A missão da universidade aqui e agora (7ª parte)

Por Rosendo A. Yunes

A democracia social e universitária: A democracia social e a universitária apresentam atualmente os mesmos problemas Por isto é necessário lembrar a obra de Alexis de Tocqueville que já nos anos 1835 e 1845 profeticamente observou os problemas intrínsecos a democracia de massas. (ver Jasmin M. “Despotismo e História na Obra de Alexis de Tocqueville” www. Iea.usp.br/artigos).

O dilema que enfrenta Tocqueville se manifesta na concepção de que a liberdade política na sociedade igualitária torna os indivíduos extremamente frágeis frente às opiniões das massas, a democracia para Tocqueville, depende de uma práxis e de um conjunto de valores cujos pressupostos tendem a ser destruídos pelo desenvolvimento intrínseco a própria democracia. Este analise nos pode ajudar a pensar o presente.

Ao analisar a democracia em Estados Unidos observa que “não há liberdade de espirito na América” e que existia mais liberdade de pensar e discutir nas monarquias absolutas europeias.

O maior perigo que Tocqueville observa na democracia de EEUU é o “individualismo” que cria uma situação que leva a desagregação social, “Cada americano só apela para o esforço individual da sua razão, se encerra estreitamente em si mesmo e dali pretende julgar o mundo”  Ele pensa que não depende de ninguém e assim isolamento, solidão, instabilidade são vinculados ao individualismo da época de “igualdade” de possibilidades, não de condições,  e assim destrói as condições de possibilidade pelas paixões públicas, de participação cívica, enfim do Homem Politico.

A crescente “indiferença” que cria o individualismo é o caldo de cultura da emergência de um novo tipo de despotismo: uma forma de dominação política inédita naquela época, que aparece branda e tutelar, mas degrada os homens sem atormentá-los, mantendo-os seus súbitos, à maneira de um pátrio-poder sem fim, na eternas minoridade política.

Apesar de individualista a sociedade democrática torna os indivíduos extremamente frágeis frente às opiniões da maioria, obrigando-os a sucumbirem à mesmice cultural e à mediocridade intelectual, A perda da independência da inteligência (critérios) e a impotência individual frente aos padrões hegemônicos tornam o individuo escravo da opinião comum e da média social, processo que aniquila sua liberdade.

A consequências são o despotismo democrático como denomina Tocqueville ao despotismo das maiorias ou o despotismo fundado no medo, na força militar. Tocqueville indica que uma nação que pede ao seu governo a manutenção da ordem “ é já escrava, no fundo do coração; é escrava do seu bem-estar e está prestes a surgir o homem que deve prendê-la com correntes”.

O individualismo de nossos  professores universitários é uma caraterística cultural produto de uma “copia” do modelo norte-americano de universidade. Existem distintos tipos de individualismo, o individualista que somente se preocupa por publicar, e que qualquer problema comunitário resulta uma moléstia, o individualista indiferente que somente se preocupa por viver sem problemas, aqueles que gostam de lavar as mãos etc.

Por isto é uma alegria quando se observa que respeito da greve de dias 2 e 3 de outubro votaram mais de mil professores que é aproximadamente a metade do total. Isto está demonstrando que a formação de cidadãos é praticamente nula em nossa universidade, como deve ocorrer em todas as federais.

No entanto, é de extraordinária importância não somente estar consciente da realidade de nosso tempo, vivenciando sua cultura, mas igualmente de participar nos processos que podem levar a construir uma sociedade mais fraterna y mais humana. 

A universidade tem sido, e continua sendo, uma instituição chave na formação de cidadãos e na construção dos assuntos públicos nas sociedades democráticas. Por isto, a universidade deve formar uma nova geração de cidadãos, não somente em questões técnico-instrumentais, mas fundamentalmente em questões ético-politicas.

Adequadamente Eduardo Bustelo, indica claramente: “Participar e educar são palavras intercambiáveis. Participar é educar e apreender, mas a educação é igualmente participação e aprendizado”

Evidentemente as áreas humanas da sociologia, filosofia, antropologia etc, são as mais inclinadas a discussões dos problemas públicos. No entanto, as genuínas funções da universidade:  pesquisar, ensinar e servir, significa  promover  a cidadania, compreendida como um complexo de direitos e obrigações para definir as regras da vida social, cujo último objetivo e manter um justo equilíbrio entre liberdade e segurança.

No ensino a Universidade deve dar sólidos critérios para pensar livre e autonomamente os processos, para tomar decisões políticas com razoabilidade. Mas igualmente, estimular a alegria de jogar um rol como agentes do desenvolvimento da sociedade

Na pesquisa deve pensar em gerar análises, debates e alternativas para a   compreensão e transformação das relocações sociais entre cidadãos e entre eles e o Estado.

Finalmente o serviço social pela promoção e defesa dos direitos dos cidadãos e com projetos em áreas que devem ser obrigação do Estado.

Assim, em lugar de pensar numa universidade democrática, como sempre há sucedido, podemos imaginar uma universidade desde seu original rol na sociedade, no sentido de sua autonomia, e de sua função de verdade e justiça, para contribuir com uma sociedade realmente democrática em todos os setores da vida humana, devemos conceber uma universidade para a democracia.

Conclusão: 1ro) Devemos evitar todo despotismo em departamentos, centros e estruturas universitárias, procurando professores que possam reagir contra o individualismo centrado no seu próprio ego, para participar das decisões que afetam a universidade e a sociedade. Estimular o trabalho em equipe.

                   2do) Internalizar o conceito de que educar e participar são dois conceitos que se podem intercambiar, porque participar é para educar e apreender e educar é participação e aprendizado., Assim, podemos construir uma universidade para a democracia real.

Professor Aposentado