No recente incidente envolvendo uma ação policial no campus da UFSC, alguns rapidamente se apressaram em afirmar ser um caso injustificado, dado que se tratou da apreensão de apenas “alguns baseados”. Mas, será mesmo algo de menor proporção? Teria sido outra a reação dos manifestantes, caso tivesse ocorrido uma apreensão maior? é o que tentarei analisar neste texto.
Para entender o que ocorreu, temos que separar dois elementos que aparentemente se entrelaçam, mas que de modo algum determinam uma relação de causa e efeito, já que um não serve como causa, mas de pretexto para o outro. São eles: a infração em si, e o protesto de alguns professores, estudantes e funcionários contra a ação policial.
A infração, de apenas algumas peças de maconha, ou de uma quantidade maior, serve tão somente como “justificativa calculada” para o protesto que se seguiu, afinal, considerando o lugar onde o evento ocorreu e as pessoas que dela participaram (facilmente identificadas pelos velhos e bem conhecidos clichés) o incidente revela uma forte componente ideológica.
Com efeito, como resultado de um processo sistemático de demonização da polícia, cujo objetivo é limitar sua força de ação diminuindo a moral do policial ao incutir que ele é um agente “opressor e do mal”, vemos que o enfrentamento da autoridade policial tornou-se hoje uma das formas mais “seguras” para a militância de diversas matizes ideológicas, todas tendo em comum o já ultrapassado (mas ainda reverenciado) viés marxista. Afinal, o policial sabe que qualquer uso da força, ainda que legítimo, será inevitavelmente desvirtuado pelos militantes que estão sempre a espreita com todo um aparato da mídia para registrar qualquer uma de suas ações. Isso dá uma margem de conforto aos que protestam de forma violenta, pois sabem que o policial, acuado, relutará em usar a força. Hoje, o máximo que ocorre aos manifestantes é serem autuados e, depois, liberados por outros militantes da mesma causa: advogados e promotores afoitos em defendê-los. Afrontar a autoridade policial tornou-se assim uma maneira corriqueira desses elementos encontrarem o seu nicho e, assim, se auto-definirem como comunistas, anarquistas etc., propiciando ainda se auto-afirmarem entre seus pares como militantes de uma causa mais ou menos comum.
Contudo, é provável que alguns ainda insistam que a pequena quantidade apreendida não justificaria uma abordagem policial como a que foi feita. Será mesmo? Mas, o que há de errado na ação dos policiais que não tenha sido unicamente confrontar um dogma imposto de forma autoritária por um conhecido segmento de professores, estudantes e servidores que afirmam de forma axiomática e inquestionável que “polícia não pode entrar no campus sem autorização da reitoria”? Há base legal para isso? Por acaso, as universidades são territórios sem lei, onde uma minoria de revolucionários marxistas determinam ao seu bel prazer as regras que todos devem obedecer? Admitir isso colocaria a administração central das universidades na condição de um feudo acima das leis do país (o que não deixa de ser a intenção de muitos, já que são todos revolucionários).
Mas, há um elemento que não pode ser negligenciado sob pena de perdermos o foco da questão. Como mencionei no início, vimos um desfile de pessoas questionando a ação da polícia, uns alegando que ela deveria ir atrás dos grandes traficantes e que a pequena quantidade aprendida não seria realmente um motivo para tanto. Será? Imagino, em essência, ser este o mesmo pensamento dos mensaleiros do PT (José Dirceu, José Genoíno etc.), quando afirmaram que o Único delito deles foi um simples “caixa-dois”. Ainda que fosse, vemos que a aceitação de “pequenos” delitos serve como justificativa para outros pequenos delitos que, posteriormente, podem originar graves problemas. De fato, perto do CFH (local onde ocorreu o confronto) há o Colégio Aplicação e uma creche. Ora, estes indivíduos que minimizam o fato, alegando se tratar de uma pequena quantidade de drogas aprendida, indiretamente parecem não ver problema algum no livre consumo e circulação de drogas no campus. Ora, mas o que devemos dizer então para os jovens adolescentes do Colégio Aplicação, tão próximos do “bosque do CFH”? Devemos realmente dizer a estes jovens que a ação da polícia não se justifica porque se tratava de uma pequena quantidade de drogas? O que fazer então se estes jovens se iniciarem no consumo de drogas levados exatamente por essa minimização do problema?
A magnífica reitora, Roselane Neckel, definitivamente demonstra não ter a menor capacidade de exercer sua função. Eleita com os votos dos estudantes, parece que se vê na obrigação de fazer todas as vontades deles. Na televisão, a magnífica reitora criticou a ação das polícias afirmando que a universidade já adota programas destinados ao uso “excessivo” de drogas, de onde ficou a impressão que a intervenção policial estaria dispensada pelo alcance desses programas. Que interessante!!!! Por acaso, magnífica reitora, não estaríamos aqui diante do mesmo discurso minimizador que apontei acima? Ora, se há programas para o uso “excessivo” de drogas, onde estão os programas para prevenir o uso, qualquer que seja, incluindo o não excessivo? Se existe realmente algo neste sentido, certamente que não procede a crítica da magnífica reitora a ação policial, pois era exatamente uma ação contra o uso de drogas no campus que os policiais federais estavam realizando. Mas, se não procede, então a razão da crítica da magnífica reitora seria uma mera jogada de sobrevivência política da atual administração, diante de um segmento barulhento ao qual ela deve sua eleição. Se for isso mesmo, então talvez fosse conveniente à magnífica reitora que considerasse deixar o cargo, pois os eventos lastimáveis que vimos no noticiário certamente envergonham muitos professores desta universidade, bem como toda a sociedade catarinense. Culpar os policiais federais e militares que atuaram no cumprimento da lei e em benefício de todos, acusando-os de agirem de forma violenta, quando as imagens mostram exatamente o contrário, que os violentos foram os professores, estudantes e servidores que acuaram os policiais e viraram os carros, é atitude inaceitável, oportunista, vergonhosa, indigna, que distorce os fatos, e dissonante com o papel de educadores que nós, professores, devemos cumprir. Será que os afazeres da atual administração fizeram a magnífica reitora esquecer que ainda é uma educadora?
A magnífica reitora Roselane Neckel está diante de um dilema, já que seus diletos alunos exigem que não seja mais permitida a entrada da polícia no campus. Isso é legal? Mas, por que a magnífica reitora deveria escutar apenas os seus diletos alunos? Não deveria escutar também os pais destes mesmos alunos, os professores e os outros tantos alunos da UFSC que defendem a presença da polícia no campus? Magnífica reitora, talvez como educadora, talvez como mãe, faça a seguinte pergunta: O que será que os pais dos alunos do Colégio Aplicação e dos muitos jovens que estão ingressando na UFSC este ano tem a dizer, sabendo que seus filhos estão próximos de um bosque onde há um segmento de professores, estudantes e funcionários que parece não ver problema algum na livre circulação e posse de drogas na universidade?
Neste imbróglio todo, eu vejo apenas um indivíduo que sai com o sentido de dever cumprido: cada um dos soldados da PM que ali estavam. Detentores de toda a raiva e ódio dos militantes marxistas que, com o discurso de desmilitarização da PM, juraram exterminar a instituição, estes soldados, ganhando bem menos que um policial federal, acabaram de forma inusitada sendo chamados para socorrer a própria polícia federal, então acuada e em perigo. Este lado, possivelmente cômico dependendo de quem vê, revela, contudo, um lado trágico: a falência do Estado. Mas, tem também um lado benéfico que serve de alerta. Enquanto não combatermos o processo de marxização das nossas universidades, fazendo uma leitura apropriada dos eventos e expondo as intenções ocultas dos seus militantes, enquanto perdurar um governo federal que se revela antinacional, serviçal de um partido onde algumas de suas lideranças são atualmente presidiários em tempo parcial, estaremos vendo a repetição desses fatos. Convêm, então, agirmos a contento diante da ameaça com que esses elementos nos afrontam.
*Marcelo Carvalho
Professor do Departamento de Matemática da UFSC