Faltou governança à Superintendência de Governança

*Por Aureo Moraes

A gestão de TI na UFSC sempre foi exemplar…. Foi! Vamos lembrar do pioneirismo com um dos primeiros computadores instalados em SC; depois, a criação do antigo NPD, nos idos dos anos de 1980; a adoção dos cartões perfurados nos vestibulares; a oferta de e-mail para todos(as), no início dos anos de 1990; o CAGR, o CAPG, o sistema Solar (SPA)… enfim. As soluções para matrícula, o apoio incondicional na criação de ferramentas de gestão e de ensino nos anos da pandemia… Foram tantas as inovações e facilidades que custo a acreditar que esta mesma unidade administrativa – atualmente Setic – tenha cometido o “erro” de deixar expirar a licença de uso de softwares voltados a inúmeros cursos, em particular do CCE.

Foi uma decisão – para dizer o mínimo – desastrosa, açodada, irresponsável e negligente. E a tentativa de remediar resultou tão desastrosa e negligente quanto.

Explico: atuo há 30 anos como docente no Departamento de Jornalismo. Minhas áreas são, principalmente, o ensino de Rádio e TV. Já vivemos o uso das câmeras e editores de vídeo analógicos; já trabalhamos pedagogicamente com enormes gravadores de rolo, toca-discos de vinil; e fizemos a transição para os recursos digitais ao longo, pelos menos, dos últimos 25 anos, com resultados excelentes. Formamos centenas de jovens jornalistas com inserção privilegiada na atividade profissional. Porque aqui encontraram as condições de infraestrutura que, até hoje, situam o curso de Jornalismo da UFSC entre os melhores do país.

Óbvio que as avaliações são resultado de um conjunto de indicadores. E a infraestrutura é apenas um deles. No modelo do nosso curso, as disciplinas ditas “técnicas” são uma “sala Vip”, a oportunidade de apresentar aos calouros e calouras o Jornalismo do cotidiano, da prática reflexiva, da produção, da “mão na massa”. E invariavelmente nos valemos das TI&C para nos apoiar. Era assim pelo menos até o dia 20 de novembro deste ano…

A data, em si, é apenas um marco. O relevante de se trazer aqui é o que antecedeu aquele dia. Nas minhas turmas de 2ª fase, utilizávamos o software Audition, componente de um pacote da Adobe. Mas nas aulas a partir de 13 de novembro, o programa gerava uma mensagem, informando que “esta licença expira em 07 dias”.

Diante disso, um dos Técnicos do Laboratório buscou imediatamente informações junto à Setic. Abriu um chamado, a modalidade em uso atualmente na UFSC. Não obteve nenhum retorno. Somente ao final daquela semana (aqueles 07 dias da mensagem automática) houve uma resposta da Setic, por meio de nota, discretamente publicada às 16h20 de uma sexta-feira na página da Superintendência de Governança Eletrônica e Tecnologia da Informação e Comunicação.

E o que dizia a nota? Que a UFSC não iria renovar as licenças de uso dos softwares Adobe, por considerar que, “após uma análise realizada pela equipe técnica da SeTIC, considerando aspectos técnicos e econômicos, entendeu-se como não vantajosa a renovação de referido contrato.” E nos orientava, a mesma nota, “que os arquivos sejam salvos em outro local, seja em outro ambiente em nuvem (Google Drive, OneDrive, SeaFile, etc) ou em um ambiente local (seu computador). Após 20 de novembro deste ano, os usuários não terão mais acesso aos arquivos.”

Ou seja: quem se ocupava da finalização dos seus trabalhos de conclusão do semestre até aquela sexta-feira, no final da tarde, perdeu-os todos! Porque, na segunda-feira, deixaram de ter acesso aos seus arquivos. E sem a possibilidade de usar a ferramenta, tudo o que havia antes deixava de estar acessível.

As reações, no CCE, foram imediatas. Por e-mail, dirigido ao Departamento e aos colegas, aos demais docentes e TAEs do CCE e à Direção do Centro, com cópias ao GR e à Prograd, manifestei minha absoluta indignação. E pontuei que haveria mais de uma forma de conduzir a situação. As piores soluções, porém, haviam sido as escolhidas.

A partir daí, seguiram-se mensagens de colegas do CCE, todas com o mesmo teor, dando conta do irreparável prejuízo acadêmico e, especialmente, da inconcebível dinâmica daquela decisão. Ora – dizíamos – por qual razão não nos consultaram sobre os riscos de permitir que as licenças expirassem a menos de um mês do término do semestre? Que “aspectos técnicos e econômicos” são estes, que sobrepujam aqueles de natureza pedagógica? Onde foi parar a premissa quanto às prioridades da Setic,
tão bem formuladas na página da unidade?

Está escrito, assim mesmo, em seu site: “Atualmente a UFSC trata a informática como uma de suas prioridades, os investimentos feitos para aprimorar a qualidade do ensino (grifo meu) e agilizar as tarefas administrativas, são da ordem de milhões de dólares, o que faz do Setic um dos órgãos de destaque na universidade.”

Diante da repercussão até houve rápidas medidas por parte da Administração Central. Vários gestores se envolveram e, na quinta-feira, dia 23, a universidade anunciava que havia renovado o pacote de licenças. O que a nota da UFSC omitia, contudo, era que a decisão de renovar foi tomada somente depois das reações, da indignação e dos graves impactos na qualidade do ensino. A Administração tratou do caso como uma boa nova, não como a correção de uma grave falta de gestão. Finalmente, porém, a solução foi um fracasso.

Com a necessidade de instalação do novo pacote, os computadores de que dispomos não deram conta de suportar a instalação… Das 25 máquinas em uso no Laboratório de Áudio e Radiojornalismo, somente em três delas o programa novo está funcionando. Obsolescência… Isso para não mencionar estudantes que usavam as licenças em seus computadores pessoais, mas que agora não estão conseguindo usar. Provavelmente, muitos irão aderir, forçosamente, a programas sem licença, os criminosos “piratas”.

Por conta de tantos e tamanhos problemas, tivemos que encerrar as atividades da disciplina prematuramente, nesta segunda-feira, 27, sem que a totalidade dos estudantes tivesse conseguido concluir plenamente seus trabalhos. Informei às turmas que, quem não tenha conseguido terminar, será parcialmente avaliado, sem evidentemente qualquer prejuízo na nota. A frustração de muitos estudantes foi enorme… fruto daquela desastrosa, açodada, irresponsável e negligente decisão. E de uma solução tanto quanto.

Que doravante saibamos como antecipar casos semelhante – plenamente previsíveis – e garantir, de verdade, a qualidade e a excelência de nossas práticas pedagógicas.

*Docente do Departamento de Jornalismo/CCE