Entidades publicam nota de repúdio contra ataque de deputado bolsonarista à professora de SC

Apufsc e outras 13 entidades estaduais, nacionais e internacionais ligadas à educação defendem a escola pública e a professora acusada de “doutrinação comunista”

Em defesa da escola pública e da pluralidade de ideias, 14 entidades assinaram uma nota de repúdio direcionada ao deputado estadual Jessé Lopes, do PSL, por perseguição política a uma professora da cidade de Antônio Carlos. As acusações do deputado bolsonarista, em sua conta no Twitter, apontam que a professora teria “induzido os alunos a acreditarem em lacrações progressistas sobre ʽracismoʽ e ʽfeminismoʽ” O deputado usou os termos racismo e feminismo entre aspas. A nota repudiando a perseguição foi publicada na última quinta-feira, dia 10, e destaca que tanto a professora como a escola cumprem o estabelecido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), no que diz respeito à diversidade étnico-racial. 

Na nota, as entidades ainda acrescentam que este não é um caso isolado, e que os ataques, embora direcionados a professores e professoras, também atingem os estudantes, pois implicam no cerceamento a uma educação plural e sem discriminação de qualquer ordem. “O acusador usa de seu lugar de poder como formador de opinião para veicular insistentes inverdades, destilar racismo e misoginia justamente contra quem deveria ser sujeito de agradecimento e de honrarias” apontam as entidades, referindo-se sobretudo ao momento de intenso e desgastante trabalho ao qual os docentes estão submetidos nessa época de pandemia. 

Jessé Lopes mantém um canal aberto, divulgado constantemente em suas redes sociais, para que estudantes e pais possam denunciar “doutrinação, balbúrdia e depredação de escolas ou universidades públicas de Santa Catarina” e se autointitula, por meio de uma hashtag, o ” fiscalizador do Estado”.

Confira a nota na íntegra:

As entidades abaixo listadas vêm a público manifestar seu repúdio à perseguição sofrida pela professora Claudia C. R. Monteiro, da escola EEB Altamiro Guimarães, localizada em Antônio Carlos (SC).

A escola pública chama-se assim justamente por abrigar variadas manifestações de pensamento, desde que não atentem contra as liberdades individuais e coletivas e contra os direitos humanos. Nos últimos tempos, tem sido atacada por indivíduos e grupos que não aceitam seu compromisso histórico. Inúmeros ataques são direcionados a professores e a professoras, mas também se estendem aos direitos dos/as estudantes a uma educação plural, sem discriminação de qualquer ordem.

Um dos mais recentes ataques à escola pública partiu do deputado estadual Jessé de Souza (PSL), adepto da alucinada tese da “doutrinação”, palavra que tem servido aos piores propósitos, sempre em nome de uma suposta proteção dos(as) estudantes. A agredida da vez é a professora Claudia C. R. Monteiro, da escola EEB Altamiro Guimarães, localizada em Antônio Carlos (SC). O acusador usa de seu lugar de poder como formador de opinião para veicular insistentes inverdades, destilar racismo e misoginia justamente contra quem deveria ser sujeito de agradecimento e de honrarias. Principalmente em um momento de intenso e desgastante trabalho ao qual os professores e as professoras estão submetidas(os) nessa época de pandemia.

A professora nada mais fez, ao ministrar conteúdos relacionados à temática indígena e afro-brasileira, do que cumprir a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), particularmente no que diz respeito ao seu Art 3o: “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios (…) XII – consideração com a diversidade étnico-racial”; e ao Art 26-A: “Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e da cultura afro-brasileira e indígena”.

Tanto a professora Claudia como a escola cumprem o estabelecido na LDB. O deputado, ao contrário, demonstra não somente seu total desconhecimento da lei, como também dá vazão ao seu racismo, machismo e misoginia.

É importante que as autoridades acompanhem as manifestações do parlamentar e o responsabilizem pelo seu comportamento reprovável.


Florianópolis, 10 de dezembro de 2020


AELAC – Associação de Educadores da América Latina e do Caribe
AENSC – Associação de Educadoras/es Negras/os de Santa Catarina
Alteritas: diferença, arte e educação – UFSC
ANFOPE – Regional Sul – Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da
Educação
APUFSC Sindical – Associação dos Professores da UFSC
CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
FEJASC- Fórum de Educação de Jovens e Adultos de Santa Catarina
FEPE – Fórum Estadual Popular de Educação de Santa Catarina
IEG – Instituto Estudos de Gênero
INDH/UFSC – Instituto de Memória e Direitos Humanos
NUVIC: estudos sobre violências – UFSC
SINTE – Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Santa Catarina
SINTE Regional Chapecó.
SINTRAM – Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público de São José.