Bolsonaro discursa em ato que pede o fechamento do Congresso e intervenção militar

Presidente se aproveita da pandemia para articular uma escalada anti-democrática no País

O presidente Jair Bolsonaro se encontrou neste domingo (19), no início da tarde, com um grupo de manifestantes que desfilava em carreata por Brasília contra a política de isolamento social. Vestindo uma camisa polo rosa e sem microfone, Bolsonaro subiu na caçamba de uma caminhonete e falou ao público por pouco mais de dois minutos, enquanto um segurança o amparava. “Nós não queremos negociar nada”, afirmou com a voz em tom máximo, entrecortada por tosse. “Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção, têm de ser patriotas e acreditar e fazer a sua parte para que possamos colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder.”

Por sua vez, os manifestantes pediam um novo AI-5, cobravam os fechamentos de Congresso Nacional e Supremo, clamavam por intervenção militar, além de gritar “Fora Maia”. “Estou aqui porque acredito em vocês”, disse o presidente. “Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil.” 

As condenações vieram de toda parte, resumiu o Meio, newsletter diária que reúne as notícias dos principais jornais do Brasil. “O mundo inteiro está unido contra o coronavírus. No Brasil, temos de lutar contra o corona e o vírus do autoritarismo. É mais trabalhoso, mas venceremos”, escreveu no Twitter o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. “Lamentável que o presidente da república apoie um ato antidemocrático, que afronta a democracia e exalta o AI-5”, escreveu João Doria. O ministro Gilmar Mendes, do STF, chegou ao ponto de retuitar o também ministro Luís Roberto Barroso — em geral, estão em constante desentendimento. “É assustador ver manifestações pela volta do regime militar, após 30 anos de democracia.” 

Diferentemente dos políticos, os militares não falaram em on — assinando suas queixas. Mas se incomodaram, conforme apurou o Estadão. “Se a manifestação tivesse sido na Esplanada, na Praça dos Três Poderes ou em qualquer outro lugar seria mais do mesmo”, disse um, pedindo resguardo do anonimato. “Mas em frente ao QG, no dia do Exército, tem uma simbologia dupla muito forte. Não foi bom porque as Forças Armadas estão cuidando apenas das suas missões constitucionais, sem interferir em questões políticas.” 

Na noite de domingo, as centrais sindicais publicaram uma nota conjunta em que repudiaram a escalada golpista liderada pelo presidente Jair Bolsonaro. “Sua participação em um ato em defesa da volta do famigerado AI-5, do fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, e pela ruptura da ordem democrática, prevista na Constituição de 1988, foi mais um episódio grotesco desta escalada.”

No texto, as centrais pedem que líderes políticos e da sociedade civil, representantes dos Poderes Legislativo e Judiciário, das instituições a ” cerrarem fileiras na defesa da Democracia para barrar os planos do atual Presidente de impor um regime autoritário e repressivo”.

Em uma carta aberta, governadores de 20 estados, entre eles o de Santa Catarina, manifestaram apoio à atuação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e contestaram as declarações do presidente. No texto, eles afirmam que consideram “fundamental superar nossas eventuais diferenças através do esforço do diálogo democrático e desprovido de vaidades”.