Após conversa com Bolsonaro, Decotelli ganha sobrevida e segue no MEC

Ministro foi alvo de questionamentos sobre inconsistências no currículo

O presidente Jair Bolsonaro decidiu manter o professor Carlos Alberto Decotelli no Ministério da Educação (MEC), apesar dos sucessivos questionamentos ao seu currículo e do anúncio de que sua posse, prevista para esta segunda-feira, 29, tinha sido adiada.  A decisão foi tomada pelo presidente Jair Bolsonaro, que ouviu as versões do professor e concluiu que ele tem “lastro acadêmico” e “reconhecimento como gestor”, depois de 42 anos de vida pública.

O presidente preferiu prestigiar a prática de vida em detrimento de “detalhes formais de currículo”. Bolsonaro chegou a procurar nomes para substituir o ministro, mas decidiu dar uma chance a Decotelli após a conversa.

Pelas redes sociais, nesta segunda-feira, 29, Bolsonaro escreveu que “por inadequações curriculares o professor vem enfrentando todas as formas de deslegitimação para o Ministério.” Ele, no entanto, disse que Decotelli admitiu que errou. “O Sr. Decotelli não pretende ser um problema para a sua pasta (Governo), bem como, está ciente de seu equívoco.” Bolsonaro encerra a publicação com elogios. “Todos aqueles que conviveram com ele comprovam sua capacidade para construir uma Educação inclusiva e de oportunidades para todos.”

Apesar da decisão do presidente, importantes assessores do governo continuam sondando nomes para substituir Decotelli, na suposição de que ele ganhou sobrevida no cargo, mas sua situação ainda é delicada e outras revelações desagradáveis ainda podem surgir.

Desde o fim de semana, quando a formação acadêmica de Decotelli  passou a ser alvo de contestação, auxiliares do presidente argumentam que os questionamentos inviabilizam totalmente o ex-professor no cargo, em um momento em que o governo tenta recuperar a confiança na pasta. Um outro grupo ponderou que mais uma mudança no MEC pode ser pior e alegam que outros ministros também já tiveram o currículo contestado, mas seguiram no cargo após a explicação.

Decotelli disse na noite desta segunda-feira, 29, que continua como ministro da Educação após uma série de inconsistências e erros terem surgido em seu currículo acadêmico, situação que fez o Palácio do Planalto repensar sua indicação ao cargo. Ele tentou minimizar as acusações, dizendo que são “apenas correções em relação a texto”. “Sou ministro, tenho trabalhos agora e vou ficar até de noite para corrigir os ajustes no Enem, Sisu”, declarou em Brasília. Ele disse não ter nenhum arrependimento. 

Inconsistências no currículo

Quanto aos questionamentos envolvendo o currículo, ele disse que o presidente “perguntou o que é essa estrutura de inconsistência, ele queria saber o que é isso”. O novo ministro enfrenta acusações de plágio na dissertação de mestrado, não obteve o título de doutor na Universidade Rosário, na Argentina, como chegou a divulgar, e a instituição alemã onde diz ter desenvolvido um pós-doutorado nega que tenha concedido tal certificação. 

Ele apresentou justificativas para as três situações. Sobre a acusação no mestrado, ele negou que tenha havido plágio, mas admitiu uma “distração”. “Você lê muito (no mestrado), tem que obrigatoriamente ter disciplina mental para escrever, revisar e o que você citar tem que mencionar. E aí fica mencionando, registrando e ponderando. É possível haver distração? Sim, senhora”, disse. Mas ele disse que plágio ocorre quando há “CtrlC+CtrlV”. “Não foi isso.” 

Quanto ao doutorado na Argentina, ele reiterou que completou os créditos do curso, mas não teve condições de voltar ao país para apresentar a tese depois de uma adequação sugerida pela banca. “Já com dificuldade financeira, porque não houve bolsa, não voltei para apresentar o aperfeiçoamento e fazer uma nova submissão. Fiquei com o diploma de crédito concluído.” 

Quanto ao pós-doutorado na Alemanha, ele disse que a pesquisa, que envolvia uma análise sobre o agronegócio, foi concluída. “Na hora em que foi concluído o trabalho tinha que ser registrado num cartório acadêmico e no cartório tem lá a pesquisa completa registrada.”

Fonte: Estadão