Ustra e Marighella

Prof. Paulo César Philippi em seu texto do Boletim da APUFSC, “William, Adolf e Brilhante”, afirma que as pessoas são lembradas por suas obras. É um critério possível, desde que se tenha uma disposição real e objetiva de se ler a obra. Assim, já é um verdadeiro progresso o Prof. Philippi admitir que o coronel Ustra escreveu dois livros: “Rompendo o Silêncio” e “A Verdade Sufocada”. Resta agora lê-los. No primeiro livro, ele se defende de algumas das acusações de tortura que lhe são feitas e, no segundo, mostra com farta documentação as várias ações dos grupos terroristas de esquerda empenhados na implantação de uma ditadura comunista no Brasil, um período que se denominou de “luta armada”. É um direito de cada um dar credibilidade ou não ao relato das partes, da mesma forma que deve ser lembrado que muitos que acusam estavam envolvidos em ações terroristas, como o próprio coronel Ustra relata em seus dois livros. É uma pena que prof. Phillipi não tenha lido “A Verdade Sufocada”, pois, se tivesse, também veria o nome de cerca de 120 pessoas mortas pelos terroristas de esquerda. Afim de não deixar dúvidas sobre as intenções dos grupos da luta armada e de seus métodos cito a obra “Imagens da Revolução” de Daniel Aarão Reis, cabeça do grupo MR-8, ligado ao então MDB. Neste livro, Daniel Aarão coleta os documentos e programas dos vários grupos terroristas da luta armada que mostram nitidamente um caráter revolucionário e marxista, logo, todos estes grupos, sem exceção, não lutavam contra o regime militar para redemocratizar o Brasil, mas tinham por objetivo um projeto autoritário e violento que se vitorioso nos levaria a todos os horrores verificados nos regimes comunistas. Fica claro, então, que é impossível analisar o regime militar fora desse contexto de confronto entre agentes do regime e os que desejavam implantar o comunismo à força no Brasil. Também, seria ingênuo achar que todos os militares e agentes do regime torturaram, da mesma forma que seria ingênuo achar que todos os que se opunham ao regime usaram do terrorismo. Contudo, no Brasil, o número reduzido de mortes de um e outro lado (mesmo os ditos não contabilizados) quando comparado ao número de mortes em outros regimes ditatoriais na região como Chile, Argentina, Cuba (que certamente também tem seus números não contabilizados a aumentar a estatística) torna difícil uma estigmatização do regime como é usualmente feita, além do que, diferente dos outros regimes na região, havia uma certa atividade legislativa durante o regime militar, inclusive com um partido de oposição, o MDB, e outro que apoiava o regime militar, Arena,  que disputavam eleições, situação inusitada onde o povo poderia legitimar o governo, como o fez nas eleições legislativas de 1970 dando uma vitória arrasadora a ARENA, exatamente durante a fase mais dura da repressão, por conta das ações da luta armada.

É um fato lamentável que no vácuo de um processo revolucionário/contra-revolucionário que leva a uma quebra da ordem institucional, como ocorreu em 1964, o que se segue seja um regime autoritário. Se o regime de Pinochet foi brutal, o regime de Fidel Castro também nos dá um exemplo concreto de regime autoritário e brutal que ironicamente deu logística a vários grupos da luta armada que ainda hoje carregam falsamente a premissa de lutarem pela democracia. Assim, é um fato que tortura e terrorismo são dois efeitos degenerativos da luta, e não há nenhum heroísmo nisso, ainda que a esquerda insista em cultuar figuras nefastas como Carlos Marighella que em seu livro pernicioso, “Mini Manual do Guerrilheiro Urbano”, não escondia sua preferência pelo assalto e terrorismo como forma de luta. Neste livro, que ensina a como ser revolucionário, lemos absurdos do tipo

O terrorismo é uma ação, usualmente envolvendo a colocação de uma bomba ou uma bomba de fogo de grande poder destrutivo, o qual é capaz de influir perdas irreparáveis ao inimigo.

O terrorismo requer que a guerrilha urbana tenha um conhecimento teórico e prático de como fazer explosivos.

O ato do terrorismo, fora a facilidade aparente na qual se pode realizar, não é diferente dos outros atos da guerrilha urbana e ações na qual o triunfo depende do plano e da determinação da organização revolucionária. É uma ação que a guerrilha urbana deve executar com muita calma, decisão e sangue frio.

Ainda que o terrorismo geralmente envolva uma explosão, há casos no qual pode ser realizado execução ou incêndio sistemático de instalações, propriedades e depósitos norte-americanos, fazendas, etc. 

É essencial assinalar a importância dos incêndios e da construção de bombas incendiárias como bombas de gasolina na técnica de terrorismo revolucionário. Outra coisa importante é o material que a guerrilha urbana pode persuadir o povo a expropriar em momentos de fome e escassez, resultados dos grandes interesses comerciais.

O terrorismo é uma arma que o revolucionário não pode abandonar.

Curiosamente, esse infeliz do Marighella que via no terrorismo uma forma de luta foi exaltado durante a votação do impeachment na câmara por um deputado do PSOL (é, tinha mesmo que ser do PSOL!!!), e quase ninguém se deu conta disso. E aqui chegamos a um ponto importante para refletir: será que a Comissão da “Verdade” e nossos zelosos acadêmicos estariam dispostos a passar a limpo este período da nossa história assumindo seus projetos autoritários, ou seremos reféns eternamente da visão distorcida de elementos esquerdosos que esquecem que tortura e terrorismo ocorreram juntos na época? Talvez o maior medo dessas pessoas é ter seu passado revelado, já que hoje posam de defensores da democracia e até desfrutam algum status com isso, já que recebem polpudas indenizações. De minha parte, fixo minha consciência no que penso ser a verdade, e quando tenho em mãos um relato do coronel Ustra onde ele alega que não torturou, sou levado a ter dúvidas das acusações que lhe são postas, contudo, ao ler o nefasto Marighella e sua confissão que “terrorismo é uma arma que o revolucionário não pode abandonar” definitivamente tenho a certeza de que Marighella era um terrorista.

Mas, voltando à obra do coronel Ustra, “A Verdade Sufocada: A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça”, discordo da impressão que o prof. Philippi tem da obra (que talvez nem tenha lido) e acredito que o coronel Ustra fez um trabalho notável de anti-doutrinação dando um embasamento e expondo uma argumentação concreta sobre os fatos objetivos da nossa história recente, que não são ensinados. Cada um é livre para se alinhar com o que deseja acreditar, mesmo que a verdade passe longe.

 


Marcelo Carvalho

Professor do Departamento de Matemática