Morte de Cancellier completa seis anos e imagem do ex-reitor começa a ser reabilitada, avalia a UFSC

No início de setembro, ele foi homenageado com a inauguração da avenida Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, no entorno da universidade

Nos seis anos de sua morte, lembrada nesta segunda-feira, dia 2, o ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Luiz Carlos Cancellier de Olivo tem a sua reputação reabilitada, avalia a Reitoria. A homenagem mais recente foi a inauguração, no início de setembro, da avenida Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, via pública construída em terreno da UFSC doado à população de Florianópolis para duplicação da rua Deputado Antônio Edu Vieira, no Pantanal.

Neste período, segundo a Reitoria, a universidade aperfeiçoou procedimentos de transparência, resolveu pendências administrativas e conseguiu retomar os cursos de Educação a Distância, área em que suspeitas de irregularidades motivaram a deflagração da Operação Ouvidos Moucos, em 2017, que resultou na prisão de Cancellier. Apurações e procedimentos do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre as denúncias não apontaram nenhum indício da participação do ex-reitor em irregularidades, informa a UFSC.

Para a Administração Central, “cada vez mais, consolida-se a ideia de que o ex-reitor Cancellier foi vítima de abusos e arbitrariedades cometidos por agentes públicos da área policial e judicial, além de sofrer com uma cobertura sensacionalista e superficial dos meios de comunicação”.

Injustiça

A morte do professor Cancellier é considerada um “momento traumático” pelo atual reitor da UFSC, professor Irineu Manoel de Souza. “A agressão da prisão e isolamento e o tratamento que ele recebeu da mídia constituíram-se a maior injustiça já ocorrida na UFSC. Assim a UFSC perdeu um reitor, um professor, um amigo”, afirma o reitor.

O reitor destaca que instituições como o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) já promoveram auditorias e procedimentos investigatórios sobre as denúncias, sem encontrar irregularidades relacionadas a Luiz Carlos Cancellier. “A injustiça ocorrida jamais será reparada pois perdemos o nosso reitor, perda essa não somente da UFSC mas de nossas universidades e outras instituições, que até hoje lamentam a triste injustiça ocorrida com o nosso Cau”, afirma o professor Irineu.

Recentemente, após o TCU arquivar uma ação de investigação do Programa Universidade Aberta sem apontar nenhum indício de irregularidade, o Sindicato dos Professores das Universidades Federais de Santa Catarina (Apufsc) publicou uma manifestação em vídeo sobre o episódio. “O ocorrido com nosso colega nunca mais pode ser repetido. Nenhum cidadão pode ser tratado como um criminoso, achincalhado na mídia, e na prisão ser despojado de suas vestes civis para usar roupa de prisioneiro, sem nunca ter sido condenado”, diz no vídeo o presidente da Apufsc, professor José Francisco Fletes.

O professor João dos Passos Neto, amigo pessoal do ex-reitor Cancellier, era Procurador-Geral do Estado à época da morte. Ele escreveu uma nota de pesar na ocasião e hoje, passados seis anos, reitera os seus termos. “Nela, eu primeiro observei que a morte de Cancellier enlutava Santa Catarina pela perda de um de seus filhos mais ilustres, um homem digno, de poucas posses, que devotou os últimos anos de sua rica trajetória profissional à nobre causa do ensino, da pesquisa e da extensão universitárias”.

No texto, o professor João dos Passos já alertava que as informações disponíveis indicavam que Cancellier padeceu sob o abuso de autoridade, seja em relação ao decreto de prisão temporária expedido contra ele, seja em relação à imposição de afastamento do exercício do mandato. Disse esperar que, entre os legados deixados pelo professor Cancellier, estivesse também o de ter exposto ao país a perversidade de um certo modelo de justiça criminal. “Hoje, eu reitero as minhas convicções e as minhas aspirações. Uma terrível injustiça foi cometida, e eu espero que tenhamos a humildade de aprender com ela”.

O professor Áureo Mafra de Moraes, que foi chefe de gabinete de Cancellier, reconhece alguns avanços mas ressalta que ainda estamos distantes da reparação dos abusos cometidos. “A cada ano o tributo à memória de Cancellier parece ganhar ainda mais relevância. Seja pelo ambiente institucional que passamos a viver no país – voltado a recuperar os princípios do Estado Democrático de Direito – seja pelas homenagens que são feitas seguidamente, como a Avenida ao lado da UFSC que recebeu o nome dele. Mas há ainda muito a ser feito para alcançarmos a justa e necessária reparação pelo crime que o Estado cometeu contra ele e todos os demais colegas presos”, diz Áureo.

Fonte: Notícias UFSC