Bloqueio de verbas afeta diretamente a vida dos universitários

Estudantes de graduação em universidades federais tentam driblar contingenciamento com marmita, vaquinha e empréstimo, mas há impactos na formação

De falta de restaurante universitário até viagens técnicas barradas, os efeitos do bloqueio de verbas nas universidades federais vêm sendo sentidos por aqueles que estão na ponta: os alunos. É o que mostra reportagem publicada pelo jornal O Estado de São Paulo. Esses recursos cortados seriam usados, por exemplo, para o pagamento de terceirizados, contas de água e luz e também em obras. Com o contingenciamento  das verbas para essas despesas, muitas universidades  foram obrigadas a adotar medidas de economia.

Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde o corte das verbas de custeio significa  35% do orçamento, o Departamento de Assuntos Estudantis da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFSC suspendeu a análise de pedidos para o Programa Institucional de Apoio a Viagens de Estudo na modalidade de visitas técnicas, científicas ou culturais. 

Tal suspensão afetou a totalidade dos programas de mobilidade internacional – mesmo os intercâmbios previstos para  2020 também não serão liberados se os bloqueios não forem revistos. A economia afeta a vida dos alunos em vários níveis. A situação é tal que, na semana passada, às vésperas do recesso escolar, a direção do Restaurante Universitário chegou a emitir uma nota solicitando que os estudantes não utilizem o restaurante nesse período para que não faltem refeições no segundo semestre.

“Estamos propondo uma revisão de contratos com as empresas terceirizadas”, disse Áureo de Moraes, chefe de gabinete da reitoria. Segundo Moraes, além da suspensão dos editais da Secretaria de Relações Internacionais, houve suspensão de passagens e diárias para cursos e eventos, preservando apenas os casos de extrema necessidade.

O corte de um dos programas de intercâmbio surpreendeu o estudante de Economia da UFSC Vicente Heinen, de 21 anos. Selecionado em primeiro lugar, ele pretendia cursar um semestre em Buenos Aires, na Argentina. “Dois dias após o resultado, recebi a notícia do cancelamento”, lamenta. 

 

A realidade das universidades Brasil afora

O Estadão ouviu outras universidades do país que também relataram dificuldades para honrar os contratos de funcionários nas áreas de limpeza e segurança . Algumas delas preveem até a suspensão das atividades no segundo semestre. Bolsas e estágios suspensos tornou-se uma realidade comum às universidades federais.

Segundo especialistas, a falta de apoio a estudantes –  principalmente em um contexto de inclusão de alunos mais pobres nas universidades – tem impacto no engajamento dos universitários nos estudos, reduz  a possibilidade de dedicação a atividades complementares e também contribui para a evasão escolar. 

“O que faz a diferença entre uma boa universidade e uma medíocre é que, nas boas, os estudantes têm a oportunidade de aprender muito além da sala de aula, com intercâmbio, iniciação científica”, diz o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Leandro Tessler, especialista em ensino superior. “A formação é um conjunto de oportunidades que os estudantes têm.”

 

Universidade Federal do Paraná (UFPR)

A aluna de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Fernanda Vanzeli, de 22 anos, foi aprovada para viajar a Portugal com uma bolsa mérito de R$ 10 mil, mas teve o benefício suspenso por causa do bloqueio de verbas. Para cobrir o gasto, ela recorreu a uma vaquinha. 

 

Estudante de Engenharia Florestal da UFPR, Winicius Schaeffer, de 22 anos,  pretendia fazer uma visita técnica em Urubici (SC)  para estudos sobre infraestrutura, mas foi barrado. “Não esperávamos que isso fosse atingir a gente dessa maneira”, diz Schaeffer. “É difícil aprender sobre florestas dentro da cidade.” 

No fim de maio, a UFPR anunciou restrições a viagens para cidades a mais 300 km de distância por motivo de economia. Também resolveu suspender, neste mês, os serviços do Restaurante Universitário. Schaeffer apelou para as marmitas. Com R$ 400 por mês que recebe do estágio em um laboratório, almoçar na rua estava fora de cogitação. 

A UFPR informou que restrições não afetam apenas as bolsas de mobilidade, mas todas as bolsas de graduação –  de iniciação científica e de extensão. Os editais de mobilidade acadêmica para 2020 também dependem de condição orçamentária para serem implementados, segundo a reitoria. Além disso, eventos institucionais, como o festival de inverno, foram encurtados e a universidade recorre a patrocínios externos. 

 

Universidade Federal de Goiás (UFG)

Na Universidade Federal de Goiás (UFG), há incômodo com a infraestrutura. Sem poda, o mato alto cria insegurança e a redução de vigias aumenta o risco de furtos. Para economizar, a UFG teve que desligar o ar-condicionado durante a manhã e à noite. “O intuito é racionalizar o máximo possível, na tentativa de prorrogar o momento em que a instituição terá de parar suas atividades”, diz Robson Maia Geraldine, pró-reitor de Administração e Finanças da UFG. “Os atrasos no pagamento de fornecedores e prestadores de serviço já começam a incomodar as empresas.”

 

Universidade Federal da Bahia (UFBA)

A Universidade Federal da Bahia (UFBA), que tem R$ 48 milhões bloqueados, está funcionando em horário especial neste mês para economizar água e energia. A instituição suspendeu, ainda, 300 bolsas de monitoria e reduziu a limpeza de áreas externas. 

 

Universidade Federal do Acre (Ufac)

Na Universidade Federal do Acre (Ufac), que teve R$ 13,1 milhões bloqueados, 75 das 278 bolsas de iniciação científica foram cortadas  e os editais para bolsas de extensão e estágio foram suspensos. A Ufac também prevê o fechamento do Restaurante Universitário. 

 

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C.G./L.L.