Servidor do CNPq queima e gera apreensão entre cientistas do país

Apagão afeta ações acadêmicas brasileiras e acende alerta sobre falta de investimentos no órgão de fomento à pesquisa

A ciência brasileira foi atingida mais uma vez, agora em sua principal fonte de informações. Já são quatro dias em que a plataforma do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), maior base de currículos de pesquisadores da América Latina, está fora do ar. Fontes do CNPq destacaram, à Revista Fórum, que a queda do sistema foi ocasionada pela queima de um controlador dos servidores, que são equipamentos que armazenam os dados. O episódio gerou uma onda de apreensão em toda a comunidade acadêmica, que atribuiu o episódio à crescente falta de investimentos em pesquisa no Brasil.

Funcionários do CNPq confirmaram, inclusive, que não sabiam dimensionar os danos por falta de backup.

O Sindicato Nacional dos Gestores Públicos em Ciência e Tecnologia (SindGCT) destacou, nas redes sociais, que a “situação é fruto do descaso e desmonte da ciência e tecnologia no Brasil”. Ainda segundo o sindicato, “a falta de recursos tem prejudicado enormemente a infraestrutura do CNPq e de seu quadro de pessoal”. Para o SindGCT, “os sistemas, por falta de investimentos, atualização e de visão estratégica dos dirigentes têm se tornado um verdadeiro gargalo para a realização das ações do órgão”.

“São milhares de informações da vida acadêmica, científica, das produções de pesquisadores que podem ser perdidas, o que significa um trabalho enorme de recuperar essas informações”, destaca o presidente da Apufsc, professor Bebeto Marques.

Para a professora Alexandra Boing, do Departamento de Saúde Pública da UFSC, o apagão tem impacto para os pesquisadores em relação a projetos, editais que ficarão parados e até mesmo pela insegurança que este acontecimento gera, causando perdas para a ciência e toda a sociedade. “Infelizmente o que estamos vivenciando é o desmonte da ciência no país, com falta de investimento, falta de reconhecimento e incentivo aos pesquisadores, que é consequência de uma política que nega a ciência e a tecnologia”. De acordo com Alexandra, o apagão dos dados do CNPq é “mais um problema que indica e reforça a falta de investimento, o descaso com a ciência brasileira e o sucateamento da instituição”, complementa.

O professor José Bonomi Barufi, do Departamento de Botânica da UFSC, reforça a gravidade dessa situação, uma vez que o CNPq tem papel fundamental no funcionamento do sistema científico e de pesquisa do País. “Me sinto prejudicado na escala pessoal, mas principalmente no coletivo”, diz. “Toda a comunidade científica brasileira sofre porque estamos falando do desenvolvimento científico e tecnológico de um país inteiro.” O professor lembrou também que o apagão traz prejuízos não apenas no âmbito nacional, mas também para o intercâmbio de informações com as comunidades internacionais.

Nas redes sociais na manhã desta terça (23), o CNPq destacou os esforços junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia para reestabelecer o sistema. Durante a tarde, o órgão de pesquisa enviou um informe, garantindo que a indisponibilidade já foi diagnosticada e os processos de reparação iniciados. O CNPq informou ainda que “já dispõe de novos equipamentos de TI e a migração dos dados foi iniciada antes do ocorrido. Independentemente dessa migração, existem backups cujos conteúdos estão apoiando o restabelecimento dos sistemas. Portanto, não há perda de dados da Plataforma Lattes”, afirma. A nota destaca ainda que o pagamento de bolsas implementadas não será afetado e todos os prazos de ações relacionadas ao fomento do CNPq, incluindo a Prestação de Contas,  estão suspensos e serão prorrogados.

Para o presidente da Apufsc, o episódio deixa o alerta. “Espero que a falha seja resolvida e que o CNPq tenha o backup desses dados. Mas isso mostra que o CNPq precisa ter mais cuidado com os dados científicos que o Brasil expõe na plataforma”. Para ele, também preocupa a falta de clareza nas informações. “O CNPq tem que passar segurança para as pessoas que se envolvem com pesquisa no Brasil”, expõe.

::: Confira a nota do CNPq na íntegra.

Imprensa Apufsc