que a nós Brasileiros e, só a nós, brasileiros, cabia a decisão de nossos destinos. Para dizer que não precisávamos do FMI e nem de ninguém… para nos fazermos como uma nação independente, orgulhosa e soberana, com tudo o que tínhamos…e com tudo o que temos. Que, nós professores de universidade tínhamos orgulho de nossa idéias e que iríamos, um dia, pôr fim à nossa dependência científica e tecnológica em relação aos países do primeiro mundo. Que tínhamos neurônios em nossas cabeças e que tínhamos prioridades…nossas prioridades…não as deles. Que tínhamos a nossa cultura, a nossa música, a nossa arte e a nossa literatura. E que iríamos um dia convencer os nossos políticos e a nossa sociedade que estávamos certos.

No que virou a Andes na “era Rizzo”, agora, “Sindicato Nacional, sem registro, dos Docentes das Instituições de Ensino Superior”?…No que virou o Movimento Docente na era Rizzo?…

A Andes integra a coordenação nacional e a secretaria executiva da Conlutas, da qual é um importante sustentáculo financeiro. O que é a Conlutas ? Uma entidade política que tem como objetivo organizar a luta contra as reformas neoliberais do governo Lula”. Dá para acreditar?…Pois é isso que está escrito na própria página da Conlutas (www.conlutas.org.br/exibedocs.asp?tipodoc=noticiaEid=105)

E o Movimento Docente?…

O Movimento Docente virou um movimento de meias dúzias, cada uma das meias com as suas próprias meias idéias que incluem a “luta contra os nossos governos, quaisquer que sejam eles, pois representantes de uma “elite neo-liberal”, um movimento que exclui a maioria dos professores docentes das Universidades por eles representarem  um “conservadorismo” indesejável aos “grandes” propósitos de nossa, também  “grande” revolução socialista que há de ocorrer “em muito breve”, enfim…um movimento que se apresenta completamente dissociado de suas bases e que muito pouco tem a ver com o que queríamos em tempos idos.

Aparentemente, o Rizzo indivíduo, pouco tem a ver com a “era Rizzo”. Ao menos é isso o que fica aparente, quando ele se mostra como indivíduo. Desse modo, causou-me estranheza o seu texto em nosso último boletim.

No lugar de procurar se aprofundar sobre toda esta nossa revolta, a dos professores de nossa universidade, por estarmos desamparados “sem pai nem mãe”, por não mais sabermos o doce, idealista, mas também profundo significado da expressão “Movimento Docente”, por não termos uma entidade que nos proteja em nossa ânsia e em nossos ideais (os mesmos do Movimento Docente dos anos 80),  o texto do Rizzo em nosso último boletim procura caracterizar o movimento pela renovação da Apufsc como uma doença social decorrente de  uma simples “Manobra de aparelhamento da Apufsc pela Reitoria”.

Costumo aceitar (e muito bem) argumentos, quando estes são fundamentados, mas esta alusão do Rizzo em seu texto se não é uma obra digna de uma peça de humor para o “Casseta e Planeta”, parece indicar um início de campanha para as eleições que se aproximam. Uma campanha que começa mal: que se inicia com “socos abaixo da cintura” do Armando e de todos os professores que contribuíram com este imensamente desejado processo de renovação da Apufsc.

Por outro lado a Apufsc vem sendo “aparelhada” há muitos anos e o Rizzo sabe e faz parte disso. Há muitos anos, contribuímos financeiramente com movimentos sociais, contrariando o regimento, mesmo o antigo, e sem que os professores concordem ou mesmo fiquem sabendo. Boa parte de nossa contribuição sindical acaba na Conlutas e em outras coisas que não estão entre os nossos objetivos, aqueles escritos no regimento. E por isso o contrariam. Do ponto de vista legal, andamos violando o regimento em vários pontos, vivendo sem um Conselho de Representantes há mais de 20 anos.  Recentemente, a Diretoria contratou como nossos assalariados, “na calada da noite”, um escritório de advocacia para acompanhar as fundações (processo FEESC) sem que os sócios sequer soubessem.  A Apufsc nunca realizou uma assembléia para definir sua posição quanto às fundações de apoio. Pessoalmente, considero importante que a Apufsc tenha uma opinião em relação às fundações e que esta opinião influa sobre os contratos que a universidade faz com estas. Mas esta opinião deve ser a dos associados e não a de uma meia dúzia de diretores ou ex-diretores. Além disso, vejo neste ato um artifício para usar informações de um processo ainda em andamento, para fins políticos contra alguns colegas associados.

Como o boletim é livre, o Rizzo pode escrever o que bem quiser. Os leitores é que irão julgá-lo. Contudo, minha opinião é que poderíamos aproveitar esta campanha, este período pré-eleições para discutir nossas idéias sobre coisas importantes para a Apufsc.

Qual o papel que deve ter a Apufsc como associação?.. Como sindicato?…Como fazer com que o professor individualmente volte a se interessar por sua associação-sindicato e pelo Movimento Docente, sem que ele perca esta individualidade que devemos proteger?…É possível recuperar a Andes ou o seu  estado de degeneração já é irreversível?…Vale a pena continuarmos na Andes ou seria melhor partirmos para um sindicato independente, como já estão procurando fazer algumas outras AD”s?…Qual deve ser o nosso relacionamento com o Proifes, considerando-o como um sindicato nacional, mas com uma estrutura excessivamente vertical que dificulta a independência sindical, em termos locais?…