MCT avalia projeto para órgãos federais

O governo federal articula a criação de uma grande nuvem privada para atender as empresas e órgãos federais, por meio de um projeto que está sendo conduzido pelo Serpro em conjunto com a Dataprev, a Telebrás e as universidades reunidas no Sinapad – Sistema Nacional de Processamento de Alto Desempenho. O projeto está em homologação no Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) que deverá aprovar um financiamento em até três meses. Ainda embrionária, trata-se da primeira iniciativa mais ampla do governo federal para utilizar a arquitetura de cloud computing para otimização de recursos, redução de custos com licitações de equipamentos e melhoria dos serviços aos cidadãos.

E vem de encontro a uma lógica de compartilhamento necessária quando se considera o extenso parque de infraestrutura do setor público no país. Somente o governo federal conta com quatro grandes birôs – Serpro, Dataprev, Datasus e Datamec – enquanto cada Estado e cada capital, além de muitos municípios, contam com empresas próprias de processamento de dados. Por enquanto o projeto está restrito ao governo federal, mas a ideia, numa segunda etapa, é envolver também as empresas estaduais e municipais, que ainda precisam ser convencidas, porém, da sua viabilidade.

“Para que as tecnologias de informação e comunicação se desenvolvam no país é preciso armazenamento e banda baratos. Hoje a contratação do governo se dá pelo pico”, diz o presidente da Telebras, Rogério Santana. O Serpro tem que dimensionar sua capacidade pelo pico do Imposto de Renda e a Dataprev pelo pico do processamento da folha dos beneficiários. Esses picos não ocorrem no mesmo período, explica. “Essa sazonalidade poderá ser atendida por meio da nuvem compartilhada que poderá também servir de back up e disaster recovery. A Telebrás será o elo de tudo com qualidade e alta disponibilidade, pois se não tiver banda confiável não tem nuvem.”

Segundo Adriano Martins, gerente de projetos estratégicos do Serpro, a ideia surgiu na coordenação estratégica de tecnologia, dedicada aos estudos ligados a inovação, que nos últimos dois anos acompanhou os movimentos mundiais dos governos na Europa e nos EUA. Surgiu daí a proposta de criar um centro de inovação e computação em nuvem inicialmente usando as instalações do Serpro no Rio de Janeiro, mas com a nuvem gravitando onde houver capacidade operacional livre dos recursos computacionais do Serpro e da Dataprev e dos datacenters de alto desempenho das universidades que compõem o Sinapad – entre elas UFRGS, Unicamp, LNCC, UFRJ, UFC e UFMG – todos interligados pela rede da Telebras.

As grandes aplicações especificas de cada empresa como os sistemas da Receita Federal, processados pelo Serpro, e os sistemas de benefícios e Previdência, a cargo da Dataprev, continuarão a rodar nos datacenters próprios. “Mas os picos de demanda poderão se beneficiar do compartilhamento em nuvem e os sistemas menos críticos e genéricos poderão migrar para esse ambiente”, explica Martins.

O Serpro e a Dataprev já trabalham em um correio eletrônico comum, o Expresso em Nuvem, uma solução livre que pretende integrar toda a comunicação na administração pública. A intenção é que as duas empresas ofereçam uma suíte de comunicação – e-mail, agenda, mensageria, VoIP, workflow, diretório único de governo – a todas as instituições públicas, desde pequenas prefeituras a grandes ministérios. A ferramenta pode ser customizável para cada cliente.

“A Dataprev já está virtualizando suas aplicações e, numa segunda etapa, vamos partir para a nuvem e compartilhar infraestrutura com o Serpro para prestar serviços ao governo. O Expresso é a primeira iniciativa e deverá ser oferecido a outros órgãos do governo em um modelo de negócios que ainda estamos definindo”, explica o diretor de infraestrutura de tecnologia da informação e comunicação da Dataprev, Daniel Darlen.

A informação de que o Serpro está criando uma grande nuvem privada federal agradou ao presidente da Abep – Associação Brasileira da Entidades Estaduais de Tecnologia de Informação e Comunicação, Joaquim Costa, que também preside a ATI Agência Estadual de Tecnologia da Informação de Pernambuco. Isso porque a entidade, está dividida quanto a viabilidade de estruturação de um compartilhamento em nuvem. “Muitos Estados têm restrições a colocar dados sensíveis, especialmente os que envolvem sigilo fiscal, em um ambiente compartilhado. Há ainda questões de interoperabilidade e outras comerciais, mas a ideia de uma nuvem privada liderada pelo Serpro pode reduzir as resistências e levar os Estados a aderirem rapidamente”, diz Costa.