Equipe da UFSC trabalha com dados inéditos captados por equipamentos complexos instalados no fundo do oceano

Sismógrafos do fundo oceânico trarão dados inéditos

Uma pesquisa que irá desvendar questões sobre as profundezas do mar está prestes a ter seus primeiros resultados processados pela equipe de cientistas do projeto Monitoramento Sismológico e Oceanográfico de um Segmento na Margem Sudeste do Brasil: Norte da Bacia de Santos ao Sul da Bacia do Espírito Santo, liderado pela Universidade Federal de Santa Catarina e coordenado pelo professor Antonio Henrique da Fontoura Klein. No artigo ​​New horizons in Brazilian Seismology: expanding seismic monitoring to offshore South East Brazil, os cientistas relatam e descrevem os dados coletados pelos sismógrafos instalados no fundo do Oceano e recuperados em um cruzeiro realizado entre os dias 12 e 25 de junho de 2020. A pesquisa tem a parceria do Observatório Nacional.

Fotos de divulgação

Estes são os primeiros sismógrafos de fundo oceânico (Ocean Bottom Seismometer – OBS) implantados para estudos sismológicos de longa duração em território brasileiro realizado por uma equipe de pesquisadores brasileiros. Sismógrafos são equipamentos utilizados para detectar os movimentos do solo. O pesquisador Diogo Luiz de Oliveira Coelho, pós-doutorando na UFSC e integrante da equipe, explica que estes, do fundo dos oceanos, são fabricados para suportar as grandes pressões no fundo do mar, por isso são mais complexos que uma estação sismográfica do continente.

A equipe ainda trabalha na análise dos dados, mas já identificou que os OBSs conseguem registrar os grandes terremotos que acontecem no planeta, além de um grande número de eventos sísmicos de curta duração. “Esses eventos de curta duração têm várias fontes potenciais, como micro-terremotos, atividades da fauna marinha e pequenas mudanças no solo do assoalho oceânico. Além disso, também podem estar associados às emissões de gases do fundo do mar”, conta o pesquisador. A vocalização das baleias e a movimentação de animais no fundo oceânico, como caranguejos e polvos, por exemplo, também são captados pelo aparelho.

O OBS é composto por duas esferas de um vidro projetado para resistir às grandes pressões. Sua instalação se dá em águas profundas e ultraprofundas, entre 1000 e 2000 metros. Nelas, há um sistema de comunicação e recuperação e de coleta e armazenamento dos dados. “Já no centro do equipamento existe um compartimento para o sismômetro, equipamento que registra a movimentação do fundo oceânico”, explica.

A instalação ocorreu em um cruzeiro realizado entre 24 de julho e 06 de agosto de 2019, com seis equipamentos erguidos até a superfície do mar por meio de um guindaste e posteriormente liberados para mergulharem em queda livre até repousarem no assoalho oceânico. Destes seis, cinco foram recuperados – quatro no cruzeiro de recuperação e um encontrado em uma praia catarinense. “Próximo ao local onde foram instalados os equipamentos, enviou-se um comando, através de um mecanismo de liberação acústico, para fazer com que os OBSs liberassem os pesos de concreto e flutuassem para a superfície do mar. A dificuldade em recuperá-los está associada às condições do equipamento no fundo do mar, onde qualquer problema pode acarretar na perda dos dados ou do equipamento, como aconteceu com um OBS”, diz Coelho.

Os dados registrados pelos sismógrafos serão tratados e analisados em diferentes frentes. O projeto pretende realizar o monitoramento sismo-oceanográfico para mapear atividades sismológicas, suscetibilidades a processos gravitacionais e conhecimento de massas de água e correntes associadas, bem como a presença de ondas internas que interajam com o substrato marinho. Isso servirá de subsídio para a análise de deslizamentos marinhos e para o planejamento de implantação de infraestrutura submarina.

Fonte: Notícias da UFSC