Quando até o Básico entra em colapso

*Por Fábio Lopes da Silva

Às vésperas do Natal e no exato dia em que a UFSC completa 63 anos, eu queria poder falar qualquer coisa, menos do assunto que vou abordar neste texto. O fato, contudo, é que aconteceu aquilo que mais temíamos e para cujo risco vínhamos alertando desde o início do ano: o Bloco A do CCE – o chamado Básico, primeiro prédio da universidade – colapsou. 

Já há algum tempo – depois de dezenas de solicitações de manutenção não atendidas –, havíamos interditado sete de suas salas por total falta de condições de uso (medida esta que foi recentemente corroborada pela Divisão de Saúde e Segurança do Trabalho da PRODEGESP). Mas o pior ainda estava por vir: na semana passada, em decorrência de problemas de impermeabilização da cobertura predial que se arrastam há anos, a água da chuva finalmente chegou aos dutos elétricos, deixando metade das dependências do edifício sem internet e sem energia. O incidente impõe o total fechamento do prédio, uma vez que, a par dos problemas já detectados, o perigo de incêndio ou de choque elétrico em qualquer ponto do sistema é agora enorme.

Obras urgentes de impermeabilização da cobertura, de troca de boa parte da fiação e de recuperação das salas danificadas são inadiáveis. Ou bem se as realiza antes do início do próximo semestre letivo, ou bem não teremos como alocar disciplinas no Básico. Para que  se tenha uma ideia do que isso representa, basta dizer que, no semestre que finda, 225 disciplinas regulares foram alocadas no segundo andar do edifício. Outras 25 disciplinas do extracurricular de línguas estrangeiras tiveram lugar nessas mesmas salas. 

Importante acrescentar que os reparos emergenciais mencionados ainda deixarão muitos problemas a descoberto, como a falta completa de bebedouros e a quantidade insuficiente de aparelhos ar-condicionado operantes. Se se leva em conta o calor previsto para os primeiros meses do semestre letivo vindouro, resta concluir que uma tempestade perfeita se aproxima.

Na última sexta, em reunião extraordinária para tratar desse assunto, o Conselho de Unidade aprovou carta a ser entregue no curso desta semana ao Magnífico Reitor. Nela, relatam-se as ocorrências arroladas neste artigo e pedem-se providências imediatas.

O que está acontecendo com a UFSC é, antes de mais nada, um crime contra o patrimônio público e histórico. O estado calamitoso do Bloco A é o símbolo maior do tamanho da irresponsabilidade com que esta universidade vem sendo gerida.  O prédio é a encarnação mais acabada do esforço de muitas gerações – um esforço que infelizmente está sendo posto a perder.

O que está acontecendo com a UFSC é, de resto, um crime contra a saúde pública – puro suco de negacionismo, se quiserem. Há responsáveis imediatos por isso, e muita omissão por parte de autoridades e da comunidade universitária em geral. O pior é que não chegamos ao fundo do poço. A continuarmos nesta rota de incompetência, descaso e dispersão – e não vejo motivo para crer que haja uma mudança de rumo no horizonte –, ainda temos muito o que afundar.

*Fábio Lopes da Silva é diretor do CCE/UFSC