Gravação de aulas síncronas divide professores na UFSC

Resolução aprovada pelo Conselho Universitário preve que a gravação das atividades não é obrigatória

A três semanas do início das aulas remotas na UFSC, professores estão divididos sobre a gravação das atividades síncronas (ao vivo) para disponibilizá-las aos alunos. Na resolução aprovada pelo Conselho Universitário ficou definido que os docentes não são obrigados a gravar as aulas.

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) e a Associação de Pós-Graduandos (APG), no entanto, defendem a obrigatoriedade e pediram que esse item seja revisto. Enquanto aguarda nova reunião do CUn, a categoria estudantil se organiza para levar suas demandas aos colegiados de curso, que podem incentivar os docentes a disponibilizar o conteúdo das aulas síncronas para acesso posterior.

As entidades e uma parcela dos professores argumentam que a gravação das videoconferências e disponibilização dos materiais utilizados em aulas ao vivo são essenciais para amenizar os problemas gerados por má conexão de internet e mudanças na rotina dos estudantes. Do outro lado, professores temem que a liberdade de cátedra seja afetada e reforçam seus direitos de imagem e autoria. 

Aulas síncronas gravadas

Dentre os que defendem que as aulas sejam gravadas está o professor Paulo Pinheiro Machado, do departamento de História, no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH). Para isso, diz que é necessário garantir segurança jurídica aos docentes e melhorias na infraestrutura tecnológica na universidade. “A gente está lidando com essa situação de dificuldade de conexão, não só para os alunos que moram no meio urbano, mas também para os que moram em meio rural, e não são poucos. É uma questão real, que tem que ser enfrentada”,  afirma o Prof. Machado.

Outra parte dos docentes manifesta sua preocupação com a liberdade de cátedra, que assegura ao professor o direito de definir como transmitirá seu conteúdo. Com movimentos políticos que constrangem o trabalho em sala de aula, há quem tema que, em um ambiente virtual, trechos sejam descontextualizados e divulgados sem autorização de professores e alunos. “O uso de imagens e falas fora de contexto pode gerar potenciais problemas futuros”, diz o professor do departamento de Ciências Contábeis, no Centro Socioeconômico (CSE), Sérgio Petri. 

O professor não irá gravar suas aulas. “Só se houver muitas dúvidas de algum exercício, aí gravarei a resolução desse exercício”, pondera. Até o momento, sua ideia é realizar as aulas síncronas como se fossem presenciais, só que em um ambiente virtual. Assim que o semestre letivo tiver início, ele diz que irá conversar com os alunos para entender se houve alteração em seus horários de trabalho ou outras atividades, e então fazer os ajustes necessários. 

No departamento de Física, do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM), há um consenso de que as aulas síncronas devem estar disponíveis para que os alunos as acessem posteriormente, segundo o professor Jorge Douglas Massayuki. O problema, no entanto, é técnico. “Lembro que o sistema oficial da Universidade, que é o Webconferência, não permite gravar aulas pelos docentes. Isso ocorre porque a Setic [Superintendência de Governança Eletrônica e Tecnologia da Informação e Comunicação] diz que não há espaço suficiente para armazenar os dados”, afirma o professor. 

A UFSC estabeleceu uma parceria com a Google, que permite gravar uma vídeo chamada pelo Google Meet e armazená-la no Drive. O espaço para armazenamento e quantidade necessária de dados para upload dos arquivos também têm sido apontados pelos professores como dificuldades para gravação das aulas. Como o acordo entre universidade e empresa pode não perdurar o semestre, docentes que querem gravar suas aulas têm contratado serviços de tecnologia por conta própria. “Alguns professores fizeram uma assinatura com o Google para não ter problemas, outros assinaram o Zoom, como eu”, conta Massayuki.

Em reunião realizada na semana passada no Centro Tecnológico (CTC), professores da PUC-Rio foram convidados para compartilhar sua experiência de ensino remoto no curso de Engenharia Mecânica. Lá, o modelo remoto foi adotado em março e o semestre letivo já se encerrou. Na apresentação, eles recomendam “fortemente que as aulas síncronas sejam gravadas e disponibilizadas”, reiterando os pontos já discutidos na UFSC sobre presença dos alunos e problemas com conexão, além da utilidade da gravação para revisão de conteúdos e aprendizagem dos estudantes. Também foi recomendado que qualquer material usado na aula esteja disponível aos alunos.

Em pesquisa realizada com 215 alunos do CTC, 67,5% dos entrevistados indicaram que as videoaulas gravadas são o melhor formato para aulas não presenciais.

Limite de horas-aula ao vivo

Além da obrigatoriedade de disponibilização das aulas gravadas, estudantes exigem que o CUn estabeleça um limite percentual de atividades síncronas. A proposta também foi rejeitada em reunião do Conselho e aguarda revisão. 

Sem uma decisão central, departamentos têm orientado professores de maneiras distintas. Na História, a recomendação é que no máximo 50% das atividades sejam ofertadas ao vivo. Já nas Ciências Contábeis, esse limite sobe para 70%.

Direitos de imagem e autorais

Em entrevista à Agecom, a Secretária de Aperfeiçoamento Institucional e professora do Departamento de Direito da UFSC, Liz Beatriz Sass, enfatizou que professores não podem exigir que alunos liguem a câmera ou o microfone durante a participação em aula. É necessário informar no início da videoconferência que ela será gravada e posteriormente disponibilizada, além de dar a possibilidade de que a participação aconteça por mensagens no chat. 

Já os estudantes não podem gravar as atividades sem autorização. “Não é permitido ao aluno, seja por meios físicos ou digitais, disponibilizar os dados, a imagem e a voz dos demais colegas, assim como do professor, para uma finalidade diversa daquela que se tem numa aula de ensino remoto, que é a atividade didática, de ensino, sem que para isso se tenha a prévia autorização, e uma autorização específica para a finalidade que se pretende dar a esse material”, reforça a professora à Agecom. 

Do mesmo modo, caso professores apresentem em aula vídeos ou imagens em que terceiros possam ser identificados, é necessário que tenham suas autorizações. Essas preocupações referem-se ao direito de imagem, que diz respeito ao controle e uso que cada cidadão tem sobre sua própria imagem. Em aulas remotas, há ainda a questão de direito autoral, relacionada às criações feitas por uma pessoa. A gravação de uma aula, que pode envolver o direito autoral do professor e o direito de imagem de alunos e docente, explica a professora.

Imprensa Apufsc