Número de professores que pedem demissão da USP dispara

Universidade teve 73 pedidos de exoneração e 70 de licença não remunerada em 3 anos; evasão afeta áreas como computação

O número de professores que pedem para sair da mais prestigiada universidade do país deu um salto nos últimos três anos. De 2017 a 2019, 73 docentes pediram exoneração da USP, e 70 solicitaram afastamento não remunerado, mostram dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação. Nos três anos anteriores a esse período (2014 a 2016), foram 47 demissões a pedido e 23 licenças do mesmo tipo.

A crescente saída de professores está ligada a melhores oportunidades de trabalho no exterior e em outras instituições educacionais do país. Outros motivos citados por pesquisadores são a situação política do Brasil e os cortes na ciência, além de questões pessoais.

O aspecto salarial também veio à tona nos últimos dias, com a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, de equiparar o teto de vencimentos das universidades estaduais ao das federais. No caso de São Paulo, a medida elevou o limite de R$ 23 mil para R$ 39,3 mil por mês.

Ao defender a medida, reitores das estaduais paulistas citaram a saída de professores como uma das consequências da disparidade salarial, ao lado de aposentadorias antes da idade obrigatória e do baixo número de interessados em concursos de algumas áreas.

A reportagem conseguiu localizar informações sobre a situação atual de 42 dos 73 docentes que pediram demissão da USP nos últimos três anos. Cerca de metade deles (22) foi trabalhar, lecionar ou fazer pesquisa em instituições no exterior. Oito migraram para universidades federais e cinco para instituições de ensino privadas, principalmente na economia (Fundação Getúlio Vargas e Insper).

Já entre os que pediram licença não remunerada, há os que foram fazer pesquisa ou lecionar no exterior e os que partiram para outras instituições de ensino, como é o caso do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), licenciado do departamento de ciência política da USP e atualmente no Insper.

O ICMC (Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação) da USP, em São Carlos, é uma das unidades que mais perdeu profissionais na USP nos últimos anos.

Em julho de 2015 (dado mais antigo disponível), o instituto tinha 141 professores. Atualmente, são 126. O vice-diretor André Ponce de Leon Carvalho explica que, desde aquele ano, sete docentes efetivos pediram exoneração, nove temporários solicitaram rescisão e 16 outros educadores se aposentaram antes da idade obrigatória no serviço público (75 anos).

O êxodo, afirma ele, deve-se principalmente ao mercado internacional aquecido nas áreas de ciência de dados e inteligência artificial. Em regra, quem pede para sair é porque recebeu convite para sair do país, seja para migrar para uma instituição acadêmica ou uma empresa. 

Segundo Carvalho, além do salário, pesa na decisão do professor nessa situação a redução de verbas para a ciência no Brasil e o fato de as universidades estrangeiras, em regra, permitirem que o docente dê muito menos aulas e possa se dedicar mais à pesquisa.

Leia na íntegra: Folha de S. Paulo