Sobre problemas e suas soluções: o caso das formaturas na UFSC

*Por Fábio Lopes da Silva e Fabrício de Souza Neves

Como foi amplamente divulgado na imprensa catarinense, a greve dos TAEs gerou algumas intercorrências nas cerimônias de formatura agendadas para a semana passada na UFSC. Os colegas paralisados prepararam um roteiro para o evento em que só falariam um representante da categoria e o reitor. A fórmula foi rejeitada por várias turmas de formandos, que compreensivelmente, no momento mais importante de suas vidas acadêmicas, queriam garantir a realização dos discursos do paraninfo e do orador discente por eles escolhidos. Por sua vez, os diretores dos centros envolvidos se dispuseram a argumentar longamente a favor do pleito dos alunos, certos de que a manutenção de todas as falas não implicaria prejuízo algum à greve. Mas não houve acordo possível. A crise escalou até o ponto de estudantes impetrarem mandados de segurança para preservar o rito completo. Diante do impasse, a equipe do Centro de Cultura e Eventos cruzou os braços e passou a não mais se responsabilizar pelas formaturas até o fim da greve.

Na sexta-feira, dia 16, a Reitoria se reuniu com os diretores de centro para tratar do tema. Tudo o que a Administração Central tinha para sugerir era o que chamaram de “descentralização da cerimônia”, nome pomposo para a proposta de jogar no colo de cada centro a obrigação de arranjar espaço e pessoal para as formaturas. De nossa parte, aceitamos a delegação desde que o Garapuvu pudesse ser usado. Ao impor essa única condição para organizar as cerimônias, amparávamo-nos no fato de que não há outro auditório na UFSC capaz de comportar o enorme número de pessoas que acorre ao evento (em média, cada formando leva de 10 a 15 convidados). A única alternativa para o caso de não podermos contar com o Garapuvu seria forçar as turmas a pagar o aluguel por grandes auditórios fora da Universidade, o que evidentemente fere o princípio da inclusão tantas vezes alardeado pela atual gestão, mas do qual ela subitamente passara a abrir mão.

Para nossa surpresa, a Reitoria relutou em ceder o Garapuvu, mesmo depois que chamamos a atenção para o fato de que, por coincidência, no dia 17 de março, sábado passado, o auditório seria ocupado pelo show do músico Ivan Lins. Em vão, tentamos destacar a óbvia contradição entre, por um lado, ceder (mediante pagamento, claro) o espaço a um ente externo privado e, por outro, vedá-lo a diretores de centro. A alegação da Reitoria foi a de que o Garapuvu é de gestão complexa, exigindo o trabalho de técnicos especializados.

A essa altura da reunião, o Prof. Edson De Pieri, diretor do CTC, teve que lembrar os membros da Reitoria de que ele está à frente de um centro com alguns dos melhores engenheiros do país e que, de resto, capacita estudantes para desafios muito maiores do que os implicados pelo uso do Garapuvu. A essa manifestação seguiu-se uma breve troca de ideias no curso da qual todos os obstáculos vistos como intransponíveis pela equipe do reitor foram rapidamente vencidos por um conjunto de medidas simples elaboradas no calor da hora pelos diretores de centro.

Para que os leitores possam entender o que ficou acordado, tomamos a liberdade de reproduzir abaixo mensagem enviada logo após a reunião pelo diretor e o vice-diretor do CTC à lista de WhatsApp que reúne os diretores de centro. Nela, estão elencadas as tarefas que, graças às soluções por nós, diretores, elaboradas, ficarão a cargo de professores e voluntários do CTC; já as tarefas mencionadas na mesma mensagem que não exigem conhecimento técnico-científico específico serão assumidas em cada centro por colegas e discentes voluntários.

Caros, boa noite. Para nos tranquilizar e poder dar um retorno aos nossos formandos e formandas, aqui vai, em linhas gerais, o que planejamos para os formandos do CTC e que depois passaremos para os colegas de outros Centros:

  • cuidaremos da iluminação de teatro (não teremos os refletores de cena);
  • o som será instalado no palco;
  • a projeção do vídeo dos formandos será a partir de um projetor que instalaremos para projeção em uma das faces da parede visível ao público;
  • devemos ter pessoas nas entradas do Auditório controlando para não haver entrada de refrigerantes e alimentos;
  • daremos suporte para iluminação, som e projeção para as próximas formaturas de outros Centros que precisem usar o Garapuvu;
  • Becas e Capelos serão retirados no dia da formatura, devemos ter responsáveis pela distribuição e controle da devolução.

    Nossos encaminhamentos por enquanto:
  • Para a parte técnica, o CTC vai disponibilizar dois voluntários de nossos de graduação para cuidarem da iluminação, projeção e som, com duração de três meses. Escolheremos quem tiver experiência e, em condições de empate, quem tiver vulnerabilidade econômica;
  • para o controle de entrada do Auditório e das becas, precisamos de voluntários que pediremos para os formandos conseguirem;
  • Cerimonial será adaptado por cada Curso ou agrupamento de cursos do dia;
  • A Andreia do Centro de Eventos nos dará todo o suporte e orientação necessários.
    Os voluntários para cuidar das entradas e das becas passam ser de responsabilidade do Centro da vez,
    Conforme for necessário, vamos ajustando os procedimentos. Bom final de semana!

Edson De Pieri e Sérgio Peters

Os fatos falam por si: com um pouco de boa vontade, coleguismo e neurônios em dia, achou-se em um piscar de olhos a saída para aquilo que foi inicialmente apresentado como um enigma sem solução possível. O episódio revela um vício da burocracia que infelizmente parece grassar na atual Reitoria: enxergar problemas onde eles não existem ou tomá-los como algo muito maior e complicado do que, na verdade, são.

No fim das contas, desfazer o nó criado pelo impasse em torno da realização das formaturas não era lá tão difícil assim. E não é demais imaginar que o mesmo valha para uma série de outros temas atualmente enfrentados pela Reitoria como se fossem a decifração da Pedra Roseta: a elaboração de um contrato de aparelhos de ar-condicionado e bebedouros, a impermeabilização de edifícios, o conserto de banheiros, a pintura das fachadas e interiores de prédios, etc.

A UFSC tem saída.

*Fábio Lopes da Silva (Diretor do CCE)
Fabrício de Souza Neves (Diretor do CCS)