Palestra de Daniela Arbex na UFSC prova que tão importante quanto salvar vidas, é salvar a memória

Aula Magna de abertura do semestre 2022.2 do curso de Jornalismo teve apoio da Apufsc-Sindical

Na última sexta-feira, dia 2, o departamento de jornalismo do Centro de Comunicação e Expressão (CCE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) promoveu uma aula magna com a jornalista investigativa premiada, a mineira Daniela Arbex. O tema foi sobre os bastidores do rompimento da barragem de Brumadinho, enredo de seu último livro de investigação publicado sob o título de “Arrastados”. A aula magna teve apoio da Apufsc-Sindical. 

No dia 25 de janeiro de 2019, às 12h28, a barragem desativada da Mina do Córrego do Feijão, explorada pela mineradora Vale na cidade de Brumadinho, Minas Gerais, rompeu. Seu rastro de lama, rejeitos de minérios e destruição deixou mais de 270 pessoas mortas, além do imensurável dano ambiental.

A jornalista reconstitui em detalhes as primeiras 96 horas após o desastre, a partir de entrevistas com sobreviventes, familiares das vítimas, bombeiros, médico-legistas, policiais e moradores das áreas atingidas. O desastre foi uma amplificação da destruição material, ambiental e de vidas humanas do rompimento da barragem de Mariana em 2015, que também era explorada pela Vale.

Auditório da Reitoria esteve lotado durante a aula magna (Foto: Erick Vinicius/Apufsc)

Após o crime ambiental, a mineradora instaurou um sistema de controle na região afetada, limitando o trabalho de jornalistas e dissuadindo a população a relatar injustiças nas comunidades afetadas, como a do Córrego do Feijão. Aliado a isso, a empresa financiou uma campanha publicitária milionária para diminuir os danos institucionais, ao mesmo tempo em que contratou os serviços das melhores advocacias do país. 

A apuração de uma jornalista que foi à campo com recursos próprios, o livro de Arbex é atualmente uma das fontes para as pessoas que investigam o caso que tramita na justiça. Contra o apagamento daqueles que se foram, a contribuição da apuração jornalística como produção de documento histórico.

Na palestra na UFSC, a repórter alertou que ainda existem 122 barragens que, apesar de estarem desativadas, não são seguras, pois o modo de exploração mineral em terras brasileiras constantemente se prova responsável pela destruição ambiental que afeta não somente os brasileiros, mas o mundo como um todo. 

No fim da palestra, Arbex ressaltou  que, apesar de o mercado jornalístico estar passando por uma crise em sua forma de financiamento, muitas produtoras de streaming nos meios audiovisuais ainda precisam de histórias que não só sejam bem contadas, mas também bem apuradas. Por isso o trabalho do jornalista ainda se mostra essencial para os novos meios, assim como na contribuição para democratização da informação para o debate público.

Daniela Arbex falou sobre “Arrastados”, seu livro mais recente (Foto: Erick Vinicius/Apufsc)

Quem é Daniela Arbex

Daniela Arbex é uma jornalista brasileira com quase 30 anos de profissão, dos quais a maior parte foi em contribuição com o jornal Tribuna de Minas, que cobre o interior do estado mineiro. Mesmo não fazendo parte do eixo Rio-São Paulo, a comunicadora publicou livros cobrindo eventos impactantes, como a noite do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Arbex tem cinco livros publicados: “Holocausto Brasileiro” (2013), “Cova 312” (2015), “Todo Dia a Mesma Noite” (2018), “Os Dois Mundos de Isabel” (2020) e “Arrastados” (2022); todos pela editora Intrínseca.

Além disso, seu primeiro livro virou documentário na HBO e série na Globoplay. Agora, a Netflix também está adaptando a obra sobre o incêndio na boate Kiss, “Todo Dia a Mesma Noite”.

João Mesquita
Imprensa Apufsc