Associação Brasileira de Ensino de Biologia divulga nota contra criacionismo

SBENBIO e outras 18 entidades divulgam nota contra Criacionismo e o Design Inteligente (DI), defendidos pelo presidente da Capes

A nomeação de Benedito Gui­ma­rães Agui­ar Ne­to para presidir a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) na última sexta, 24, tem causado reações da comunidade científica brasileira. Isso porque Benedito, ao contrário do consenso científico mundial, acredita na teoria criacionista e a defende como um possível “contraponto à Teoria da Evolução”. A afirmação foi feita em 2019, em um evento na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, instituição onde foi reitor por quase nove anos.

A Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBENBIO) e outras 18 entidades científicas e educacionais emitiram uma nota se posicionando sobre criacionismo e em defesa da laicidade da educação brasileira. Leia a nota a seguir:

A Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBENBIO) e as demais Associações Científicas abaixo assinadas vêm por nota reiterar seu posicionamento em defesa da laicidade da educação brasileira, princípio constitucional e entendida como requisito indispensável para uma educação pública, plural, inclusiva, democrática e de qualidade.

É com preocupação que verificamos a circulação em meio a representantes de órgãos educacionais oficiais do governo federal, exemplo da recém-nomeação do presidente da Capes, quem manifesta posicionamentos que equiparam ideias de cunho religioso a conhecimentos científicos, quando se trata de explicar a origem e diversificação da vida e do universo. Por isso, vimos reafirmar que o Criacionismo e o Design Inteligente (DI) não podem ser entendidos como alternativas científicas às teorias evolutivas, nem devem ser lecionados nas aulas de Ciências e de Biologia. Tais explicações não são científicas, pois, além de não serem resultado de investigações pautadas em atitudes, procedimentos, técnicas e métodos da Ciência, ainda abordam dimensões relacionadas a fenômenos sobrenaturais – o que a ciência não comporta com objeto de estudo.

O Criacionismo e o Design Inteligente são interpretações dogmáticas, uma vez que seus problemas e incoerências não originam novas questões para pesquisa que possam ser investigadas e discutidas pela comunidade científica. Além disso, essas visões religiosas para explicar o surgimento e as mudanças da vida já contam com espaços de divulgação e discussão nos diferentes locais de culto ou templos religiosos e não cabe à instituição escolar apresentá-las.

Também convém observar que, embora nos posicionemos veementemente contrários aos discursos que afirmam que as explicações criacionistas deteriam o mesmo status epistemológico que os conhecimentos científicos das teorias evolutivas, compreendemos que o cotidiano escolar é vivo e valorizamos sua diversidade.

Sendo assim, diferentes atores, praticantes ou não de religiões, circulam pelos espaços escolares e devem ter respeitado o direito de expressarem suas crenças, inclusive em aulas de Ciências e de Biologia. Afinal, em um Estado laico e democrático não cabe censura ou violência a nenhuma religião ou à falta dela. Por outro lado, também não é aceitável a promoção de determinadas crenças religiosas em detrimento de outras, nem que elas sejam lecionadas como se equivalessem a conhecimentos científicos.

Associação Brasileira de Ensino de Biologia, 25 de janeiro de 2020.

Além da SBEnBio a nota é subscrita pelas seguintes entidades:

Observatório da Laicidade da Educação – OLÉ

Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências – ABRAPEC

Sociedade Brasileira de Ensino de Química – SBEnQ

Associação Brasileira de História das Religiões – ABHR

Associação Nacional de História – ANPUH

Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia – ANPOF

Associação Nacional de Política e Administração da Educação – ANPAE

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPED

Associação Brasileira de Currículo – ABdC

Associação Nacional de Pesquisadores em Financiamento da Educação – FINEDUCA

Fórum Nacional dos Coordenadores Institucionais do Pibid e Residência Pedagógica – FORPIBID RP

Fórum Nacional de Diretores de Faculdades, Centros de Educação ou Equivalentes das Universidades Públicas Brasileiras – FORUMDIR

Centro de Estudos Educação e Sociedade – CEDES

Movimento Nacional em Defesa do Ensino Médio

Associação de Mães e Pais pela Democracia

Fórum Nacional dos Coordenadores do Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – FORPARFOR

Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação – ANFOPE

Anped

Fonte: Jornal da Ciência