*Por Lino F. B. Perez, Marcos Ferreira, Maria Odete Santos e Paulo M. B. Rizzo
Vivemos um quadro de achatamento de nossas remunerações que coincide com uma grande diminuição dos orçamentos das Universidades Publicas. O orçamento das universidades e organismos que aportam recursos para o trabalho acadêmico sofreu queda brutal e paralisante. Uma única reposição salarial de 9%, autorizados pelo atual governo no ano passado, não pode ser considerada satisfatória, ainda mais frente à informação de que não está prevista nova reposição para este ano.
O momento exige luta e o Movimento Docente, por meio de suas entidades organizativas, compôs mesas de negociação e o resultado foi a negativa de espaço para as demandas de professoras e professores. Na nossa avaliação esse caminho parece ter se esgotado e a opção que se apresenta é a união de forças através de uma greve que já se aponta para ser nacional, como sempre fizemos em nosso movimento. Iniciativa já em curso pelos técnicos administrativos, que saudamos, com paralisação que alcança grande proporção e nos dificulta a continuidade de nossas atividades. Não podemos substituir o trabalho de nossos colegas tecnicos administrativos.
As avaliações que se apresentam são de que a greve é o instrumento que nos resta, o que já conta com apoio da maioria das Assembleias já realizadas no país. Como aposentados que já participaram da
construção e coordenação de inúmeros movimentos grevistas, só podemos colaborar na reflexão geral
sobre a forma de proceder nessa luta. Sabemos que não se trata de uma preferência. Nós professores
jamais gostamos de greve. Elas nos exigem enorme esforço e sempre honramos todos os nossos compromissos assumidos ao final de sua realização.
Sabemos, também, que cada movimento de greve exigiu inovação de procedimentos e rigor na definição das perspectivas a serem implementadas. Na mesma direção de assumir nossas responsabilidades, sempre buscamos ter uma profunda compreensão da conjuntura em que nossas iniciativas se inserem.
Porque na defesa dos interesses docentes sempre conjugamos algumas dimensões: 1) reposição e melhoria salarial, dentro de uma carreira bem estruturada; 2) defesa do fortalecimento das nossas Universidades; 3) o avanço democrático da sociedade brasileira; 4) o fortalecimento da categoria e de nosso sindicato, de forma autônoma, independente e democrática.
Todas as pessoas comprometidas com a construção da Democracia têm como foco hoje arrefecer o crescimento conservador e debelar o fascismo. Esse é o único caminho para a garantia de direitos (inclusive de liberdade de expressão e de docência); de construção de relações solidárias e interesses gerais de acadêmicos; de construção de justiça social, assim como de atacar a desigualdade social no Brasil e no mundo.
Isto implica escolher de modo inteligente a forma de levar nossa luta. A hipótese de atuar na lógica de confrontar e aproveitar fragilidades do atual governo federal nos parece a que tem menores chances de produzir os resultados que buscamos. Sabemos que impasses exigem elaboração de métodos para a solução. Isso é marca de nossa fazer acadêmico, que nunca é uma segunda escolha profissional.
Nossa tradição de luta, que vem garantindo a existência da universidade pública, gratuita, na busca de qualidade crescente e com foco no interesse social, foi a trajetória que perseguimos em nosso movimento.
De pouco nos servirá ombrear com a mídia empresarial, com um Congresso Nacional marcado pela prática de extorsão e projetos contra interesses sociais, com a ganância latifundiária, com o fundamentalismo neopetencostal, com arroubos armamentistas e com as viúvas ou órfãos do lavajatismo. Todos, sedentos, para que a caneta, mesmo tirada da mão de seu comandante/fantoche, não seja usada para atender aos que o Estado deve, de fato, prestar contas. Todos interessados em sitiar aqueles que trabalham para desmontar o golpismo fascista que, aliás, não tinha sido sequer identificado em seu tamanho e manobra pela maioria dos analistas da conjuntura nacional.
Somos intelectuais e não embarcamos nas explicações fáceis e falsas construídas e difundidas pela mídia empresarial. Levantamos o véu e observamos o cabo de força que expõe a disputa pela riqueza social através da falácia da austeridade fiscal.
Em seu livro “A ordem do Capital – como economistas inventaram a austeridade fiscal e prepararam o caminho para o fascismo” (1), Clara Mattei nos demonstra a fusão da política e da economia para responsabilizar governos pelo apetite do capital financeiro.
Nesse contexto, Déficit Zero é o mantra do neoliberalismo. Não dizem para esquecer Marx – o comunista vil -, mas ousam dizer para que esqueçam o Lord John M. Keynes – aquele incipiente desenvolvimentista.
O capitalismo, em mais uma crise, exige que a pilhagem atinja setores cada vez mais amplo da populacao. A época em que o pobre, o trabalhador em geral, ainda estava na perspectiva do capital enquanto consumidor, já acabou. O novo mundo do trabalho coloca grande parte do corpo social enquanto consumidor de suas próprias ferramentas de trabalho. E o MEI segue em sua condição de atender às plataformas e de conduzir seu carro como se patrão o fosse.
Articular nossas iniciativas de busca de reposição salarial com o combate ao fascismo é o grande desafio neste momento. Vamos quebrar nosso silêncio frente às iniciativas que visam impedir o funcionamento do aparelho de estado, que tem como decorrência o impedimento da reposição de perdas salariais. A pressão para garantir déficit zero, a manutenção da desoneração da folha em dezessete setores da economia, assim como o impedimento da recomposição da carga tributária sobre combustíveis são exemplos de ocorrências usadas para restringir o espaço de manobra de quem deve dar respostas às nossas reivindicações. Todo dinheiro de nossos impostos deve atender aos interesses do grande capital.
Importa sermos capazes de enfrentar esses temas de interesse social geral, de modo articulado com a persistência na apresentação de nossas demandas. Ao mesmo tempo, faremos uma contribuição ao processo político nacional em busca de superação dos arroubos audaciosos da extrema direita em nosso país.
Pela reposição de nossas perdas salariais já em 2024 e nos anos subsequentes.
POR UM EFETIVO PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO JUNTO AO GOVERNO FEDERAL!
Em tempo:
Marielle Franco, PRESENTE!
Anderson Gomes, PRESENTE!
1.Mattei, C. A ordem do capital-Como economistas inventaram a austeridade fiscal e
prepararam o caminho para o fascismo.
*Lino F. B. Perez, Marcos Ferreira, Maria Odete Santos e Paulo M. B. Rizzo, docentes aposentados da UFSC