Casa da mãe Joana

Não que a Joana tenha algo a haver com isto, mas para os 81 senadores há 4.507 servidores, sendo 55 médicos e 27 enfermeiros, além de 100 taquígrafos, 414 policiais e 157 jornalistas – só para citar alguns. Ah! Só o vale alimentação de cada um destes servidores já é superior ao salário de muitos professores universitários, o que não impede que o senado tenha um restaurante subsidiado onde os funcionários pagam pouco e comem do bom e do melhor.

Êba! É pouco? Os senadores acham que não: há ainda mais de mil cargos desocupados, sendo 479 para nível superior. Portanto, com o quadro completo, seriam mais de 5.500 funcionários regiamente pagos para atender a turma, o que dá mais de 67 pessoas para assistir cada um de nossos próceres, um dos quais, de longas, veneráveis e alisadas cãs têm repetido com insistência que o governo fará cortes no orçamento dos ministérios, revendo o prometido “aumento” salarial dos funcionários públicos federais. Vai sobrar para quem? Ora, quais são os menos prestigiados federais? Pois é. Tá legal, mas e a deputadaria? Bom aí já é outra casa, embora também pertença à linhagem da mãe Joana e em breve será revelado quantos funcionários dispõem os deputados para servi-los, afinal não é bom comer os doces todos de uma só vez.

Estamos bem arranjados? Ainda não: há também o judiciário, comandado pelo insuspeitíssimo Daniel Dantas, digo: pelo ilibado Gilmar Mendes… Mas esta também é outra história, onde um motorista ganha mais que um professor com doutorado. Não é à toa que Brasília tem a maior renda per capita do Brasil, mesmo com o enorme cinturão de miséria que a rodeia.

Vivem em outro planeta, que tem uma leve conexão com o nosso – conexão refeita a cada quatro anos, quando ritualisticamente esta turminha de ETs vêm até nós pedir que votemos para que continuem a freqüentar um sítio chamado “Eixo Monumental” – e não é à toa que Brasília dispõe de um discovoadoródromo.

Assim, para a sanidade da nação brasileira e para trazer definitivamente estes seres à terra, proponho uma lei, que em essência é a seguinte: todos os ocupantes de cargos eletivos, bem como seus familiares, terão que obrigatoriamente apenas utilizar os serviços públicos de transporte, saúde e educação. Esta obrigatoriedade se estenderá também a todos os juízes, desembargadores, procuradores e a seus familiares. Imaginem os prefeitos e vereadores tendo que pegar ônibus para ir ao trabalhod+ ou o governador e deputados tendo que matricular seus filhos em escolas públicas. Nada mais de Unimed para esta turma: Posto de Saúde e hospital público neles!  Daria gosto ver a eficiência com que funcionariam os ônibus, escolas e hospitais. Imagine que beleza seria o sistema público de saúde…! E o de educação e o de transporte…! A Suécia, Cuba, Suíça e Alemanha (para não falar da Dinamarca, França e Bélgica!) ficariam babando de inveja, não tenha dúvida.

Sei, sei… Você dirá: “mas sempre vai ter um juiz moço, que sem julgar o mérito, dirá que esta é uma lei inconstitucional, já que fere o princípio de autonomia de uma determinada classe de cidadãos”. Pode ser, mas uma lei destas sendo aprovada mostrará uma vontade popular maior que qualquer retórica, afinal todas as profissões apresentam algum tipo de limitação à autonomia de quem as exerce – e quem concorrer a algum cargo eletivo ou prestar concurso (ou entrar pela janela) para os cargos de juiz, desembargador e procurador estarão cientes destas limitações.

E sabe o que é interessante? É que é possível criar esta lei, já que a Constituição prevê leis que tenham origem em iniciativa popular. Você topa?