Aos docentes aposentados da UFSC

*Por Edna Garcia Maciel

As considerações desenvolvidas a seguir foram originariamente apresentadas na reunião do CR da Apufsc no dia 24 de abril. Têm como ponto de partida informações do site desse sindicato onde consta que, dos 2.750 associados, mais de 50% desse total, são de professores aposentados. Essa constatação numérica aparentemente simples e óbvia, quando analisada com mais cuidado, instiga indagações nada fáceis de serem respondidas. Afinal, como e por quê chegamos ao ponto em que a maioria de filiados do sindicato são de professores aposentados? Os novos docentes não se interessam pela sindicalização? Esse fato é algo localizado ou uma realidade nacional? Os sindicatos de trabalhadores não são mais necessários no mundo atual? Enfim, Frei Beto apresenta em seu texto intitulado, Cabelos Brancos, a preocupação com a formação política de seguidores ou continuadores capazes de substituir os cansados e velhos militantes. Fica a sugestão.

Nesse momento não é possível aprofundar razões que deram origem a esse quadro em que a maioria de associados é de aposentados, no sindicato local.  O que nos interessa é que novamente estamos diante de propostas que podem levar a um maior aprofundamento da enorme diferença salarial entre aposentados e professores da ativa. Já vai longe o tempo em que perdemos isonomia salarial entre aposentados e ativos. Apesar disso, o movimento sindical não aponta proposta alguma aos aposentados  e os deixam abandonados à sua própria 

Como disse o professor Lafaiete, aposentado da UFPR, espero que meus colegas compreendam esse desabafo e, mais do que isso, não criem polêmicas.  Lastimavelmente, continua o inspirado professor, é a terceira vez que nos governos ditos populares a carreira docente é atacada. 

A primeira vez, ocorre quando é criada a classe de Professor Associado entre a classe de professor Adjunto e a de Titular. Desse modo, foi possível dar aumento salarial aos professores da ativa e deixar a maioria dos aposentados como Adjunto 4 com uma perda salarial de cerca de 40%. 

A segunda vez, acontece em 2014, mediante um acordo do Proifes com o governo o qual confere acesso a todos professores Associados à classe de Titulares. Mais uma vez, os aposentados são preteridos.  

Nesse momento certamente estaremos fora de qualquer reajuste salarial devido à fórmula que propõe aumento em gratificações como vale alimentação, auxílio creche e subsídio per capita ao plano de saúde. Soma-se a isso, a proposta de aumento em itens específicos chamados de steps dentro de uma mesma classe – a do prof. Associado – inexistente na carreira antiga. Desse modo, os humilhados e desprestigiados velhinhos vão sendo discriminados. De cala boca em cala boca concedidos por governos sucessivamente, professores da ativa vão deixando os velhinhos no limbo salarial. 

Atualmente o salário de um professor aposentado como Adjunto 4, com doutorado e dedicação exclusiva, está reduzido a 10 salários mínimos, cerca de $14.000,00 – bruto, do qual são descontados: 27.5% – de IR; 11% – para INSS e 10% – Plano de Saúde. O que resulta num desconto total de 48.5%. Feitas as contas, os aposentados são compelidos a sobreviver com 6 salários mínimos. Para piorar ainda mais, os salários foram congelados nos governos Temer e Bolsonaro e, neste ano, o governo propõe congelamento mais uma vez. 

Na verdade, tudo que nos falta em salário, condições de trabalho, de recursos para pesquisa, dentre outros, escorre para banqueiros, agronegócio, igrejas, indústrias, fundações privadas da educação.  

Esperamos que a bancada petista tenha força para demover a posição do ministro da fazenda que insiste em sucatear as universidades públicas. Sua política econômica baseada na fórmula “fazer o bolo crescer para dividir”, foi testada pelo super ministro da fazenda Delfim Neto, durante a ditadura. Delfim Neto, bem sabemos, além de economista, era um excelente contador de piada, pois jamais acreditou na conciliação de interesses de classes. 

Por fim, cabe a pergunta: por que a diretoria da Apufsc se cala diante da maioria de seus associados? Até quando aceitará humilhações impostas aos aposentados? Por que aceita a existência de duas carreiras distintas: uma, para os aposentados e, a outra, para os professores da ativa?  É premente a necessidade de criar um plano de carreira que contemple professores aposentados e ativos como um ser coletivo indissociável. Caros colegas de cabelos brancos, é hora de mostrar coragem. Às lutas!  Nada temos a perder. 

*Edna Garcia Maciel é professora aposentada e membro do Conselho de Representantes da Apufsc