Carta aberta de diretores de centro à comunidade universitária

*Por Edson Roberto De Pieri, Fábio Lopes da Silva, Fabrício de Souza Neves, Nilton da Silva Branco, Michel Angilio Saad e Rosete Pescador

Não é segredo para ninguém que a manutenção predial na UFSC tem deixado muito a desejar. Basta uma passada de olhos pelos edifícios e ambientes da Universidade para que se tenha uma ideia do grau de abandono a que estamos submetidos.

O caso mais grave e evidente é o estado dos aparelhos de ar-condicionado e bebedouros. A instituição está completamente despreparada para lidar com as altas temperaturas que devem marcar as primeiras semanas do semestre letivo que se inicia. Boa parte dos equipamentos de refrigeração está inoperante. Muitos dos que funcionam permanecem há anos sem higienização minimamente adequada.

A contratação de empresa especializada em serviços de manutenção e limpeza de aparelhos de ar-condicionado e bebedouros é de responsabilidade exclusiva da Reitoria. A gestão anterior – encerrada em 2022 – simplesmente não conseguiu (ou talvez nem tenha tentado) fazer essa contratação. Já a atual Reitoria apostou todas as fichas em um processo licitatório de grandes dimensões e alto custo, que visava contemplar todos os aparelhos de ar-condicionado da UFSC, independentemente de tipo, modelo ou capacidade. Ocorre que o contrato pretendido mostrou-se tão complexo e oneroso que acabou questionado e barrado pelos órgãos federais de controle (segundo informações da própria Reitoria e sua Prefeitura Universitária). Importante acrescentar que isso se deu a despeito de diretores de centro terem repetidamente sugerido que, ao menos em um primeiro momento, se elaborassem contratos menores, focados nas tarefas mais urgentes e indispensáveis, como a limpeza e recuperação dos aparelhos de ar-condicionado apenas em ambientes coletivos com presença de estudantes, como salas de aula e laboratórios de ensino.

Seja como for o fato é que, quando o contrato inicialmente concebido falhou, a Reitoria não tinha plano B para a solução do problema dos equipamentos de refrigeração. Só há umas poucas semanas – graças à pressão continuada de diretores de centro por vários meses –, uma alternativa foi finalmente proposta: a tentativa de adesão a alguma ata de serviço já existente em outros órgãos federais. Esse coelho tirado de última hora da cartola é cabível, mas revela uma notável falha no planejamento e uma incapacidade de ajustar as condutas às circunstâncias difíceis que a Universidade atravessa. Nada – a não ser a incompetência – explica por que não se implementou essa medida meses atrás, com muito mais calma e critério, quando havia tempo suficiente para atender as demandas dos centros e outras unidades da UFSC antes do início do semestre 2024/1.

Ainda que com imenso e incompreensível atraso, a decisão agora tomada pode ajudar? Talvez, mas, a -poucos dias do início das aulas de graduação (e às vésperas de uma greve de TAEs), seus resultados permanecem incertos. Não se sabe quando ou mesmo se os serviços de manutenção de equipamentos de refrigeração começarão a ser prestados.

Os usuários dos ambientes da UFSC estão sendo expostos a riscos e desconfortos completamente evitáveis. Pessoas mais sensíveis, imunossuprimidas ou com problemas respiratórios podem vir sofrer danos graves por causa de higienização deficiente dos aparelhos de ar-condicionado ou do calor excessivo. Outras correm risco de se contaminar em função do consumo de água sem tratamento ideal. Ora, é preciso dizer que há responsáveis por essas eventuais intercorrências: o reitor, a vice-reitora e os assessores por eles escolhidos.

A par do funcionamento indevido de equipamentos de refrigeração, vários outros problemas que hoje afetam a UFSC decorrem não apenas da falta de verbas mas principalmente da gestão inapropriada dos recursos humanos e financeiros disponíveis por parte da Reitoria. Exemplos disso são as paredes mofadas por infiltrações, as condições precárias de instalações elétricas, a falta constante de água em muitos prédios da instituição ou a ameaça representada por árvores apodrecidas, que podem desabar a qualquer momento sobre veículos e pedestres. A maior parte desses problemas é sistematicamente detectada pelas direções de centro e, ato contínuo, relatada às instâncias devidas (o que quase sempre se dá sem nenhum tipo de socorro da Administração Central e da Prefeitura Universitária, embora, no papel, sejam estas as responsáveis pela fiscalização e a prevenção de danos na infraestrutura geral do campus). No entanto, como no caso da manutenção de aparelhos de ar-condicionado, os serviços de reparo não acontecem, seja porque a Reitoria não consegue contratar empresa especializada, seja porque faz isso tardiamente (quando o volume de demandas já é muito maior do que a capacidade de atendimento), seja porque a voz de comando não circula adequadamente, de modo que as solicitações de serviços acabam se perdendo em um mar de burocracia e ineficiência.

Vale uma palavra sobre um tema caro à atual Reitoria: a inclusão. O assunto é sério demais para ser tratado apenas com palavras de ordem ou um conjunto de resoluções e dispositivos meramente formais. De nada adiantam belos discursos e regulamentos garantidores de direitos de minorias se, como acontece hoje, os problemas de infraestrutura passam a comprometer severamente as atividades de ensino, pesquisa e extensão. Por óbvio, só haverá inclusão se houver uma Universidade minimamente estruturada para acolher as pessoas. Falar em inclusão é pura demagogia quando temos uma Biblioteca que, por se inundar, precisa fechar as portas em dias de chuva; ou quando centros como CTC – que reúnem 10 mil discentes – têm que interromper suas atividades porque, depois de permanecer um ano com remendos e sem conserto apropriado, o cabo que fornece energia às salas de aula e laboratórios (sem um cabo reserva, como seria necessário) se rompe (mesmo depois de os diretores do CTC e do CCS terem dado reiterados avisos formais sobre o risco que havia). Não se faz inclusão em nenhum sentido prático da palavra se, como hoje é o caso, regiões inteiras da Universidade ficam sem iluminação externa por vários meses e ameaçam a integridade física de usuários; ou quando elevadores param de funcionar porque a água da chuva penetra nas máquinas (esse dado é ainda mais acintoso quando ficamos sabendo que setores administrativos ligados à Reitoria não vêm trabalhar presencialmente quando os elevadores dos prédios em que estão lotados não estão funcionando, ao passo que essas mesmas pessoas não veem nenhum problema em permitir que as atividades-fim da Universidade aconteçam em condições precárias).

Gestores não podem negligenciar investimentos essenciais em segurança e saúde da comunidade que vive e trabalha na UFSC. Nossos dirigentes precisam priorizar ações com sabedoria e usar criteriosamente os recursos disponíveis. A comunidade universitária e o contribuinte precisam saber, por exemplo, que setores administrativos do prédio da Reitoria foram autorizados a não comparecer às suas salas de trabalho porque estas tinham as paredes mofadas, enquanto um grande número de salas de aulas completamente insalubres seguia sendo ocupada por discentes e docentes. A comunidade universitária precisa saber que, no momento mesmo em que serviços básicos de manutenção lhe são sonegados, uma reforma milionária e obras de impermeabilização estão acontecendo no Prédio da Reitoria há meses. Que tipo de inclusão está sendo promovida quando esses erros de conduta acontecem ao mesmo tempo em que, por pura negligência dos responsáveis por manutenção predial e seus superiores, uma luminária despenca sobre o colo de uma aluna, causando danos físicos e psíquicos permanentes a ela? Ou quando a água da chuva escorre pelas paredes, invade dutos elétricos e deixa um rastro de mofo em salas de aula que diariamente, por horas a fio, recebem dezenas de estudantes de todas as etnias, credos e gêneros Isso é tudo, menos respeito a direitos de minorias e das pessoas em geral.

Os signatários desta carta sentem-se na obrigação de esclarecer a comunidade universitária a respeito do que se passa na UFSC. As pessoas têm ao menos o direito de saber dos riscos que estão correndo e de conhecer quem são os responsáveis pela grave crise em curso na instituição. Todos os que estamos expostos às condições degradantes de trabalho e estudo na Universidade precisamos unir esforços para fazer nossa parte (e muitas vezes ir além dela) pela conservação do campus, cobrando da gestão as providências necessárias para que possamos realizar nossas atividades com a dignidade, a saúde e a segurança a que fazemos jus.

*Edson Roberto De Pieri – Diretor do CTC
Fábio Lopes da Silva – Diretor do CCE
Fabrício de Souza Neves – Diretor do CCS
Nilton da Silva Branco – Diretor do CFM
Michel Angilio Saad – Diretor do CDS
Rosete Pescador – Diretora do CCA