Polícia Militar encerra aula de percussão que acontece na UFSC

Cerca de 30 pessoas participavam do ensaio de maracatu neste domingo quando foram interrompidas pela PM

Na tarde deste domingo, dia 21, uma viatura do 4º Batalhão da Polícia Militar (PM) de Santa Catarina, interrompeu uma aula de percussão do grupo maracatu Arrasta Ilha, dentro da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Desde 2002, o grupo se reúne aos domingos, a partir das 15h30, em frente ao Centro de Convivência da UFSC, para ensaios de maracatu. Segundo a assessoria de comunicação da PM, os agentes policiais atenderam uma ocorrência de perturbação de sossego gerada pelo 190.

Alexandra Alencar, professora do departamento de Antropologia da UFSC, rainha Arrasta Ilha e uma das coordenadoras do projeto, conta que na ocasião o grupo desenvolvia uma oficina de dança do maracatu, com cerca de 30 pessoas. Ela explica que o policial que mediou a situação não deu a opção de abafar os instrumentos, apenas disse que executaria diligência e caso continuassem, os instrumentos musicais seriam apreendidos.

Foi a primeira vez em 21 anos que o grupo precisou encerrar o ensaio, por determinação da PM. Alencar pontua que os agentes deixaram claro que apenas a documentação do projeto pelo Sistema Integrado de Gerenciamento de Projetos de Pesquisa e de Extensão (Sigpex/UFSC) não resguarda a prática. Enquanto o grupo busca assessoria jurídica e contato com a Reitoria da UFSC, as atividades continuarão em outros formatos.

Para Charles Raimundo, mestre maracatu do Arrasta Ilha, após a ação da PM “ficam algumas perguntas como: autonomia da universidade; leis municipais desconsiderando leis federais; e a própria Polícia Militar no campus, sendo que o campus tem segurança própria”. Ele acrescenta que o maracatu Arrasta Ilha se coloca a serviço de toda a comunidade, com uma prática ancestral e de conhecimento vasto, e que no domingo crianças, adolescentes e idosos participavam do ensaio.

Segundo Charles Raimundo, a PM alegou estar seguindo a lei de silêncio do município. (Foto: Redes Sociais)

A UFSC se manifestou sobre o ocorrido por meio de nota. Confira o texto na íntegra:

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) esclarece que o projeto de extensão “Coletivo Afro-Floripa: práticas percussivas e corporais da cultura de matriz africana e afro-brasileira na Grande Florianópolis” está cadastrado no Sistema Integrado de Gerenciamento de Projetos de Pesquisa e de Extensão (Sigpex) desde janeiro de 2021. E que desde 2002 o Maracatu Arrasta Ilha, uma das entidades envolvidas, realiza atividades de aulas práticas de dança e percussão no espaço público da Universidade.

O projeto está plenamente integrado aos objetivos e atividades-fim da Universidade, já tendo originado artigos científicos (pesquisa), colaborado para formação de estudantes de graduação (ensino) e levado arte e cultura para a comunidade (extensão), além de apresentar a Universidade a centenas de pessoas.

Por isso, a Universidade foi surpreendida e viu com estranheza a ação de policiais militares de interromper a aula de dança do Maracatu Arrasta Ilha que se realizava no domingo, 21 de maio, na área central do campus. A ação da PM, segundo os policiais, teria sido motivada por reclamações de perturbação do sossego feitas por moradores da vizinhança da Universidade.

Em vista do ocorrido, a UFSC está solicitando reunião com o comando da Polícia Militar para que o atendimento dessas ocorrências seja pautado pelo diálogo e busca de equilíbrio entre o direito ao sossego dos cidadãos e o direito coletivo de participar de manifestações culturais.

A UFSC reafirma que respeita a comunidade da vizinhança e apoia muitas de suas demandas e interesses, além de seguir as leis. No entanto, defende sua autonomia e liberdade para realização de atividades que também trazem benefícios à sociedade, como a valorização da cultura de matriz africana e da própria cultura brasileira, que é o caso do mencionado projeto de extensão.

Karol Bernardi
Imprensa Apufsc