Cientistas enfrentam discriminação e estigma relacionados à maternidade, mostra pesquisa

O estudo, que contou com a participação de 890 cientistas docentes brasileiros, faz parte do movimento Parent in Science, que visa discutir a parentalidade no ambiente acadêmico, com foco especial na maternidade

O preconceito contra as mulheres que têm filhos no meio acadêmico é uma realidade preocupante, de acordo com uma pesquisa recente realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O estudo revelou que as cientistas enfrentam discriminação e estigma relacionados à maternidade, o que acaba reduzindo sua participação no mercado de trabalho científico.

Liderada por Fernanda Staniscuaski, do Centro de Biotecnologia da UFRGS, a pesquisa foi publicada na revista Humanities and Social Sciences Communications, do grupo Nature. Ela destaca que as mulheres são alvo de uma visão negativa no ambiente de pesquisa devido ao estigma da falta de flexibilidade na academia. Isso significa que o sistema tende a punir aqueles que não se enquadram no modelo de “trabalhadores ideais”. Além disso, as cientistas relataram sentir uma maior pressão para conciliar as demandas adicionais após o retorno da licença-maternidade.

O estudo, que contou com a participação de 890 cientistas docentes brasileiros, faz parte do movimento Parent in Science, que visa discutir a parentalidade no ambiente acadêmico, com foco especial na maternidade. A iniciativa busca coletar dados e promover discussões para o desenvolvimento de políticas de apoio às mães no meio acadêmico.

Os resultados da pesquisa revelam que, no ambiente acadêmico, 63% dos pais não perceberam mudanças na forma como seus colegas e superiores avaliam sua competência e comprometimento após terem filhos. No entanto, apenas 35% das mães afirmaram não ter notado qualquer diferença nesse aspecto. As mulheres com menos de 15 anos de contratação foram as que mais relataram um viés negativo.

Quanto às avaliações de desempenho, 74,4% dos pais concordaram que foram avaliados de forma justa por colegas e superiores após o nascimento dos filhos. No caso das mães, apenas 52,4% compartilharam essa percepção. Em relação às oportunidades profissionais, cientistas do sexo masculino com filhos acreditam ter tido acesso a conquistas profissionais em uma taxa mais alta (71,8%) do que as mães (42,8%).

Um ponto importante da pesquisa é a diferença entre as licenças remuneradas. Enquanto a licença-maternidade varia de 120 a 180 dias, a licença-paternidade fica entre 5 e 20 dias. Essa falta de paridade contribui para a desigualdade de gênero, incentivando a necessidade de licenças longas ou compartilhadas para ambos os pais, a fim de criar um ambiente mais justo para as mães.

Modelo produtivista atual afeta principalmente as mulheres

Os pesquisadores da UFRGS destacam a necessidade de mudanças culturais no meio acadêmico. É preciso questionar a ideia de que dedicação implica em trabalhar todos os dias, sem férias, feriados ou fins de semana. É importante construir um ambiente em que outras formas de fazer ciência sejam valorizadas e naturalizadas. O modelo produtivista atual afeta principalmente as mulheres, mas também afeta qualquer pessoa que tenha outros papéis além do trabalho.

A pesquisa da UFRGS traz à tona um desafio importante para a comunidade acadêmica, ressaltando a necessidade de ações concretas para eliminar o preconceito e garantir a igualdade de oportunidades para as mães que desejam seguir carreira científica. É fundamental criar um ambiente inclusivo, flexível e apoiador, reconhecendo o valor das mulheres como profissionais e mães.

Fonte: Observatório do Conhecimento