Universidade, democracia

“A universidade não pode ser incompatível com o regime democrático…”  (João Veras de Souza, doutorando do CFH, no blog do Moacir Pereira)

Já comentei que este artigo é de indigência factual perturbadora. É produto da lavagem cerebral que permeia (com as conhecidas exceções) o CFH e outras plagas (ou seriam pragas?) da UFSC.

O que o autor quer dizer é óbvio: se a universidade não se comportar como um sindicato, um clube recreativo, ou uma nação, onde todos tem direito de votar os dirigentes, ela será “incompatível com o regime democrático”. Dito de outra maneira: se os docentes, discentes e servidores não forem tomados como “cidadãos eleitores paritários” da “republica da universidade” ela será “incompatível com o regime democrático”. É isto que inculcaram na mente deste pobre doutorando do CFH.

Impossível encontrar-se besteirol maior.

Implica em dizer, segundo este doutorando do CFH, que instituições universitárias notáveis como Caltech, MIT, UCLA (com todos os seus campi) e Stanford são “incompatíveis com o regime democrático” norte americano.

Instituições como Oxford, Cambridge, Manchester, Universidade de Londres, são todas, segundo o besteirol padrão no CFH, “incompatíveis com o regime democrático” do Reino Unido, segundo a doutrina deste doutorando do CFH. E tudo isto porque essas instituições universitárias não operam com “repúblicas”, isto é, nelas alunos, servidores e a grande maioria dos docentes não são ouvidos na escolha dos dirigentes, sejam os dos Departamentos, dos centros (Schools, Colleges, Faculties) ou o Reitor. Pelo menos as 200 mais importantes universidades do mundo, segundo o ranking da Times Higher Education, (http://www.timeshighereducation.co.uk/world-university-rankings/2013-14/world-ranking )  não são “compatíveis com o regime democrático”, segundo o besteirol emanado do CFH pela letra deste doutorando.

E passamos, pois, através da doutrina que exala do CFH e proximidades, a explicar a países como Reino Unido, França, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Estados Unidos, Canadá, Austrália, e tantos outros, como suas universidades devem se estruturar para serem “compatíveis com a democracia”.

Nós (quer dizer o CFH e adjacências), estamos ensinando democracia ao mundo, mesmo que em alguns desses países o regime democrático seja já secular. É o cachorro magro e infestado ensinando o cachorro bem nutrido, bem dormido, bem lavado e vacinado a proteger-se das pulgas!

A que ridículo conduz a ignorância e a falsidade. Em meus 43 anos de universidade, jamais li tamanho lixo conceitual.

É preciso combater de público esta doutrinação perniciosa, até para levar à sociedade, que com seus impostos custeia a universidade, a mensagem de que a esmagadora maioria dos docentes, discentes e servidores administrativos dela (a doutrinação) não comunga e até a repudia, muito embora silenciosamente. Esta esmagadora maioria está preocupada mesmo é com suas obrigações: o docente em pesquisar, montar e manter laboratórios, e ensinar, o servidor administrativo, em cumprir sua importante função meio e os alunos em estudar, aprender, preparar-se para a vida e para o mercado de trabalho.

Já foi recentemente avaliado que os alunos receptivos a esta doutrina deletéria e engajados na luta pelo poder na UFSC, não passam de 1% do alunado total. Mas são ativos, barulhentos e até violentos (a Revolta da Maconha da UFSC não deixou dúvidas quanto a isto) como seus mentores docentes e sempre em busca de brechas para ocupar o poder onde ele se encontra: nos órgãos colegiados, nas chefias de Departamento e Direção de Centros e last but not least, na eleição do Reitor.

Temos, a parte saudável da universidade, que se preocupa apenas com seu dever funcional, de combater esta milícia do poder e do atraso.

Mas este combate é também da sociedade toda, que paga a universidade com seus impostos para que ela seja um instrumento valioso de formação dos melhores quadros do país e de geração do conhecimento e tecnologia que impulsionam o desenvolvimento.